“Sem uma estrutura de governança a empresa não cresce nem consegue fazer a sucessão”
Manuel Champalimaud, ao centro, juntou-se a Madalena Andradre, da Nutrinveste e a Alexandre Relvas, da Logoplaste para falar sobre empresas familiares
NUNO FOX
Manuel Champalimaud foi um dos oradores convidados da segunda conferência de apresentação do Barómetro das Empresas Familiares da KPMG, que decorreu esta manhã na Nova Business School, em Lisboa, com o apoio do Expresso
Ana Baptista
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A ligação emocional à família, a importância que isso tem no negócio e se estas empresas devem continuar ou não a manter o capital fechado a mercados e investidores externos foram os temas mais debatidos na conferência que esta quarta-feira de manhã juntou Alexandre Relvas, da Logoplaste; Madalena Freire de Andrade, administradora da Nutrinveste; Manuel Champalimaud, presidente do grupo Manuel Champalimaud; Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia; Daniel Traça, reitor da Nova Business School; Vitor Ribeirinho, presidente da KPMG Portugal e Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro dos negócios estrangeiros. Estas foram as principais conclusões.
1. As previsões económicas e geopolíticas
No momento em que o mundo já se estava a preparar para recuperar da pandemia, começa a guerra na Ucrânia e com ela surge novas incertezas geopolíticas e económicas com consequências imediatas, como o aumento dos preços da energia, a inflação e a subida das taxas de juro. Efeitos que não deverão ter impacto na economia portuguesa este ano, diz Paulo Portas, mas que poderão ter em 2023. “As projeções apontam para um crescimento à volta dos 6% este ano e para um crescimento da receita fiscal que é uma barbaridade. Mas 2023 será o oposto disto. O crescimento deverá ser de 2% e com PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] e a receita será muito inferior. Além disso, não sabemos qual será o impacto económico na Europa de uma recessão nos EUA”, diz. E é também “muito provável que assinamos a um tempo em que os blocos económicos estão ligados aos blocos geopolíticos e isso não é bom para países como Portugal. Não podemos prescindir de mercados”, nota.
As empresas familiares têm uma estrutura mais fácil de pensar a longo prazo e trabalham para a próxima geração na família e na sociedade”, afirma Daniel Traça, reitor da Nova Business School
2. A ligação emocional à família
Pedro Siza Vieira, que encerrou a conferência, é taxativo quando diz que “a ligação emocional pode ajudar a crescer e é o que torna as empresas familiares especiais”. Os empresários presentes no encontro desta quarta-feira concordam, mas salientam que isso não significa que não haja regras. “Sem uma estrutura de governança a empresa não cresce nem consegue fazer a sucessão”, diz Manuel Champalimaud. Posição partilhada por Madalena Freire de Andrade que destaca a importância de haver “formalidade na gestão da empresa”, ou seja, haver um conselho de administração e “protocolos familiares que definem a forma de acesso à gestão”.
93%
é a percentagem das inquiridas para o barómetro das empresas familiares da KPMG que diz ter uma estrutura acionista de capital fechado
Contudo, isso não significa que não haja a possibilidade de deixar entrar um gestor de fora para liderar a empresa ou mesmo abrir o capital aos mercados ou a investidores estrangeiros. Na Logoplaste fizeram isso e foi uma forma de a empresa crescer, mas na Nutrinveste, para já, não houve necessidade disso. O facto de operarem internacionalmente tem sido suficiente para exigir da empresa os resultados que um investidor externo exigiria, diz Madalena Freire de Andrade.
O ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, encerrou o encontro desta manhã, destacando a importância da ligação emocional à família