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As incubadoras sociais dos mais vulneráveis

O apiário da Co.Beehive foi um dos projetos apoiados pela criação da incubadora social Microninho da ADSCCL
O apiário da Co.Beehive foi um dos projetos apoiados pela criação da incubadora social Microninho da ADSCCL
D.R.

Integração: do empreendedorismo ao rap nas escolas, estas quatro associações querem dar ferramentas a diversos segmentos marginalizados da população para combater a desigualdade. O Expresso é media partner do BPI/Fundação “la Caixa” nos Prémios Solidariedade

As incubadoras sociais dos mais vulneráveis

Tiago Oliveira

Jornalista

A desigualdade continua a ser uma faceta da sociedade portuguesa, mas há quem se recuse a ficar de braços fechados. É o caso da ADSCCL — Associação de Desenvolvimento Social e Cultural dos Cinco Lugares, que “intervém, desde 2009, na promoção e criação de respostas sociais e inovadoras que contribuam para o desenvolvimento local sustentável, com foco na inclusão social de pessoas em situação efetiva (ou potencial) de exclusão ou vulnerabilidade social”, explica a presidente da direção, Liliana Simões. Foi por isso que criaram o Microninho, que se assume como a primeira “incubadora social em Portugal”, e que segundo a responsável “possui uma metodologia validada com mais de dez anos de aplicação”.

O próximo passo vai ser o Microninho+Imigrante — Incubadora Social e de Inovação, que consiste na autonomização “de agregados familiares imigrantes, em situação potencial ou efetiva de exclusão”, por via da “empregabilidade, empreendedorismo ou empreendedorismo social”. A previsão é “apoiar 50 famílias de imigrantes residentes no concelho da Lousã e concelhos limítrofes num raio de até 50 km” para “mobilizar uma metodologia eficiente e testada para a população imigrante, prevenindo e combatendo a exclusão social”.

Mais de €1 milhão foi distribuído pelo Prémio BPI Fundação “la Caixa” Solidário por 26 projetos (ver caixa) que representam um universo de mais de 3 mil beneficiários. Como é o caso do projeto (Re) Construir Vidas da ADDIM — Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres — a partir de uma “experiência demonstrada no terreno há mais de 24 anos, quer no apoio e proteção à vítima, quer em projetos de prevenção primária da violência implementados nas escolas do grande Porto”, revela a presidente da direção, Carla Mansilha Branco, O Projeto (Re) Construir Vidas quer “dar visibilidade à violência doméstica” ao destacar a “violência económica, uma das formas de violência muito presentes em grande parte dos relatos das vítimas e muitas vezes um aspeto inexplorado”, lembra. Por isso, com “diferentes temáticas e workshops”, pretende-se “proporcionar às vítimas de violência doméstica uma série de ferramentas e competências necessárias para uma melhor (re)inserção no mercado de trabalho” bem como o desenvolvimento de “competências pessoais e socioemocionais”.

“O papel da Associação Tempos Brilhantes (ATB)”, explica o gestor de projetos, Bruno Alves, “é promover e apoiar projetos de empreendedorismo social”. É o caso do “projeto RAP Nova Escola”, desenvolvido por Elton Malta, que “promove o estudo da poesia através de letras de rap e estimula a aplicação dessa matéria através da criação de músicas com letra e videoclipe da autoria dos beneficiários”. Tudo para que “ao longo de um ano os alunos adquiram uma série de ferramentas e habilidades que permitam aprimorar a sua capacidade de expressão” naquele que é “um trabalho de autodescoberta, autoconhecimento e autocompreensão”. Após já ter sido “testado em algumas escolas do ensino regular público, nas Caldas da Rainha e Óbidos, com alunos do 1º, 2º e 3º Ciclo”, o projeto vai chegar agora ao Estabelecimento Prisional de Leiria com o intuito de “abranger jovens com idades compreendidas entre os 16 e 22 anos, que ainda se encontram ativos na sua formação” para “ajudar a enriquecer o processo de reinserção social e profissional”.

“Contribuir para a resolução da insuficiência alimentar das famílias carenciadas da Terceira” é a missão da Astecia — Associação Terceirense de Combate à Insuficiência Alimentar “através da recolha e redistribuição indireta de excedentes e dádivas de produtos alimentar”, explica Diana Vieira. Surge assim o projeto Refeições para Todos, que quer “levar a comunidade local a refletir e desenvolver boas práticas para a redução do desperdício alimentar” de modo a “chegar ao maior número possível de famílias em situação de vulnerabilidade extrema”. O financiamento servirá, entre outras ações, para a contratação de “um colaborador em situação de risco de pobreza e exclusão social, facilitando a sua inserção na vida laboral”.

Cenário de crise global aumenta riscos

As comunidades mais expostas à falta de integração podem sofrer com subida de preços e instabilidade

O panorama é propício à incerteza e perante as possíveis consequências mundiais de um conflito no Médio Oriente, a que se junta um cenário de inflação e de possível recessão económica que dificulta qualquer análise, o medo é que as dificuldades económicas afetem as populações mais expostas e marginalizadas.

Segundo o “Pobreza e Exclusão Social em Portugal: Relatório 2023”, elaborado pelo Observatório Nacional da Luta Contra a Pobreza, 20,1% da população residente no país encontra-se em risco de pobreza ou exclusão social, sendo que 16,4% está em risco de pobreza monetária, 5,3% está em situação de privação material e social severa e 5,6% da população com menos de 65 anos vive em agregados com intensidade laboral muito reduzida. Em 2022, entre os grupos mais vulneráveis ao risco de pobreza, destaque para os desempregados (60,1%), os estrangeiros com nacionalidade extracomunitária (34,1%) ou as mulheres (20,7%), com estas a terem os indicadores mais elevados na pobreza monetária (16,8%), privação material e social severa (5,9%) e intensidade laboral muito reduzida (5,8%).

A falta de acesso ao mercado de trabalho é um dos principais fatores de risco para a pobreza, sobretudo perante a volatilidade atual e, segundo Margarida Mateus, coordenadora de projetos da APPDI — Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão —, os grupos sociais expostos em situação de desigualdade “continuam à margem” e, “honestamente, ainda há muito para fazer” quando se tem que enfrentar, “em alguns casos décadas de descriminação”. Na semana em que o Governo apresentou mais de 270 medidas da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, Margarida Mateus acredita que são precisas mais “políticas proativas” que valorizem “pessoas com contributos válidos” mas que se encontram “em desvantagem em relação ao mercado de trabalho”.

Distinguidos no prémio solidário

  • Associação Vale de Açor
  • O Companheiro, IPSS
  • Cáritas Diocesana de Viana do Castelo
  • Centro Padre Alves Correia
  • Beira Serra — Associação de Desenvolvimento
  • Comunidade Vida e Paz
  • Associação Terceirense de Combate à Insuficiência Alimentar
  • Associação Tempos Brilhantes
  • Associação Casa do Voluntário
  • Ad Sumus — Associação de Imigrantes de Almada
  • ACRAS — Associação Cristã de Reinserção e Apoio Social
  • On The Road — Associação Humanitária
  • Associação Just a Change
  • Amargaia — Associação para o Desenvolvimento de Gaia
  • Ponto de Apoio à Vida
  • Liga de Profilaxia e de Ajuda Comunitária
  • ADDIM — Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres
  • Fundação Obra Social das Religiosas Dominicanas Irlandesas
  • Acreditar — Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro
  • Centro de Apoio ao Sem-abrigo, deleg. de Lisboa
  • Young Parkies Portugal, Associação Portuguesa de Parkinson Precoce
  • APAC Portugal
  • CDI Portugal
  • Associação Musical e Cultural das Ilhas
  • InPulsar — Associação para o Desenvolvimento Comunitário
  • Associação de Desenvolvimento Social e Cultural dos Cinco Lugares

Projeto Solidariedade

O Expresso é media partner do BPI/Fundação “la Caixa” para debater os desafios da solidariedade, do terceiro sector, das instituições que apoiam a infância, os jovens, os adultos, os seniores e as pessoas com deficiência.

Textos originalmente publicados no Expresso de 20 de outubro de 2023

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