“Fizemos um estudo e metade daquele universo desconhecia os custos do crédito à habitação”
O debate desta quinta-feira à tarde foi moderado por Ana Peneda Moriera e contou com António Balhanas, da Deco; Pedro Megre, da UCI e Luís Brites, do Banco CTT (da esquerda para a direita)
José Fernandes
Literacia para a habitação foi o tema do segundo de seis debates que o Expresso e a Era Imobiliária vão organizar nos próximos três meses sobre o futuro da habitação e do setor imobiliário em Portugal
Ana Baptista
Ainda há um longo caminho a percorrer na literacia financeira e, consequentemente, na literacia para habitação. Porque é impossível desligar uma da outra. António Balhanas, da Deco Proteste; Pedro Megre, CEO da União de Créditos Imobiliários (UCI) e Luís Brites, administrador do Banco CTT foram os convidados deste segundo debate no qual tentaram dar alguns conselhos e corrigir algumas certezas que as pessoas pensam ter. Estas são as principais conclusões.
1. O que se sabe e não se sabe
Recentemente, a UCI e a Católica juntaram-se para fazer um estudo no qual perguntaram às pessoas qual a razão para a escolha do crédito que contrataram quando compraram casa e a maioria respondeu que foi o spread. Ora, segundo Pedro Megre, “o spread não encara a totalidade dos custos na compra de casa”, o que significa que “metade daquele universo desconhecia os custos associados ao crédito à habitação”.
Este exemplo mostra bem a realidade da literacia financeira e literacia para a habitação que ainda existe em Portugal, mesmo depois de crise de 2011 ter feito com as pessoas procurassem mais informação sobre empréstimos e taxas de esforço. Ou seja, existe “uma maior consciencialização, mas não é o nível adequado”, diz António Balhanas. E isso vê-se pelo número de reclamações que a Deco recebe todos os anos, na sua maioria sobre as taxas e as comissões que desconheciam que tinham de ser pagas.
Há, contudo, uma expectativa de que a atual situação de inflação e de taxas de juro elevadas leve os portugueses a procurar mais informação. Aliás, para Pedro Megre, o ideal é quando as pessoas entram no banco cheias de dúvidas. “Os que questionam tudo são os que estão mais informados”, diz.
Mas então além do spread que mais custos há na compra de uma casa? Há as comissões dos bancos, incluindo os custos de manutenção e depois há os seguros de visa ou multirriscos. A isto é depois preciso juntar o valor da escritura e os impostos, como o imposto selo.
2. Os conselhos
Ir primeiro ao banco, pedir informações, perceber qual a taxa de esforço que pode ter e contratar o empréstimo antes de comprar casa é um dos conselhos que Luís Brites dá. É verdade que isso não se faz com muita frequência, “mas devia”, tanto da parte das pessoas como dos bancos, que deixam incentivar, repara.
Além disso, podem recorrer aos intermediários de crédito que são serviço que existe nos bancos e que servem para ajudar a perceber qual o melhor crédito a fazer, o melhor spread e a melhor taxa (variável ou fixa) para os rendimentos que da família. Acresce que este serviço “não é pago pelas pessoas, é pago pelos bancos”, salienta Luís Brites
Renegociar o crédito também é uma prática que as pessoas podem adoptar. Podem ajustar-se os prazos e as condições mantém-se. Aliás, é obrigatório por lei que assim seja.