Montanhas, rios e florestas são apenas alguns exemplos do vasto, e diversificado, património natural que pinta as paisagens portuguesas. Porém, o desafio tem sido, ao longo dos anos, perceber de que forma devem estas áreas protegidas ser conservadas, mas também usufruídas pela população. “Todos somos responsáveis pelo nosso património natural”, afirma Lia Vasconcelos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. A professora foi a responsável pela coordenação dos grupos de trabalho criados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para a definição de ações a desenvolver para a promoção do património.
Esta sexta-feira, a Casa da Baía, em Setúbal, recebeu a segunda conferência do projeto Missão Natureza 22, do ICNF e a que o Expresso se associou, onde estiveram representantes de agências ligadas ao sector, de organizações não governamentais e peritos a trabalhar sobre uma das sete prioridades para a estratégia nacional de biodiversidade, a “Aumentar a perceção e a apropriação pública do património natural”. Ao longo de toda a manhã, os participantes identificaram os desafios nesta área e procuraram sugerir medidas para os enfrentar. O foco foi aproximar os cidadãos da natureza, porque, como refere Lia Vasconcelos, esta “é uma riqueza que se não conservarmos, mais ninguém vai conservar”. “O papel da FCT-Nova é tornar este processo transversal e colaborativo em que há uma construção conjunta da estratégia nacional”, explica.
Desde maio e até março de 2023, o ICNF vai promover mais seis momentos para debater cada uma das restantes seis áreas críticas da biodiversidade e, no final, serão apresentadas propostas que deverão integrar a estratégia nacional a executar até ao final da década. O presidente da instituição, Nuno Banza, explica que o objetivo passa não só por “abrir a discussão aos diferentes atores da natureza”, mas também por definir quais as áreas que vão ser beneficiadas pelos fundos comunitários a aplicar até 2030, no valor de €250 milhões. “Normalmente [a distribuição e alocação de financiamento] é feito com base no que a administração [pública] conhece, mas o que quisemos fazer foi, em função do que conhecemos, mas também dos contributos da sociedade civil, condicionar a distribuição deste pacote de financiamento àquilo que são verdadeiramente as prioridades”, afirma. A próxima conferência discutirá caminhos para o tema “Melhorar o estado de conservação do património natural”.
Conheça as principais propostas:
- Para evitar a má utilização dos espaços naturais protegidos, os participantes sugerem a criação de uma certificação de guias da natureza. Estes guias devem, defendem os peritos, ter formação sobre património natural, bem como sobre gestão de grupos e a comunicação com os visitantes. Esta figura não existe no continente, mas já é uma realidade na ilha da Madeira.
- Do ponto de vista da sensibilização da população, os grupos propõem ainda a criação de escolas embaixadoras da natureza em concelhos com áreas protegidas. A ideia passa por fazer das novas gerações embaixadores do património e alertar os mais novos para a importância da conservação.
- Envolver os cidadãos na proteção da natureza passa ainda pela criação de mapas de visitação do património natural, que podem ser disponibilizados em vários formatos, incluindo o digital. O mesmo acontece com a criação de novos centros de interpretação, que os especialistas acreditam ser fundamental para aumentar a literacia sobre esta área.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes