A luta por um futuro mais inclusivo é aqui

Crianças: numa camada da população fragilizada por uma combinação temível de pandemia e crise económica, pedem-se respostas para que os problemas não se agravem e, pelo contrário, se resolvam
Crianças: numa camada da população fragilizada por uma combinação temível de pandemia e crise económica, pedem-se respostas para que os problemas não se agravem e, pelo contrário, se resolvam
Jornalista
Em contextos de grande vulnerabilidade económica e social é essencial dar apoios e ferramentas às crianças para que algo de substancial mude na sua realidade e no seu futuro. E é esse caminho que as 34 associações apoiadas pelo Prémio Infância (que pode conhecer em baixo) procuram trilhar com €1,3 milhões.
A finalidade é apoiar projetos que quebrem o ciclo de pobreza, facilitem o desenvolvimento na infância e adolescência e potenciem a família. É o caso do ASTA — Active Sport Talent for All, apresentado pela Talentos de Campeão — Associação Desportiva, em Vila Nova de Gaia, e que se baseia no “desenvolvimento de atividades desportivas de promoção da saúde e inclusão social em crianças e jovens que vivem em contextos de vulnerabilidade psicossocial, familiar, escolar ou económica”, explica o gestor de projetos João Silva. Serão promovidas “mais de 150 atividades ao longo do projeto, que incluem treinos semanais personalizados em quatro desportos diferentes: dança, futebol, natação e xadrez”. Os €37.130 recebidos darão corpo ao projeto, com a preocupação de o “impacto gerado não se desvanecer no período previsto de financiamento”.
A partir de Ponta Delgada, a Solidaried’arte — Associação de Educação e Integração pela Arte e Desenvolvimento Cultural Social e Local pretende capacitar profissionais para potenciar as competências cognitivas, emocionais e sociais de crianças dos 3º e 4º anos. Como? Através de projetos como o Fantoche Não És!, que apresenta “uma intervenção especializada utilizando o teatro de marionetas enquanto ferramenta” para abordar “temas como autoestima, emoções, regulação emocional, tomada de decisão, entre outras”, explica a gestora de projetos Carmen Bettencourt. O prémio de €21.500 “será aplicado na criação, versão digital, do programa”, que terá o nome de Bem Me Quer(o)!. “Para este efeito, será criado um conjunto de cinco histórias, dinamizadas com marionetas.”
Pelo seu lado, a Confiar — Associação de Reinserção Social recebeu €82.760 para o projeto ESCADA, de “acompanhamento das crianças filhas de mães reclusas, que se encontrem, ou não, a residir com estas na Casa das Mães do Estabelecimento Prisional de Tires, e às próprias mães, com vista ao seu desenvolvimento pessoal e emocional, à promoção de competências parentais, à adoção de competências pró-sociais, bem como à reparação das relações familiares”, revela a coordenadora executiva, Carolina Viana. Tudo numa “perspetiva de proteção, combate à exclusão e à vulnerabilidade, de reparação das relações familiares e de rompimento com o ciclo de conflito com a lei no seio familiar”.
O perigo de pobreza das crianças é elevado e as ameaças de segurança multiplicam-se
Os perigos estão ao virar de cada esquina, e a situação social de uma parte significativa da camada infantil da população portuguesa não dá margem para procrastinar. De acordo com os dados mais recentes do Eurostat, 22,9% das crianças — o que corresponde a cerca de uma em cada quatro — com menos de 18 anos vivia, em 2021, em situação de pobreza ou exclusão social, o que, apesar de nos colocar abaixo da média da UE de 24,4%, revela uma situação preocupante, até porque o organismo europeu salienta que entre as consequências está, entre outras, uma maior dificuldade em conseguir bons resultados escolares.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, 123 mil crianças em Portugal vivem em pobreza extrema e a taxa do risco de pobreza das crianças em famílias monoparentais é de 30%, e os efeitos são claros. “A pandemia teve efeitos muito perversos. Vê-se, por exemplo, na educação”, explica Dulce Rocha, presidente do IAC — Instituto de Apoio à Criança, “com as crianças mais desfavorecidas a não conseguirem acompanhar” o ritmo e muitas a serem mais “submetidas a maus-tratos”.
A abordagem nem sempre é fácil, mas a responsável considera que “é sempre possível que um olhar preocupado com os direitos humanos consiga melhorar as situações”. Ao mesmo tempo, pede “ao Estado para se abrir mais à sociedade civil”, porque as “associações no terreno estão mais próximas dos problemas”, e não queremos ter “soluções iguais àquelas que existiam há 40 anos”. E realça: “O percurso marginal pode ser interrompido se investirmos em respostas mais humanizadas.”
PROJETO SOLIDARIEDADE
O Expresso associa-se pelo terceiro ano consecutivo ao BPI/Fundação “la Caixa” para debater os desafios da solidariedade, do terceiro sector, das instituições que apoiam a infância, os jovens, os adultos, os seniores, as populações em zonas rurais e as pessoas com deficiência.
Textos originalmente publicados no Expresso de 13 de janeiro de 2023
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