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“Se a capacidade de licenciar não se alarga, não muda nada”

O debate moderado por Rita Neves contou com Ricardo Guimarães, Pedro Brinca, Pedro Calado e Hugo Santos Ferreira
O debate moderado por Rita Neves contou com Ricardo Guimarães, Pedro Brinca, Pedro Calado e Hugo Santos Ferreira
Ricardo Lopes

No âmbito da 5ª edição dos Prémios do Imobiliário, o Expresso e a SIC Notícias organizaram, esta quarta-feira de manhã, um debate sobre a crise na habitação, precisamente um dia antes de ser aprovado mais um pacote das novas medidas Governo

Ana Baptista

O diploma que simplifica o licenciamento no âmbito do Programa Mais Habitação só deverá ser aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministros e os agentes do sector imobiliário estão expectantes em relação ao que virá no documento. Por um lado sabem que já foram ouvidos e que o prolongamento da consulta pública pode ter sido benéfico para fazer os ajustes necessários, mas por outro lado, não sabem se o conceito vai passar à prática. Este foi, por isso, um dos temas com mais destaque no debate desta quarta-feira de manhã, na Impresa, que juntou Hugo Santos Ferreira, Presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII); Pedro Calado; presidente da Câmara Municipal do Funchal;
Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário; Pedro Brinca, professor de Economia na Nova SBE e ainda Pedro Fugas, fiscalista da consultora EY Portugal, que fez uma apresentação no início do encontro. Estas são as principais conclusões.

1. Medidas e recuos positivos

  • O programa Mais Habitação continua a ser considerado pelo sector como sendo mais negativo do que positivo, mas tanto Pedro Fugas como Hugo Santos Ferreira consideram, respectivamente, que há medidas e recuos positivos.
  • Por exemplo, para Pedro Fugas, uma dessas medidas positivas diz respeito à descida do IRS para os rendimentos provenientes dos arrendamentos, que passa de 28% para 25% nos contratos até cinco anos. E se for um contrato de mais de 20 anos, o IRS sobre as rendas cai mesmo de 10% para 5%.
  • Já para Hugo Santos Ferreira, o recuo na retroactividade nos vistos gold foi um passo positivo. Inicialmente, o Governo queria acabar com o vistos gold de imediato, mas depois recuou e estipulou que todos os pedidos feitos até à entrada em vigor do novo diploma ainda seriam analisados e atribuídos.

2. Sector expectante

  • Para o presidente da APPII foi também positivo o Governo ter dito que ia criar um plano de cedências a privados dos imóveis do Estado e das câmaras para depois serem colocados no arrendamento e ainda o facto de estar a preparar um simples no licenciamento. “Mas agora vamos ver se o que em conceito parece positivo é também positivo na prática”, repara.
  • É que para Hugo Santos Ferreira, “o licenciamento é o maior estrangulador de oferta” e “se a capacidade de licenciar não se alarga, não muda nada”, acrescenta Ricardo Guimarães. Aliás, o diretor do Confidencial Imobiliário adianta que “na região de Lisboa temos visto cerca de 10 a 11 mil fogos a entrar em licenciamento, dos quais seis mil são atribuídos”.
  • Contudo, este não é o único entrave. É que, continua Ricardo Guimarães, dos seis mil fogos licenciados, só quatro mil são construídos, ou seja, “também há falta de capacidade construtiva, porque não nos podemos esquecer que este é um sector que ainda está no rescaldo da crise” e que agora estão a lidar com falta de mão-de-obra e com preços de construção mais elevados.
  • “As estimativas do Confidencial Imobiliário apontam para um aumento de 23% nos custos”, acrescenta.

Pedro Fugas, fiscalista da EY Portugal, fez uma apresentação sobre as medidas fiscais do Mais Habitação
Ricardo Lopes

3. Faltou diálogo e avaliação

  • “Há um desfasamento entre quem legisla e quem está no mercado. Tem de haver muito diálogo porque quem está a Governar não está no terreno”, diz Paulo Calado, dizendo que a câmara do Funchal não vai implementar o arrendamento coercivo, nem as medidas dos vistos gold e do Alojamento Local (AL). “Foi através do AL que fizemos a reabilitação urbana”, conta.
  • De facto, diz Ricardo Guimarães, “o Mais Habitação não envolveu a indústria e não se pode encontrar uma solução para o problema sem falar com a indústria”. Da mesma forma que “teria sido melhor ter uma radiografia do problema em que vez de ter medidas que não sabemos que doença estar a curar”, repara Pedro Brinca.
  • “Por detrás de cada medida do Mais Habitação gostava que fosse feita uma análise, as não, durante muito tempo tínhamos apenas um power point”, conclui.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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