Nas palavras do reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Emídio Gomes, a bioeconomia florestal e tudo o que engloba à sua volta assemelha-se a um “paradigma de opostos” entre a inovação e os obstáculos que subsistem. No entanto, um “caminho inevitável”, que trará uma “transformação profunda”. Mudanças que já estão a acontecer, garantem os responsáveis do sector e especialistas do mundo académico: “Estamos à beira de uma nova revolução, porque ela é necessária”, argumenta Adelaide Alves, que manifesta a ambição de “sermos realmente sustentáveis, não só pelo lado da inovação mas também pelo lado económico”. Para a diretora de R&D da Sonae Arauco, “a bioeconomia circular de base florestal tem grande potencial para contribuir para um projeto social inclusivo”, ao que acresce Portugal dispor “de poder de inovação”.
Na lógica de circularidade, Adelaide Alves garante que “o desperdício é a nossa matéria-prima”, lembrando “que a madeira é renovável e tem um potencial extraordinário para substituir no sector da construção diversos materiais de origem fóssil que são dos maiores emissores de CO2”. José Oliveira, diretor de Vendas, Marketing e Inovação da DS Smith Packaging, informa, por exemplo, que a sua empresa está “empenhada em desenvolver e produzir soluções mais circulares tendo por base os princípios de design circular”.
Papel do eucalipto
“Enfrentamos desafios sem precedentes”, na opinião do CEO da The Navigator Company, António Redondo, para quem se deve “reconhecer o lugar fundamental das florestas plantadas na transição para uma economia circular” e apostar na “industrialização do conhecimento técnico-científico e da inovação”. É “essencial que o poder político seja mais sensível ao conhecimento do que aos mitos”, avisa, em referência à fileira de eucalipto, com a certeza de que “a floresta é a nossa maior fonte de recursos não alimentares”. A aparente conotação negativa que atualmente prevalece sobre o eucalipto é criticada pelo sector, com Luís Mira, secretário-geral da CAP — Confederação dos Agricultores de Portugal, a afirmar que “o eucalipto não cresce mais porque política e ideologicamente não pode crescer”. O professor do Instituto Superior de Agronomia Francisco Gomes da Silva alerta mesmo quanto à vontade de “fazer da floresta apenas um sequestrador de carbono direto”.
“É muito importante olhar para o valor dos produtos que saem desta fileira e que vêm substituir produtos de base fóssil”, aponta Júlia Seixas, pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa, com a possível contribuição da indústria da pasta de papel para a substituição de plásticos de base fóssil a ser um dos exemplos. A biomassa — matéria orgânica, quer seja de origem vegetal, quer animal, que pode ser utilizada como fonte de energia — também é vista como uma contribuição positiva, apesar dos riscos, como demonstra um recente relatório de cinco associações ambientalistas (Quercus, Acréscimo, Biofuelwatch, Environmental Paper Network e Associação Nacional de Ambiente), que alega que o sector queimou quase três milhões de toneladas de biomassa em 2021, quase 60% das quais provenientes diretamente de operações de exploração florestal.
“A pegada carbónica é importante”, assim como “a aproximação da sociedade aos materiais verdes”, reforça o administrador executivo e diretor de Inovação e Project Management da Amorim Cork Composites, Eduardo Soares, com Gabriel Sousa, diretor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da Altri, a apelar a que o futuro “seja diferente do passado da indústria em Portugal”.
Bioeconomia florestal em Portugal
3,2
milhões de hectares são ocupados por floresta, o que corresponde a 36% do território. O eucalipto ocupa 26,2% da área florestal, equivalente a 845 mil hectares
1,5%
do PIB e €2,5 mil milhões de exportações é (aproximadamente) quanto representa a indústria de pasta e papel na economia, de acordo com a Biond
€500
milhões pode ser o impacto anual de uma gestão florestal articulada, segundo um estudo do BCG
Vamos falar de Sustentabilidade
O Expresso e a Navigator juntaram-se para debater o papel das florestas na transição de uma economia linear e fóssil para uma bioeconomia circular sustentável. Este debate, que teve lugar no Dia da Floresta, pode ser visto no online e nas redes sociais do Expresso.
Textos originalmente publicados no Expresso de 24 de março de 2023
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