Projetos Expresso

Europa tem que reindustrializar-se e encurtar cadeias de abastecimento

António Nogueira Leite, economista e chairman da Hipoges, Nelson Pires, diretor-geral da Jaba Recordati, e Sandra Balão, professora associada do ISCSP, participaram na conferência 'Parar para Pensar: Globalização', a primeira de seis que decorrerão ao longo das próximas semanas. A conversa foi moderada pela jornalista da SIC, Marta Atalaya (à esquerda)
António Nogueira Leite, economista e chairman da Hipoges, Nelson Pires, diretor-geral da Jaba Recordati, e Sandra Balão, professora associada do ISCSP, participaram na conferência 'Parar para Pensar: Globalização', a primeira de seis que decorrerão ao longo das próximas semanas. A conversa foi moderada pela jornalista da SIC, Marta Atalaya (à esquerda)
NUNO FOX

Países da União Europeia precisam de garantir sustentabilidade energética e autossuficiência alimentar. Portugal pode ser porta de entrada da energia no ‘velho continente’, dinamizar a indústria e aproveitar a tecnologia e mão de obra qualificada para consolidar o investimento no sector aeroespacial, em que está a dar os primeiros passos

Fátima Ferrão

António Nogueira Leite, economista e chairman da Hipoges, Nelson Pires, diretor-geral da Jaba Recordati, e Sandra Balão, professora associada do ISCSP, participaram na conferência 'Parar para Pensar: Globalização', a primeira de seis que decorrerão ao longo das próximas semanas. A conversa foi moderada pela jornalista da SIC, Marta Atalaya (à esquerda)
Loading...

A Europa tem, defendem os especialistas, de deixar de ser apenas uma plataforma neutra de negócios e começar, desde já, a trabalhar para reduzir a sua dependência de outros mercados, perante um risco geopolítico que passou a ser real. A globalização, cuja ascensão teve início na década de 80 do século XX, tende a perder pujança, uma tendência que já se manifesta há mais de uma década, desde a crise financeira de 2008. Que disrupções provocaram dois anos de pandemia e que impactos estão já a sentir-se como efeito direto e indireto da guerra na Ucrânia? Questões que motivaram a conversa que decorreu esta tarde na sede do Grupo Impresa, em Paço de Arcos, e que serviu de arranque à terceira edição da iniciativa ‘Parar para Pensar’, promovida pelo Expresso com o apoio da Deco Proteste.

Sob o signo da globalização e dos seus desafios, a jornalista da SIC, Marta Atalaya, conduziu o debate que juntou António Nogueira Leite, economista e chairman da Hipoges, Nelson Pires, diretor-geral da Jaba Recordati, e Sandra Balão, professora no Instituto de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP). De entre as principais conclusões fica a ideia, unânime, de que a Europa precisa de reconstruir a sua indústria, reduzindo a dependência de países de outros continentes, como a China, e de que a pandemia demonstrou ao mundo que as cadeias de abastecimento devem ser de proximidade, evitando constrangimentos em momentos de turbulência. “As cadeias de abastecimento longas provaram ser ineficientes e pouco rentáveis”, diz Nelson Pires que, acrescenta: “temos que fabricar mais perto, o que abre espaço a novas oportunidades para a indústria europeia”.

Por outro lado, os participantes no debate defendem que a União Europeia (UE) tem que trabalhar no sentido da independência energética. “Esta é uma oportunidade para Portugal que pode ser uma porta para a Europa”, salienta Nelson Pires. Uma opinião partilhada por António Nogueira Leite que refere o esforço que o Governo está a fazer para que o porto de Sines possa receber o gás liquefeito proveniente do norte de África, e de outros pontos do mundo, com vista à distribuição pelos restante estados-membros. “Temos a possibilidade de conseguir concretizar a tão almejada ligação da Península Ibérica com a Europa através dos Pirenéus e que, até agora, tem tido o bloqueio da França”. Se isto acontecer, reforça o economista, o país poderá tirar partido do investimento precoce na adoção de energias limpas para criar uma autonomia saudável. “E para atrair os parceiros certos para acelerar a indústria a montante desta atividade”, acrescenta.

Rita Pinho Rodrigues, da Deco Proteste, interviu antes do painel de discussão
NUNO FOX

Sandra Balão defende também que Portugal pode reforçar a presença em novos sectores, como o da indústria aeroespacial, aproveitando a tecnologia e o conhecimento e competências em engenharia, pelos quais já é internacionalmente reconhecido. “Este pode ser mais um elemento positivo para a consolidação da indústria nacional”.

Outras conclusões:

  • “Portugal deve focar-se em pequenos nichos de mercado que a Europa abandonou, tais como, a produção de medicamentos biológicos, o desenvolvimento do sector agrícola, ou a engenharia do mar, tirando partido da sua localização geográfica e da mão de obra especializada”, disse Nelson Pires.
  • “Há hoje uma maior consciência, entre os países da UE, de que a segurança e a defesa são áreas prioritárias de investimento”, defende Sandra Balão. Na perspetiva da professora do ISCSP, a opinião pública dos países mostra-se agora mais favorável a este reforço. “Há vontade política e orçamento da União neste sentido”, reforça.
  • “A sociedade vai continuar a ser mais global do que nos anos 80, e menos do que há 10 anos”, acredita António Nogueira Leite que não tem dúvidas de que “há muito a aprender com estas crises”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate