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Investigação portuguesa sobre autismo vence prémio de medicina clínica

Miguel Castelo-Branco, coordenador científico do CIBIT/ICNAS, venceu o Prémio Bial de Medicina Clínica 2022 com um trabalho sobre autismo
Miguel Castelo-Branco, coordenador científico do CIBIT/ICNAS, venceu o Prémio Bial de Medicina Clínica 2022 com um trabalho sobre autismo
Rui Oliveira

Miguel Castelo-Branco é autor do projeto vencedor do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022, anunciado esta quarta-feira na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A Fundação Bial atribuiu €100 mil ao investigador e ainda €10 mil a cada uma das duas menções honrosas

Francisco de Almeida Fernandes

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Mais de 15 anos dedicados ao estudo aprofundado do autismo valeram a Miguel Castelo-Branco, médico e investigador, o Prémio Bial de Medicina Clínica 2022. “Os desafios da neurodiversidade” é o título do trabalho distinguido pela Fundação Bial com um montante de €100 mil atribuído ao professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. A cerimónia decorreu esta quarta-feira na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e juntou, além de cientistas e investigadores, o presidente da República e o ministro da Saúde.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que “estes prémios fazem sentido por mudarem a vida de pessoas concretas” e lembrou que a investigação fundamental e a investigação clínica “são praticamente inseparáveis”. “Não há clínica médica que não se baseie numa muito sólida investigação fundamental e não há investigação fundamental que se possa satisfazer só por si”, acrescentou.

Na cerimónia marcaram presença Miguel Guimarães (Ordem dos Médicos), Rui Moreira (Câmara Municipal do Porto), Manuel Pizarro (Ministro da Saúde), Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente da República), Luís Portela (Fundação Bial), António Sousa Pereira (Conselho de Reitores) e Altamiro da Costa Pereira (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto)
Rui Oliveira

A dedicação e a “paixão” foram, para o presidente da República, evidentes na apresentação dos três trabalhos distinguidos durante a cerimónia. A Miguel Castelo-Branco, o grande vencedor desta edição, juntaram-se ainda o projeto da neurocirurgiã Cláudia Faria e o estudo coordenado pelo cardiologista Albertino Damasceno com duas menções honrosas no valor de €10 mil cada.

Para Luís Portela, presidente da Fundação Bial, esta iniciativa espelha a “elevada qualidade e competência de muitos profissionais de saúde no nosso país”, representada nesta edição pela “superior qualidade dos premiados” entre as 17 candidaturas concorrentes. “Ao longo dos últimos quase 40 anos tivemos muitos dos mais notáveis médicos e investigadores portugueses na área das ciências da saúde a concorrer”, assinalou.

"O que nós não sabemos fazer em Portugal é colaborar. Temos de colaborar mais", pediu Manuel Sobrinho Simões, investigador e presidente do júri deste prémio
Rui Oliveira

Homenagem ao “senhor da medicina”

A cerimónia não terminou sem uma homenagem ao professor e investigador Manuel Sobrinho Simões, presidente do júri deste prémio desde 2006, que anunciou esta quarta-feira o fim da sua participação na seleção das candidaturas. Considerado pelos pares como “o senhor da medicina”, Sobrinho Simões foi aplaudido pela assistência e surpreendido pelo reconhecimento de uma carreira de destaque na ciência em Portugal e no mundo. Eleito como o patologista mais influente do mundo em 2015, foi autor de 400 artigos científicos que mereceram mais de 16 mil citações ao longo das décadas. “Tenho pena de deixar de ser presidente porque adorava”, afirmou. Para o futuro da investigação em Portugal pediu mais colaboração entre instituições e maior aposta no apoio à produção de conhecimento.

Conheça, abaixo, os projetos distinguidos pelo Prémio Bial de Medicina Clínica 2022 a que o Expresso se associou.

Emocionado, Miguel Castelo-Branco agradeceu à família e, em particular, ao filho diagnosticado com autismo. "Muito do nosso trabalho também é desfazer mitos que andam por aí", acrescentou, em referência às conclusões do trabalho de investigação que conduziu sobre neurodiversidade
Rui Oliveira

Prémio Bial de Medicina Clínica 2022

Vencedor: “Os desafios da neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo”

O professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Miguel Castelo-Branco, tem dedicado o seu percurso enquanto investigador à procura de respostas terapêuticas inovadoras. O especialista é pai de um jovem com autismo, facto que influenciou a dedicação aplicada à investigação básica e clínica na área do neurodesenvolvimento ao longo de 15 anos. O projeto agora premiado baseou-se na ligação entre a biologia molecular, imagiologia cerebral e neurociência cognitiva e promoveu ensaios clínicos para melhorar o reconhecimento de emoções, a regulação emocional e a ansiedade no autismo.

“O trabalho confirmou que para compreender e reabilitar melhor o autismo é preciso ter em conta marcadores neurobiológicos que permitam caracterizar melhor a neurodiversidade, de forma a concretizar abordagens de medicina personalizada e de precisão”, explica o autor. Para isso, aponta o também médico, foi “crucial” contar com “equipas multidisciplinares”.

Cláudia Faria (Hospital de Santa Maria), Miguel Castelo-Branco (CIBIT/ICNAS) e Albertino Damasceno (Hospital Central de Maputo) foram os protagonistas da cerimónia
Rui Oliveira

Menção honrosa: “Brain Tumors 360º: from biological samples to precision medicine for patients”

A neurocirurgiã Cláudia Faria, do Hospital de Santa Maria, criou um banco de tumores cerebrais que inclui amostras de cerca de dois mil doentes e a plataforma Brain Tumor Target. Trata-se de uma ferramenta centrada no doente para simular a doença e testar modelos e terapias inovadoras para a medicina personalizada. “Os tumores cerebrais malignos continuam a ser uma importante causa de morbilidade e mortalidade em crianças e adultos, por isso estas descobertas, após validação em ensaios clínicos em doentes, podem contribuir para a melhoria da sua sobrevida e qualidade de vida”, contextualiza. O trabalho culmina na descoberta de biomarcadores ou novos tratamentos que podem ser aplicados ao doente em ensaio clínico.

Menção honrosa: “Contribuição para o estudo da hipertensão arterial em Moçambique e na África Subsaariana: resultados de um combate de 25 anos”

A colaboração entre a Universidade Eduardo Mondlane e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto foi essencial para que, ao longo de 25 anos, os investigadores coordenados pelo cardiologista Albertino Damasceno (Hospital Central de Maputo) reunissem uma pesquisa alargada sobre hipertensão arterial em Moçambique. O objetivo passou pela identificação de fatores determinantes para suportar medidas preventivas e terapêuticas que permitam a redução da morbilidade e mortalidade associadas à doença. “Este trabalho poderá ajudar a individualizar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento da tensão arterial para muitos portugueses ou imigrantes de origem africana em Portugal”, explica o coordenador. As mais de duas décadas de pesquisa resultam do esforço da equipa que inclui os investigadores Jorge Polónia (FMUP), Nuno Lunet (FMUP), António Prista (Universidade Pedagógica de Maputo), Carla Silva Matos (Ministério da Saúde de Moçambique) e Neusa Jessen (Hospital Central de Maputo).

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