O desenvolvimento sustentável não é só uma forma de conduzir negócios. É, antes de mais, uma questão existencial que obriga todos a tomarem decisões difíceis. É importante que fique cristalino: “Durante muito tempo as empresas associaram o tema da sustentabilidade ao ambiente. Mas essa é apenas uma parte da história”, garante o CEO da AON Portugal, Carlos Robalo Freire. De acordo com o EY CEO Outlook Survey 2022, 82% dos CEO identificaram fatores ESG — sigla que integra as palavras Environmental (Ambiente), Social (Social) e Governance (Governança Corporativa) — como importantes ou extremamente importantes para a sua tomada de decisão, com a Bloomberg a estimar que os ativos ESG caminham para atingir um valor de perto de €53 biliões em 2025, o que representaria um terço dos ativos globais sob gestão.
Rui Diniz lembra que “independentemente da motivação das empresas, a verdade é que existem vários fatores, como sejam as tendências de consumo responsável, a consciencialização dos problemas ambientais e sociais por parte das gerações mais novas, o acesso a capital para investimento, entre outros, que têm provocado uma mobilização para os projetos sustentáveis e com impacto”. É a sobrevivência das empresas que está em jogo e, por isso, o CEO da CUF chama a atenção “para o risco de ficarem de fora desta jornada empresas que, por diversas circunstâncias, não apresentem o mesmo ritmo de desenvolvimento. É, por isso, relevante que se tome consciência que, na medida das possibilidades de cada um, é necessário o contributo de todos para garantir impacto na sustentabilidade futura”.
A crise climática coloca em risco 4% do PIB mundial, segundo a agência de notação financeira Standard & Poors Global, e parece claro que as empresas ainda procuram perceber a melhor forma de enfrentar a mudança de paradigma. “Começa a surgir alguma consciencialização nas empresas em Portugal para esta matéria, por vezes imposta pela regulação”, explica Carlos Robalo Freire. “Mas o tema ainda não está a ser levado a sério o suficiente e é importante que as empresas entendam que é preciso passar da teoria à ação.” É urgente que as empresas portuguesas analisem, quantifiquem os riscos e construam resiliência, “porque só assim estarão capacitadas para se adaptarem a este novo contexto, mais volátil, mais incerto”, acrescenta.
Preocupação social
A “falta de uniformização no reporte de informação não financeira” e a “falta de cultura” por parte dos agentes económicos estão entre os principais problemas, na opinião do chairman da Floene, Diogo da Silveira, que defende a necessidade de ligar o investimento económico neste campo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, além de um “aumento de robustez no reporte não financeiro”.
Dar o exemplo a montante e a jusante na gestão empresarial para que a sustentabilidade se repercuta entre colaboradores e consumidores ao longo de toda a cadeia de valor é visto como fulcral, por parte dos gestores, e pode gerar transformações positivas. Para João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, “as grandes empresas estão mais avançadas neste processo de transição para a sustentabilidade e de descarbonização das suas operações, já que dispõem de um marco regulatório claro e dos recursos necessários”. O mesmo já não se pode dizer das PME, apesar dos esforços conduzidos. Cerca de metade das empresas inquiridas confirma que está a reduzir o impacto ambiental (48%), aponta um estudo da Sage, e já incentivou os clientes a utilizar produtos de forma mais sustentável (47%).
Tudo somado, parece não haver dúvidas “que um agravamento do atual contexto económico e geopolítico, pode dificultar o processo de transição, pelos custos acrescidos que pode trazer”, ao mesmo tempo que “evidencia a necessidade de adotar modelos de consumo energético mais sustentáveis”, sustenta João Pedro Oliveira e Costa, numa altura que os recentes testes de stresse climático conduzidos pelo BCE (os primeiros do seu género) aos bancos, revelam que a crise do clima pode gerar perdas conjuntas de €70 mil milhões a curto prazo. Também é preciso “assegurar que os grupos mais vulneráveis não são prejudicados e que possam ter acesso a condições de vida dignas e a oportunidades de desenvolvimento. A transição deverá ser justa, não deixando ninguém para trás”, defende.
A sustentabilidade é também uma questão de atração de talento, com o vice-CEO da Mota-Engil, Carlos Mota Santos, a apontar que “a demonstração destas preocupações como organização irá contribuir para a motivação das novas gerações, que cada vez mais estão sensíveis ao valor que as organizações trazem para a sociedade e para o planeta”. Por outro lado, o ESG será cada vez mais “um fator decisivo na decisão sobre financiamentos de projetos por parte da banca ou entidades multilaterais”. Sem desdramatizar, importa olhar para “o atual contexto como uma oportunidade e não como um risco”.
Caminhos da sustentabilidade
Conhecimento
A dificuldade em apostar na sustentabilidade tem, muitas vezes, tanto de debilidade económica como de falta de conhecimento nas empresas. Por isso é essencial apostar na formação. “Como é que meço, como é que contabilizo? Também não sabíamos e agora começamos a conhecer melhor”, revela a reitora do ISEG, Clara Raposo, para quem é essencial “dar resposta a esta falta de conhecimento”.
Comunicação
Não basta anunciar que se vai fazer, é preciso fazer, sobretudo quando as novas gerações já estão mais informadas, aponta Pedro Penalva, CEO para a Iberia, África e Israel da AON. Por isso não se pode “comunicar por excesso algo que não está a acontecer”.
Acesso
A “sustentabilidade vai muito além da questão ambiental”, reforça Helena Freitas, diretora-geral da Sanofi, que aponta para a necessidade de reduzir a pobreza e “garantir acesso” a medicamentos.
Economia
A sustentabilidade assenta em “bons resultados financeiros”, enfatiza Diogo da Silveira. “Não podemos esquecer”.
Expectativas
Importa não esquecer os grandes objetivos: “Espero que atinjamos o objetivo da neutralidade carbónica antes de 2050”, diz Carlos Mota Santos.
Vamos falar de Sustentabilidade
Os desafios do sector económico perante as questões ambientais, sociais e de governança corporativa vão estar em foco no debate “O novo contexto das empresas com os ESG”, organizado pelo Expresso com o apoio da AON, e que dá início ao ciclo de conferências “Vamos Falar de Sustentabilidade”.
Textos originalmente publicados no Expresso de 28 de outubro de 2022
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