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Associações podem ajudar o Estado a diminuir o peso do cancro em Portugal

Associações podem ajudar o Estado a diminuir o peso do cancro em Portugal
José Fernandes

Doenças oncológicas são responsáveis por mais de 28 mil mortes anuais no país, um número que a Liga Portuguesa Contra o Cancro e a Europacolon acreditam poder ser reduzido se existir melhor organização dos serviços de saúde. Este será um dos temas em análise na conferência sobre a “Sustentabilidade e Resiliência do Sistema de Saúde Português”, no dia 20, com transmissão em direto no Facebook do Expresso

Francisco de Almeida Fernandes

A cada hora que passa, há uma pessoa que perde a vida para um cancro digestivo. São mais de 17 mil novos casos por ano de uma doença que, se não for detetada precocemente, tem custos na qualidade de vida dos doentes e um elevado peso nas contas do Sistema Nacional de Saúde (SNS). “Precisamos de uma política de prevenção mais efetiva. Essa política vai diminuir o número de doentes, mas vai também diminuir muitos dos custos do SNS porque tratar um doente num estadio inicial é bem mais económico do que fazê-lo numa fase mais avançada”, realça Vítor Neves, presidente da Eurocolon Portugal.

A associação que se dedica, desde 2006, ao apoio a pessoas que lidam com doenças oncológicas digestivas – como o cancro dos intestinos, do fígado, do pâncreas ou do estômago – lamenta que, mais de três anos depois do início da pandemia, os efeitos da covid-19 na saúde ainda se façam sentir. “Há cada vez mais doentes a chegar ao SNS com estadios avançados de doença e cada vez mais novos. Temos de perceber que a pandemia já passou e dar prioridade a atitudes preventivas”, reforça o responsável. Estima-se que possam ter ficado por diagnosticar, durante o período pandémico, cerca de cinco mil cancros em Portugal e mais de 1 milhão em toda a Europa.

“O Estado não é capaz de fazer tudo, é um facto. Tem é que se apoiar em instituições que o consigam ajudar", afirma Marta Pojo, da Liga Portuguesa Contra o Cancro

A importância do diagnóstico atempado é um diagnóstico há muito conhecido, assim como as suas vantagens a nível clínico, social e económico. Quando o Estado não tem capacidade para atuar, entram organizações não governamentais como a Europacolon ou a Liga Portuguesa Contra o Cancro, que todos os anos incentivam a participação da população em rastreios, apoiam a sua concretização e acompanham os casos positivos. “Atualmente, Portugal encontra-se no top quatro dos países europeus com melhor sobrevivência por cancro da mama e isso deve-se a um rastreio de base populacional bem organizado, e no qual a Liga está envolvida desde a sua génese”, enquadra Marta Pojo. A diretora de projetos da associação olha para este exemplo como um caso de sucesso que podia – e, na sua opinião, devia – ser replicado noutras doenças oncológicas, como os cancros da pele ou oral. “O Estado não é capaz de fazer tudo, é um facto. Tem é que se apoiar em instituições que o consigam ajudar e tenham esta facilidade de articular”, considera.

60.000

Número de novos diagnósticos oncológicos anuais em Portugal, um país onde morrem mais de 28 mil pessoas em consequência do cancro

Embora reconheça que a aposta na prevenção custa dinheiro aos cofres públicos, Marta Pojo e Vítor Neves asseguram que, por vezes, o investimento não é elevado e que será sempre menor se o Estado recorrer a organizações com experiência e provas dadas nesta matéria. “Há casos, como nos cancros da pele, em que uma cirurgia é curativa. E estamos a falar de cirurgia em ambulatório”, exemplifica a também investigadora no Instituto Português de Oncologia de Lisboa. “Mais do que uma questão financeira, precisamos de estar organizados, planear e ter prioridades definidas para eliminar burocracias e por os sistemas a funcionar”, acrescenta ainda Vítor Neves.

De acordo com o relatório da Parceria para a Sustentabilidade e Resiliência dos Sistemas de Saúde (PHSSR), uma iniciativa global criada em 2020, a colaboração entre os sectores público, privado e social na saúde é essencial para melhorar os cuidados prestados em Portugal. “A organização dos cuidados de saúde – as dimensões: rastreio, diagnóstico e referenciação” é precisamente o tema do debate da próxima conferência “Sustentabilidade e Resiliência do Sistema de Saúde Português”, que acontece já na próxima terça-feira, dia 20, a partir das 15h.

“A organização dos cuidados de saúde – as dimensões: rastreio, diagnóstico e referenciação

O que é

A Parceria para Sustentabilidade e Resiliência dos Sistemas de Saúde (PHSSR), estabelecida em 2020 pela London School of Economics and Political Science (LSE), o World Economic Forum (WEF) e a AstraZeneca, é uma colaboração entre organizações académicas, não-governamentais, das ciências da vida, saúde e empresas, que visa gerar conhecimento e orientar ações, através de relatórios que oferecem recomendações de políticas, baseadas em evidências, para melhorar a sustentabilidade e resiliência dos sistemas de saúde. Presente em mais de 20 países, em Portugal a iniciativa foi coordenada pelas professoras Mónica Oliveira, do Instituto Superior Técnico, e Aida Isabel Tavares, do Instituto Superior de Economia e Gestão.

Quando, onde e a que horas?

Terça-feira, dia 20, a partir das 15h, com transmissão em direto no Facebook do Expresso

Quem são os oradores da mesa-redonda?

  • Álvaro Beleza, diretor do Serviço de Imuno-hemoterapia do Centro Hospitalar Lisboa Norte;
  • Mónica Oliveira, professora catedrática do Instituto Superior Técnico;
  • Júlio Oliveira, presidente do Conselho de Administração do Instituto Português de Oncologia do Porto;
  • Teresa Machado Luciano, presidente do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta;
  • José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas;
  • Marta Pojo, diretora de projetos da Liga Portuguesa Contra o Cancro;
  • Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal;
  • Rita Moreira, vogal da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde;
  • Sérgio Alves, presidente da AstraZeneca Portugal.

Porque é que este evento é importante?

A sustentabilidade do sistema de saúde é um tema cada vez mais relevante, em especial numa altura em que os custos com os cuidados de saúde aumentam exponencialmente – à boleia do preço dos medicamentos, da investigação científica e inovação tecnológica. Apesar do Serviço Nacional de Saúde contar, em 2023, com um orçamento cerca de 10% acima do previsto para este ano, a otimização dos recursos e a gestão eficiente continuam a ser desafios com impacto na vida dos utentes. Depois da iniciativa PHSSR ter apresentado, em dezembro, um relatório com 43 recomendações para tornar o sistema mais resiliente, é agora tempo de refletir sobre como passar das propostas à sua implementação. A organização dos cuidados de saúde e a articulação dos seus recursos é não só uma preocupação manifestada pela nova Direção Executiva do SNS, mas também o tema do próximo debate organizado pela PHSSR e ao qual o Expresso se associa.

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