A sustentabilidade e o relato não financeiro eram os temas centrais mas foram os temas ligados às pessoas e à responsabilidade social e de gestão que tiveram mais destaque no dia de arranque oficial do 7º Congresso da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) que, decorreu esta quinta-feira na Altice Arena, em Lisboa. Um encontro a que o Expresso se associou e que hoje contou a intervenção de 17 oradores, entre eles Paula Franco, bastonária da OCC; António Mendonça Mendes, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais; António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar; Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal; Carlota de Paula Coelho, da EFRAG TEGO; João Wengorovius Meneses, secretário geral do BCSD Portugal e Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Estas são as principais conclusões.
1. Mudar urgentemente o modelo económico
- “Hoje, não temos um modelo económico e social sustentável. Estamos a viver a 6ª era de extinção das espécies e a culpa é nossa”; “Temos um modelo económico e social que é predador dos recursos do planeta. Transformamos recursos em lixo a uma velocidade sem precedentes na história”; “O modelo também distribui mal a riqueza. 1% da população mais rica do do planeta detém 46% do PIB mundial. A assimetria na distribuição de rendimentos cria desigualdades que são cada vez mais tóxicas”.
- São frases duras, mas verdadeiras, as que António Costa Silva proferiu esta tarde sobre o desenvolvimento económico e social de Portugal e do mundo. Mas deixou também sugestões do que se pode e/ou deve fazer. “Temos de transformar o nosso modelo de desenvolvimento e pôr no centro a sustentabilidade (…) e apostar na descarbonização. As empresas que apostaram nas renováveis têm hoje uma fatura energética mais baixa”. “Temos de passar para um paradigma que processa o lixo e o transforma em recursos”. “Os modelos de gestão e de negócio são centrais para a sustentabilidade”.
2. O papel das empresas e do governo
- A mudança do modelo económico e social que António Costa Silva diz ser “insustentável” precisa também de “uma mudança de comportamentos e de atitude”, não só por parte das empresas, mas da sociedade, acrescenta Luís Araújo. “O turismo um sector que vive muito de micro e mini empresas que têm dificuldade em mudar. Mais de 55% dos empregados do sector são mulheres mas só 17% estão em cargos executivos e só 4% estão na administração. E para não falar na diferença salarial. Isto não pode ser assim. Isto tem de mudar”, comenta.
- De facto, diz Carlota de Paula Coelho, as empresas têm de deixar de querer ser as melhores do mundo e passarem a querer ser as melhores para o mundo.
- Mas o poder público também tem um papel de relevo e Ana Mendes Godinho não quis deixar de falar dos apoios que têm sido criados para que Portugal seja um país melhor para viver e trabalhar, como a gratuidade das creches. Ou das alterações que deviam ser feitas, como o reconhecimento automático dos abonos de família ou a criação de postos de trabalho dignos para os jovens. “Um inquérito recente feito na Europa mostrou que, em Portugal, 85% dos jovens disseram que tinham um contrato precário porque não tinham conseguido encontrar um contrato digno. Na Alemanha foram 15%”, diz.
3. O impacto da sustentabilidade
- “Não é muito fácil os empresários mudarem mentalidades quando estão focados no seu negócio e quando, muitas vezes, a sustentabilidade lhes traz mais custos e não traz poupanças imediatas. Mas os empresários têm de ver que e não evoluírem, alem de estarem a prejudicar a sustentabilidade do mundo, estão também a perder oportunidades. As empresas vão ser analisadas pelo banco; pelos incentivos, pelos consumidores, pelos clientes com base nos compromissos com a sociedade”, avisa Paula Franco. Por isso, acrescenta que, apesar de os contabilistas estarem “muito formatados para o relato financeiro, é preciso ir mais além”, porque “a informação financeira já não é suficiente para identificar as oportunidades das empresas e para tudo o que a sociedade precisa.
- Por isso é que João Wengorovius Meneses diz que “não há forma de ser competitivo fora do ESG [sigla em inglês para Ambiente, Social e Governança, as três vertentes da sustentabilidade]. Tal como não é possível estar fora da digitalização”.
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