Ricardo Reis apresentou a sua visão sobre a causa da inflação e o seu impacto nas taxas de juro
João Girao
Uma sucessão de erros na política monetária europeia, atraso na tomada de decisões pelo Banco Central Europeu (agravados pela guerra e pela crise energética) explicam, na perspetiva do economista Ricardo Reis, a subida abrupta da inflação e o seu reflexo nas taxas de juro. A convite da APDC e da Axians, o professor na London School of Economics, partilhou a sua visão durante um jantar com dezenas de empresários
Fátima Ferrão
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O final do jantar, que ontem reuniu cerca de 80 empresários num hotel em Lisboa, para ouvir o especialista em macroeconomia e economia monetária efinanceira, Ricardo Reis, transformou-se numa autêntica aula.
Dissecar a origem da inflação que assola a Europa e o seu efeito nas taxas de juro foi o ponto de partida para uma análise em cinco atos, na qual, o também colunista do Expresso, conclui que a situação económica atual da Europa resultou de uma sequência de fatores externos – como pandemia, quebra nas cadeias logísticas, crise energética e guerra -, que motivaram decisões menos adequadas e atempadas por parte do Banco Central Europeu (BCE). No entanto, o professor acredita que estamos num momento de estabilização e que a inflação cairá naturalmente. Já as taxas de juro, defende, “vão descer devagar”.
Ricardo Reis (à esquerda), economista, foi o convidado especial do jantar promovido pela APDC e pela Axians. À chegada, recebido por Rogério Carapuça, presidente da APDC e por Pedro Faustino, Managing Diretor da Axians Portugal (à direita). Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia (ao centro) também marcou presença
João Girao
Com algum sentido de humor, para acrescentar leveza a um tema denso, Ricardo Reis explicou que a conjugação de fatores que formaram a ‘tempestade perfeita’ começou a revelar-se ainda em 2021, com a surpreendente rápida recuperação económica no pós-pandemia. O aumento da procura gerado foi travado com os problemas nas cadeias logísticas e com a incapacidade de fornecimento da China à Europa, o que motivou a primeira subida da inflação. Um ano depois, os mercados assumiram uma posição mais cautelosa perante “uma política monetária presa às promessas dos últimos cinco anos, e sobre-confiante no legado das duas últimas décadas”. Resultado: inflação chega aos 10%.
Para adensar a trama económico-financeira, a tensão com a Rússia acelera a crise energética, que já se desenhava ,e que, através do choque energético, conduz a um novo aumento de preços e, consequentemente, da inflação. A boa notícia, explica o economista, é que, após uma tardia contração monetária, e um impacto retardado e mais lento nas taxas de juro, “assistimos finalmente a um alinhamento entre bancos e BCE e a uma confiança crescente nos mercados”. Feitas as contas, e apesar de algumas decisões menos adequadas do BCE, Ricardo Reis não tem dúvidas: “Não devemos culpar Lagarde, mas sim Putin”.
Plateia de empresários seguiu atentamente a partilha do economista e professor na London School of Economics
João Girao
Outras conclusões:
Empresários preocupados com preços crescentes da energia e com possível atraso no cumprimento das metas climáticas, o que pode ter impacto na economia e nas empresas.
Posição geopolítica da China determinará futuro das relações entre blocos económicos. Mercados estão expectantes com decisões de curto prazo.
Política assistencialista europeia que se mantém há três anos “não pode continuar”, diz Ricardo Reis em resposta à questão de um empresário porque contribui para aumento da pressão dos preços.