Chegou a hora das florestas. Haja vontade, incentivos e planeamento. Importa “acrescentar valor à floresta portuguesa”, aponta o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, o que é essencial quando “Portugal é um dos países da União Europeia mais vulneráveis às alterações climáticas”. Floresta que funciona também como um eixo de “revitalização das zonas rurais”, com a certeza que tal só acontece se “soubermos produzir gestão florestal ativa e sustentada”. Temos de “criar mais oportunidades económicas” para atrair mais jovens, e pessoas mais qualificadas, de modo a “fixar o talento”.
Declarações de intenções (e medidas) que especialistas e responsáveis querem ver acompanhadas de ações práticas que representem uma nova vitalidade para o sector perante os desafios e os ‘mitos’. “É necessário plantar mais florestas, de uma maneira inteligente e adequada aos respetivos territórios”, garante a professora do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, Helena Pereira. “É também necessário desde logo incluir um plano de gestão integrado e tendo presente as diferentes componentes de sustentabilidade.” A floresta é mais do que “fogo e eucaliptos”, as duas dimensões a que muitas vezes é reduzida “na comunicação social”. Há “vergonha de mostrar os bons exemplos em Portugal”, garante a coordenadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c, FCUL) e subdiretora do Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade (CHANGE), Cristina Máguas, para quem “conservar as florestas existentes, restaurar os ecossistemas florestais e reflorestar as áreas adequadas é essencial”. Estamos perante um “aumento da consciência ambiental” que afeta “o modo como o cidadão olha para as florestas como produtoras de matérias-primas, exigindo uma economia circular e cada vez mais renovável” e, nessa transição, o produtor florestal “passa de fornecedor de matéria-prima para um prestador de serviços, com múltiplas necessidades a responder, incluindo o fornecimento de um recurso renovável de grande prestígio”.
“A floresta tem sido historicamente um catalisador do melhor de Portugal e das suas pessoas”, acredita António Redondo, CEO da The Navigator Company, para quem “as florestas plantadas em Portugal estão na base de clusters industriais sem paralelo no tecido económico português”. “As florestas ordenadas prestam serviços inestimáveis que tendemos a dar por adquiridos e não valorizamos”, acrescenta o mentor e organizador do Greenfest Pedro Norton de Matos, até porque se ainda é “difícil quantificar o valor financeiro de muitos desses serviços de ecossistemas, se eles colapsarem, aí sim, passamos a dar valor...mas pode ser tarde”. Na opinião da coordenadora da área florestal da Agro.Ges, Nélia Aires, “a floresta é um ativo, e a base disto tudo é a economia”, pelo que “associar uma única função a um espaço florestal é desconhecer por completo as dinâmicas associadas aos ecossistemas”. É “totalmente compatível a função de produção e a função de conservação do património natural num espaço florestal”, considera, e lembra que a “ocorrência de incêndios rurais deve-se sobretudo à falta de gestão dos espaços florestais e à crescente acumulação de vegetação e de biomassa”.
“Desburocratizem e deixem-se de coisas, temos que facilitar” foi o apelo lançado pela presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Dina Duarte, que apesar de ter esperança numa gestão melhor, confessa: “Nunca vai haver zero incêndios, essa é a nossa fatalidade.” E diz mesmo: “Eu nasci no fogo.”
A floresta em números
do solo em Portugal continental é ocupado por floresta, numa extensão superior a três milhões de hectares
mil milhões de euros é quanto representaram as indústrias de base florestal em 2021, o que significa cerca de 5% do PIB e 10,4% do volume de negócios de toda a indústria transformadora nacional
é a fatia aproximada do total nacional que se estima que as exportações do sector florestal atingiram em 2022
Vamos falar de Sustentabilidade
O Expresso, em parceria com a Navigator, organizou o evento “Valorizar as Florestas: Pelas Pessoas e pelo Planeta”, uma conferência que faz parte do projeto “Vamos Falar de Sustentabilidade”. Objetivo: sensibilizar a sociedade para a importância das florestas plantadas e a forma como contribuem para conservar as florestas naturais, reduzindo a pressão de desflorestação sobre estas áreas.
Textos originalmente publicados no Expresso de 30 de junho de 2023
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