Projetos Expresso

Maria de Belém: “Queremos que a saúde das mulheres entre na agenda política e pública”

Maria de Belém não tem dúvidas de que, na saúde e na sociedade, "o paradigma tem sido o paradigma masculino". Defende que as políticas públicas sejam definidas tendo em consideração os fatores específicos que afetam a saúde das mulheres
Maria de Belém não tem dúvidas de que, na saúde e na sociedade, "o paradigma tem sido o paradigma masculino". Defende que as políticas públicas sejam definidas tendo em consideração os fatores específicos que afetam a saúde das mulheres
Nuno Fox

A antiga ministra da Saúde apresentou, esta tarde, as conclusões da reflexão de especialistas em várias áreas sobre os desafios na literacia, no acesso e no tratamento do género que compõe mais de metade da população. O documento, que resulta de uma iniciativa da Hologic a que o Expresso se associou, será entregue aos decisores políticos

Francisco de Almeida Fernandes

Loading...

Foi esta tarde apresentado, em Lisboa, o documento “A saúde das mulheres em Portugal”, que resulta da participação de especialistas em áreas tão diversas como a cardiologia, oncologia ou saúde mental e que sugere a criação de um plano nacional para a saúde feminina. “Queremos que a saúde das mulheres entre na agenda política e pública. Queremos que este documento seja um contributo para a literacia”, afiança Maria de Belém Roseira.

A antiga ministra da Saúde foi a responsável pela coordenação do grupo de trabalho que, ao longo de vários meses, reuniu e discutiu sobre os que consideram ser os principais desafios neste tema. Embora reconheça que muitos dos obstáculos a melhores indicadores de bem-estar sejam transversais a toda a população, o conjunto de médicos e representantes de organizações não-governamentais acredita ser fundamental considerar as especificidades de género na definição de políticas públicas.

O primeiro painel de debate contou com a presença de Fátima Palma (Sociedade Portuguesa de Contracepção), Vera Pires da Silva (Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar), Helena Canhão (Sociedade Portuguesa de Reumatologia) e Ana Timóteo (Sociedade Portuguesa de Cardiologia)
Nuno Fox

Durante o processo de debate, os peritos definiram sete áreas de ação prioritária: saúde sexual e reprodutiva, saúde mental, doenças cardiovasculares, patologias oncológicas, doenças reumáticas e musculoesqueléticas, violência de género e comunidade LGBTQIA+. Sobre a possibilidade de, como é intenção do grupo de trabalho, o documento vir a ser adotado para dar origem a um Plano Nacional para a Saúde da Mulher, Maria de Belém acredita que existe interesse dos decisores em olhar para estas questões. “Senão não tínhamos aqui a Diretora Geral da Saúde [Graça Freitas] e alguns deputados da Assembleia da República”, apontou.

Ao longo do evento de apresentação, que ocupou uma das salas do Palacete Tivoli, em Lisboa, foram feitos diagnósticos nas várias áreas da medicina e apresentados caminhos a seguir. Mais literacia, prevenção e melhor acesso à saúde foram três ideias sublinhadas por todos os intervenientes. “O mundo precisa de mulheres saudáveis. A sua saúde e bem-estar são questões de desenvolvimento sustentável consideradas na agenda de 2030 das Nações Unidas”, afirmou ainda Emilia de Alonso. A responsável em Portugal e Espanha da Hologic, que promoveu a criação deste documento numa iniciativa a que o Expresso se associou, alertou que, segundo dados da farmacêutica, “1,5 milhões de mulheres em todo o mundo têm falta de exames essenciais de diagnóstico”.

A saúde mental e a oncologia fizeram ainda parte do segundo painel de debate, que contou com Maria João Heitor (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental), Gabriela Sousa (Sociedade Portuguesa de Senologia), Paula Chaves (Liga Portuguesa Contra o Cancro) e José Luís Passos Coelho (Sociedade Portuguesa de Oncologia)
Nuno Fox

Conheça as principais conclusões:

Mais saúde, melhor economia

  • Para Vera Pires da Silva, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, “homens e mulheres têm de trabalhar nesta causa”, que deve ser uma prioridade para Portugal. “Investir na saúde é investir na economia do país”, acrescenta, mas para isso será necessário, por exemplo, garantir médico de família a toda a população.
  • Os cuidados de saúde primários são muitas vezes apontados como a porta de entrada para o sistema, pelo que Fátima Palma defende que, na saúde sexual e reprodutiva, devem ser organizados rastreios de infeções sexualmente transmissíveis nestes locais. “É um exemplo de uma coisa fácil em termos de prevenção”, garante a presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção.
  • Gabriela Sousa, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia, refere a amamentação como uma forma simples de prevenir cancro da mama, que atua como “um fator protetor” para as mulheres. Por outro lado, complementa o oncologista José Luís Passos Coelho, mostrar à população que o excesso de peso e a obesidade são fatores de risco é, também, fundamental para promover a alteração comportamental e evitar a doença.
  • O grande desafio, concordam os oradores, não está em definir estratégias de prevenção da cardiologia à saúde mental. O obstáculo é mostrar aos decisores políticos que o investimento em prevenção, com resultados a longo-prazo, significa melhorar a saúde da população, diminuir os custos para o sistema e aumentar a sustentabilidade das contas públicas. “O custo da saúde está à beira de se tornar incomportável”, remata José Luís Passos Coelho.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas