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O futuro pertence a quem faz as perguntas certas

Manuel Lima, membro da Royal Society of Arts e TED Speaker, encerrou a conferência “Data with Purpose Summit: Vamos Falar de Dados?”
Manuel Lima, membro da Royal Society of Arts e TED Speaker, encerrou a conferência “Data with Purpose Summit: Vamos Falar de Dados?”
Ana Brígida

Informação: o volume de dados cresce com o mesmo ritmo exponencial que as organizações percebem o seu potencial para antecipar tendências, ao passo que alimentam as ferramentas de inteligência artificial que podem marcar uma nova era

Os números são tão grandes que desafiam a realidade, mas a verdade é que o universo dos dados ultrapassa todos os dias a fronteira do infindável. Ora vejamos: de acordo com o Statista, o volume de dados em 2023 vai atingir os 120 zettabytes, o que, para ter noção, significa 21 zeros depois do número, com previsão de atingir os 181 zettabytes em 2025. Diariamente são trocadas cerca de 100 mil milhões de mensagens no WhatsApp, o número de pesquisas por segundo no Google é de 9900 e o número de utilizadores da internet é de mais de 5 mil milhões de pessoas, o que corresponde a 64,4% população mundial. Perante a avalanche, procura-se tirar partido do big data com recurso à analítica, além das possibilidades deixadas em aberto pela inteligência artificial. Saiba o que pode esperar.

ChatGPT: uma nova era

É provável que já tenha ouvido falar das ferramentas digitais que são capazes de escrever poemas ao estilo de Florbela Espanca, fazer teses de mestrado ou produzir código quase instantaneamente. São os instrumentos de inteligência artificial que têm dominado a atenção sobretudo desde a introdução do ChatGPT a 30 de novembro de 2022 pelas mãos da OpenAI. Já com uma nova versão mais inteligente, a ferramenta foi treinada com 570 gigabytes de dados e ultrapassou os 100 milhões de utilizadores. “Mostra-nos um ponto de viragem, estávamos à espera que este dia chegasse”, aponta Ricardo Gonçalves, diretor do Centro de Inteligência Artificial & Analítica na Fidelidade, com o vogal do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Administração, Miguel Agrochão, a anunciar que “não é possível falar em capacitação digital sem falar em dados ou inteligência artificial”.

Receios

O ChatGPT e concorrentes como o Chatsonic, o YouChat, o Character.AI ou o Bard levantam várias questões que merecem atenção, mas as potencialidades entusiasmam os especialistas. “O importante aqui não é saber se a inteligência artificial nos vai substituir”, elabora o diretor nacional de Tecnologia na Microsoft Portugal, Manuel Dias, com a plena convicção de que “nunca foi tão importante saber fazer as perguntas” certas. Ou seja, mais do que ter receio das fraudes que podem surgir, o importante é formar as pessoas para guiar as ferramentas de inteligência artificial como um (poderoso) complemento. “Se há coisa que o ChatGPT ainda não faz é prever o futuro”, lembra Madalena Tomé, CEO da SIBS.

O que muda

“As pessoas certas são os maiores ativos das organizações”, garante a vice-governadora do Banco de Portugal, Clara Raposo, em particular quando perante “novidades interessantes e outras péssimas e desestabilizadoras” só com trabalhadores preparados para a nova realidade é possível “discernir o que acrescenta valor à sociedade”. Importa adaptar os currículos, atrair talento e investir na analítica para aproveitar as oportunidades. “Temos pessoas a fazer tarefas que são redutoras para aquilo que é a sua inteligência”, realça o presidente do Conselho Diretivo da Agência para a Modernização Administrativa, João Dias, quando os dados e a inteligência artificial permitem autonomizar certas tarefas e libertar recursos humanos para funções de valor acrescentado.

E agora?

O caminho parece claro no sentido de “reforçar a utilização dos dados no dia a dia, das decisões mais simples às mais complexas”, elucida a diretora de Pessoas & Cultura na Sonae Sierra, Ana Vicente, ao passo que Diogo Silva Santos, líder de Dados para a Europa Ocidental na Fujitsu, sustenta que “temos que começar a olhar para estas soluções de dados como produtos efetivos”. Seja na esfera pública ou privada, é necessário “juntar a esta revolução digital uma dimensão de integridade e ética”, sustenta José António Viegas Ribeiro, subinspetor-geral de Finanças, sem esquecer que temos pela frente um “risco completamente novo, o risco preditivo. O futuro está aqui”.

As frases mais marcantes

“Já não se trata apenas de perceber como usar, mas como explorar os dados para ter novos produtos e serviços”

Miguel de Castro Neto
Diretor da Nova IMS

“Temos diante de nós uma miríade de tecnologias que vem alterar substancialmente como tratamos os dados. É um grande desafio”

José António Viegas Ribeiro
Subinspetor-geral de Finanças

“O sucesso do passado não significa o sucesso do futuro no contexto da transformação digital”

Madalena Tomé
CEO da SIBS

“A implementação da inteligência artificial de forma ética e transparente é absolutamente fundamental”

Teresa Girbal
Vice-presidente da eSPap

“Um dos cenários com que os gestores se deparam é volatilidade. Os dados ajudam a reduzir essa incerteza”

Nuno Barboza
CEO da BI4ALL

“As ferramentas de inteligência artificial vieram marcar um passo para a frente”

Manuel Dias
Diretor nacional de Tecnologia na Microsoft Portugal

“Estas novas tecnologias podem ter muita utilidade. Temos é que ser capazes de discernir o que acrescenta valor à sociedade ou não”

Clara Raposo
Vice-governadora do Banco de Portugal

“Tudo o que seja forma de automatizar com recurso a dados é essencial, nem sequer é uma escolha”

João Dias
Presidente do Conselho Diretivo da AMA

Vamos falar de dados?

Inteligência artificial, ChatGPT, Big Data: foram algumas das palavras fortes no evento “Data with Purpose Summit: Vamos Falar de Dados?”, organizado pela Nova IMS em parceria com o Expresso. Durante um dia, vários especialistas discutiram como os dados podem e devem ser usados para mudanças positivas no mundo. Saiba mais em Expresso online.

Textos originalmente publicados no Expresso de 24 de março de 2023

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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