Porquê Portugal e porquê a hotelaria?
O meu marido e eu decidimos criar uma empresa juntos depois de sairmos da PWC e durante o meu MBA na London Business School. Analisámos várias oportunidades de negócio, incluindo empresas de Internet entre 1998-2000. No entanto, algumas das oportunidades que analisámos incluíam o imobiliário na Croácia e em Portugal até porque já tínhamos um pouco de experiência no sector em Zurique.
Portugal era ainda o país mais desconhecido da Europa Ocidental na altura em que chegámos, em 2001. Havia fundos da UE para infraestruturas rodoviárias e aeroportuárias e a Expo 98 tinha acabado de acontecer, o que deu início a uma reflexão estratégica nacional para promover o turismo. Havia um entusiasmo no ar, o que nos deu confiança para investir em Portugal. O povo português é muito acolhedor e fala muito bem inglês, o que é importante para o turismo internacional. Vimos uma oportunidade em Sagres e tomámos a decisão de investir em imobiliário nesta bela zona. A criação de uma marca hoteleira veio mais tarde, com a gestão do resort que tínhamos construído. A intenção inicial não era criar uma marca hoteleira de raiz.
Como é que foi influenciada pela evolução do panorama? Foi um fator na expansão do negócio?
Quando começámos a viajar com os nossos bebés, descobrimos que havia um nicho para estâncias de luxo centradas em famílias. Sentíamos que faltava algo e decidimos criar uma estância sofisticada e de 5 estrelas que fosse elegante, mas também amiga das famílias. Durante a crise financeira global, tivemos de sobreviver e a sobrevivência foi uma grande influência na decisão que tomámos!
Acredito em criar um impacto positivo com tudo o que faço. A criação de projetos âncora, como o Martinhal Sagres e o Edu Hub, por exemplo, é o que me entusiasma, com impacto na economia local e na vida das pessoas. A marca Martinhal foi criada com um forte propósito - que é ajudar as famílias a conectarem-se, relaxarem, aprenderem a serem ativas e saudáveis para que as suas vidas como família sejam melhoradas. Este é também o segredo do sucesso desta marca. A criação da United Lisbon International School foi também motivada pelo objetivo de ajudar a criar "cidadãos globais". Só sendo unidos é que podemos esperar resolver todos os grandes problemas deste mundo, como a segurança, a pobreza, as alterações climáticas, etc. A paixão por este projeto surgiu após o referendo sobre o Brexit e a eleição de Donald Trump. Na escola internacional, o Modelo das Nações Unidas e os objetivos de desenvolvimento sustentáveis são pilares importantes na educação das crianças para que se tornem cidadãos globais. A aprendizagem contínua é muito importante para mim até porque saí da minha zona de conforto várias vezes.
Os desafios para atingir estes objetivos foram grandes?
Dificuldades e desafios? Foram muitos!
Tivemos de enfrentar e sobreviver à crise financeira global como promotores imobiliários, quando fomos um dos poucos promotores imobiliários a terem ainda o seu projeto no Algarve depois de 2011. Não tinha formação em hotelaria, mas comecei uma marca hoteleira de raiz, em Sagres, durante a crise financeira global e quando Portugal estava a ser resgatado! Abri uma escola internacional de raiz em Lisboa, apesar da falta de experiência relevante em plena pandemia, em setembro de 2020, enquanto os nossos hotéis sofriam com o impacto negativo da covid-19 em 2020-2021, em que atingiram apenas 30% do negócio do ano anterior. Entre março de 2020, quando ocorreram os primeiros confinamentos e as viagens aéreas pararam, e março de 2021, tivemos de liderar a nossa equipa de vendas imobiliárias para vender com sucesso 30 apartamentos que foram cruciais para o nosso negócio. Além disso, sou mãe de quatro filhos e casada com o meu parceiro de negócios. Isso traz muitos desafios e é difícil conseguir equilibrar a vida profissional e pessoal.
Estar entre os 6 finalistas do EY Entrepreneur of the Year é por isso um reconhecimento do trabalho feito?
É uma enorme honra ter chegado ao top 6! Há tantos grandes empreendedores em Portugal em vários sectores que devem ter concorrido e os requisitos da EY eram rigorosos. Sinto-me orgulhosa por ter chegado até aqui!
Há apoio suficiente ao empreendedorismo em Portugal ou é preciso mais?
Há cada vez mais em comparação com o que acontecia há 22 anos, quando chegámos. O governo tem promovido várias iniciativas para encorajar as start-ups. A criação da "Fábrica de Unicórnios" pelo atual presidente da câmara de Lisboa é um excelente exemplo. Há um enorme reconhecimento de que o empreendedorismo é importante para a sociedade e para a economia. Também se está a reconhecer que as pessoas empreendedoras são necessárias para as grandes organizações. Talvez pudessem existir incentivos mais inovadores para que mais empresários iniciem as suas atividades e para que os investidores invistam em jovens empresas na fase de arranque - por exemplo, incentivos fiscais.
O que conta fazer para o futuro?
Os nossos planos são continuar a fazer crescer a marca Martinhal fora do país. Queremos garantir que isso é feito de forma sustentável. Temos de garantir a estabilidade financeira e o crescimento da equipa.
A vida em três atos
Música favorita
“All I Want Is You”, dos U2. “Tinha 17 anos quando ouvi pela primeira vez, recordo-me de me sentir muito emocionada”.
Objeto de que não abdica no dia a dia
“Pasta e escova de dentes! É o primeiro passo para me sentir bem no início do dia. Se estivesse presa numa selva, iria sentir-me bem com isso”.
Citação favorita
“Presta atenção aos teus pensamentos. Eles vão-se tornar atos. Presta atenção aos teus atos. Eles vão-se tornar hábitos. Presta atenção aos teus hábitos. Eles vão moldar o teu caráter. Presta atenção ao teu caráter. Ele construirá o teu destino”, Margaret Thatcher
“Ou arranjo uma maneira, ou faço uma”. “Era a frase de uma pessoa desconhecida para mim na altura, pendurada na entrada da minha casa em Singapura. Não sei quem a disse originalmente e pensei em procurá-la entretanto. A Wikipedia diz que talvez possa ser atribuída a Aníbal, quando os seus generais disseram-lhe que não seria possível atravessar os Alpes com elefantes! [No latim: Aut viam inveniam aut faciam]. Seja qual for a fonte, esta foi uma citação muito inspiradora para mim enquanto crescia”.
- Com arranque nos EUA em 1986, o EY Entrepreneur of the Year já se realizou em mais de 60 países,com um total aproximado de 10 mil candidaturas. Em Portugal,esta é a 9ª edição.
- Guy Villax, António Rios de Amorim, Dionísio Pestana ou Belmiro de Azevedo são alguns dos vencedores portugueses.
- Líderes como Jeff Bezos,da Amazon, Howard Schultz,da Starbucks, Michael Dell,da Dell Computer Corporation,ou Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, são alguns dos mais destacados vencedores internacionais.
- A seleção foi resultado de um processo que combinou a recolha de informação com uma entrevista pessoal com o empreendedor, realizada por uma equipa sénior da EY. A informação foi então integrada num dossier sobre cada candidato e entregue ao júri, encabeçado por António Horta Osório, para definir os seis finalistas entre todos os candidatos.
- Os principais critérios para avaliação do empreendedor são: propósito, crescimento, espírito empreendedor e impacto.
- Após nova reunião do júri para chegar ao veredicto final, o grande vencedor será conhecido numa gala a realizar a 29 de junho.
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