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Primeiro estúdio virtual made in Portugal

André Miranda (à esquerda), CEO da Musiversal, e Xavier Jameson (à direita), diretor de operações
André Miranda (à esquerda), CEO da Musiversal, e Xavier Jameson (à direita), diretor de operações
José Fernandes

Empreendedorismo: a Musiversal é uma plataforma que torna mais acessível o processo de criação e produção musical. Ambiciona criar “centenas ou milhares de empregos”

João Queiroz

E uma plataforma que disponibiliza o acesso a músicos, produtores e engenheiros de som para sessões de gravação a partir de casa. “É o primeiro, e atualmente o único, estúdio de gravação online do mundo onde o utilizador pode gravar em tempo real com músicos de topo”, garante Xavier Jameson, britânico e cofundador da startup que representará Portugal no Global Tech Innovator (GTI), competição internacional — este ano com 22 países finalistas — que pretende descobrir o futuro líder da inovação tecnológica do mundo.

A Musiversal nasceu em 2018. Dois anos depois surgiu a plataforma e um modelo de negócio que procura recriar na cena musical o conceito de gig economy. Ou seja, quer ter músicos e produtores de música ligados à sua plataforma que podem ser escolhidos pelo cliente, como fazem as empresas de transporte privado. “Tal como a Uber foi disruptiva na experiência da viagem de táxi, tendo em sua posse o capital humano e a tecnologia, a Musiversal faz o mesmo, mas paga um salário estável e fixo aos seus músicos.” Ao desenvolver a tecnologia para o utilizador encontrar, agendar, colaborar e gravar, “torna-se muito mais fácil para qualquer pessoa produzir música com músicos reais”, explica.

Mais fácil e mais rápido: “Basta escolher o músico, reservar o dia e hora de gravação, juntar-se ao músico no nosso estúdio virtual e dirigir a sessão em tempo real. Minutos depois, recebe os ficheiros de música com qualidade de estúdio.” E também mais rentável do que as alternativas, segundo Xavier Jameson: “Ao pagar salários estáveis aos nossos músicos (conseguimos maximizar o seu tempo) e criando uma estrutura eficiente para cada sessão, os utilizadores pagam cinco vezes menos do que fariam ao reservar o mesmo calibre de músicos online. E dez vezes menos do que em estúdios de gravação reais.”

Hoje a plataforma dispõe de uma lista de 35 artistas, e “já gravaram para a Netflix, Warner Bros, HBO...”, conta o fundador e CEO, André Miranda. A meta é ter, pelo menos, 100 até 2023 e mil até 2025. A Musiversal está “sempre inundada” de candidaturas. “O tipo de estabilidade que oferecemos não se encontra em lado algum. Permitiu a um dos nossos músicos comprar a primeira casa, e deu ao nosso guitarrista na Ucrânia um objetivo além de sobreviver à guerra”, revela o cofundador.

A startup já captou €2,5 milhões de euros em capital privado. Agora está numa ronda de financiamento pós-semente de 2 milhões. No próximo ano, o objetivo é chegar a uma ronda Série A, que servirá “para escalar a empresa — contratar músicos e conquistar utilizadores — para se tornar a plataforma de produção musical padrão”. O que irá “permitir criar centenas, se não milhares, de empregos em Portugal e no mundo”, ambiciona Xavier Jameson.

As contas para alcançar o estatuto de unicórnio português estão feitas, mas não são fáceis: “Precisamos de 50 mil utilizadores pagantes, o que corresponde a cerca de 0,1% do número de criadores de música previsto no Spotify em 2025 (50 milhões). Hoje temos 500 assinantes, pelo que precisamos crescer 100 vezes em três anos. Aí, teremos entre três a cinco mil músicos a ganhar a vida de forma estável.”

Manter o registo imaculado

A presença na final do GTI e na Web Summit é encarada como uma oportunidade de “acelerar o crescimento, atrair investidores e mostrar ao mundo que a primeira music-tech teve origem aqui”, frisa Xavier Jameson, confiante num bom desempenho: “Vencemos as últimas cinco competições de pitch que disputámos. Seria lindo manter esse registo”.

Entre os seis projetos que chegaram à final da competição nacional, o da Musiversal foi considerado “o mais inovador e disruptivo, com mais potencial de mercado, maior potencial de adoção por parte do consumidor, o que pode ter mais impacto a longo prazo”, explica Nasser Sattar, Head of Advisory da KPMG Portugal, e um dos jurados do painel. “Apesar da forte concorrência, acredito que é um grande candidato e vai estar na luta para ganhar a final global”, acrescenta.

Os outros 21 finalistas

África do Sul

iiDENTIFii Plataforma de autenticação digital biométrica facial de combate à fraude de identidade.

Alemanha

Reactive Robotics Sistema robótico que ajuda na recuperação dos doentes em cuidados intensivos.

Arábia Saudita

OTO Plataforma de gestão de entregas por multitransportadores.

Austrália

Goterra Criou uma infraestrutura, com robôs e larvas, que processa resíduos alimentares.

Brasil

Techtrials Plataforma de análise de dados que fornece insights clínicos para o sector da saúde.

Canadá

SmartONE Foca-se na conceção de tecnologias de casas inteligentes em pequenas comunidades.

China

Vision Medicals Um dos primeiros laboratórios privados a identificar o SARS-Cov-2 em 2019.

Colômbia

Siembra Aplicação móvel que possibilita ao utilizador plantar virtualmente as próprias culturas.

Dinamarca

CPHNANO Desenvolve análises laboratoriais digitais para os laboratórios inteligentes do futuro.

Espanha

Cureety Plataforma de monitorização e acompanhamento médico remoto de doentes oncológicos.

Estados Unidos

Alkymi Ferramenta de aprendizagem automática de pesquisa, localização e captura de dados.

Índia

MAITHRI Concebeu um gerador de água através da captação de humidade na atmosfera.

Irlanda

Provizio Plataforma que deteta, prevê e previne acidentes rodoviários em tempo real.

Israel

Connected Insurance Inteligência artificial que cria apólices de seguro à medida para o e-commerce.

Japão

FIMECS Desenvolve medicamentos focados em terapêuticas para doenças de difícil tratamento.

Koweit

Bounce App que se propõe facilitar a gestão e a comunicação no ensino pré-escolar.

México

Minu Especializada no salário on demand, em prol do bem-estar financeiro dos trabalhadores.

Países Baixos

Whoppah Marketplace de mobiliário de design em segunda mão.

Catar

Avey App que permite ao doente realizar o autodiagnóstico graças à inteligência artificial.

Reino Unido

HiiROC Criou uma solução de baixo custo para a produção de hidrogénio.

Taiwan

Ganzin Empresa de eletrónica de consumo focada na tecnologia de rastreio ocular.

Vencedor revelado quarta-feira

O primeiro lugar da 2ª edição do Global Tech Innovator é anunciado na próxima quarta--feira, no segundo de quatro dias da Web Summit. Os 22 finalistas vão expor os seus serviços ou produtos num pitch de cerca de cinco minutos, após o qual respondem às questões colocadas pelos cinco membros do painel de jurados da competição organizada pela KPMG. Do lado português, caberá a Xavier Jameson subir ao palco para defender a Musiversal. “Trata-se de um leque de candidatos muito forte, que atuam em áreas para as quais levaram a inovação, a disrupção e desafiaram o statu quo dos vários players, além de terem tendência para serem green”, observa Nasser Sattar, da KPMG Portugal.

Global Tech Innovator 2022

O Expresso associa-se à KPMG na segunda edição da competição à escala mundial para encontrar o futuro líder da inovação tecnológica. Estão apuradas as 22 startups, de outros tantos países, e o vencedor do Global Tech Innovator 2022 será conhecido na Web Summit. Hoje apresentamos nesta página os finalistas mundiais, que pode conhecer melhor AQUI

Textos originalmente publicados no Expresso de 28 de outubro de 2022

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