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Aspetos de natureza política e geoestratégica pesam mais nas decisões de investimento

Os riscos da globalização ficaram mais visíveis com a pandemia e com a guerra vivida na Ucrânia
Os riscos da globalização ficaram mais visíveis com a pandemia e com a guerra vivida na Ucrânia
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Já não basta às empresas olhar para fatores económicos ou de avaliação do potencial dos mercados onde desejam investir, é preciso considerar uma série de elementos que antes não seriam prioritários. Consequências de uma alteração nas premissas da globalização, fruto de uma década e meia de transformações. As mudanças na forma de fazer negócios a nível global estarão em discussão na primeira conferência ‘Parar para Pensar’, uma iniciativa do Expresso e da Deco Proteste, que decorre esta quarta-feira, às 19h

Fátima Ferrão

A segurança dos aprovisionamentos de matérias-primas, energia, questões políticas ou geoestratégicas, serão cada vez mais ponderadas na análise de risco das organizações. Esta é uma das consequências visíveis das transformações impostas desde a crise financeira de 2008, momento em que o movimento de globalização da economia recebeu o seu primeiro revés. “Se olharmos para a soma dos fluxos comerciais e financeiros, verificamos que a globalização cresceu sempre desde os anos 80 até 2008, data em que sofreu uma quebra brusca de 14%. que, apesar das oscilações entretanto registadas, se manteve até 2016”, recorda António Nogueira Leite. Em declarações ao Expresso, o economista, e chairman da Hipoges, aponta as guerras comerciais entre os Estados Unidos e outros blocos durante a presidência Trump, a pandemia de covid 19, e agora a invasão russa da Ucrânia, como fatores que contribuíram para que esta tendência decrescente nos fluxos comerciais e financeiros se mantivesse até hoje.

António Nogueira Leite será um dos participantes na conferência ‘Parar para Pensar: Globalização’, a primeira de seis que irão decorrer ao longo das próximas semanas, com o objetivo de debater temas estruturantes no pós-pandemia. À mesma mesa sentar-se-ão Sandra Balão, professora associada do ISCSP, e Nelson Pires, diretor-geral da JABA Recordati.

"O mundo está a avançar em direção à “blocalização” - constituição de blocos autossustentáveis ao nível da produção e do consumo, mas também política e socialmente equilibrados -, e Portugal tem tudo para ser um dos poucos países multibloco no centro do planeta", afirma Nelson Pires

O sistema internacional de trocas parece comprometido - designadamente no que se refere à interdependência crescente e complexa a que nos havia habituado e que parecia capaz de responder com sucesso e celeridade a todas as necessidades dos diferentes atores dele partes e nele participantes”, disse Sandra Balão. Na sua opinião, parece evidente que os Estados continuem a ter que se reinventar em termos de métodos e processos, de modo a cumprir as suas funções e a responder às necessidades coletivas, mantendo a sua funcionalidade e ordem interna. “Duvido que estejamos a assistir à 'desglobalização', mas a indústria da Segurança e Defesa tem uma importante palavra a dizer”, defende.

Com opinião distinta, Nelson Pires, defende que “a globalização morreu”, por duas razões distintas. A primeira, explica, “com o covid-19 entendemos que as cadeias de abastecimento demasiado longas, dependentes de países terceiros, assentes em sistemas de transportes marítimos pouco previsíveis e caros, não funciona”. Por outro lado, a invasão da Ucrânia pela Rússia, demonstrou que estados interdependentes e abertos, económica e politicamente, que respeitam os direitos humanos, “não podem sustentar modelos ditatoriais e autocráticos de regimes oligarcas e, muito menos, estar sujeitos a chantagens económicas por motivos políticos (chantagem energética e alimentar por exemplo)”. Ou seja, para o diretor-geral da Jaba Recordati, o mundo está a avançar em direção à “blocalização” - constituição de blocos autossustentáveis ao nível da produção e do consumo, mas também política e socialmente equilibrados -, e Portugal tem tudo para ser um dos poucos países multibloco no centro do planeta.

Para acompanhar o debate sobre esta temática siga a transmissão ao vivo no Facebook do Expresso, na próxima quarta-feira, dia 1, a partir das 19 horas.

14%

de quebra nos fluxos comerciais e financeiros, em 2008, valor que se manteve até 2016, e que tende a pequenas oscilações até hoje. O primeiro sinal de abrandamento da globalização

Parar para Pensar: Globalização

O que é?

A conferência "Parar para Pensar: Globalização" é a segunda de um ciclo de seis que junta o Expresso e a Associação Deco Proteste, e que tem por objetivo pensar sobre temas estruturantes no pós-pandemia.

Quando, onde e a que horas?

No dia 1 de junho, às 19h00, para assistir em direto na página de Facebook do Expresso.

Quem são os oradores?

  • António Nogueira Leite, economista e chairman da Hipoges
  • Nelson Pires, Diretor-Geral da JABA Recordati
  • Sandra Balão – Professora Associada - ISCSP

Porque é que este tema é central?

A pandemia veio demonstrar que um mundo globalizado apresenta vantagens inquestionáveis, de que é exemplo o trabalho colaborativo que acelerou o desenvolvimento das vacinas contra a covid-19, mas também fragilidades, como se viu no que toca aos problemas logísticos e de transporte. A Europa percebeu que a descentralização da indústria é uma desvantagem, abrindo portas a uma nova discussão sobre a reindustrialização do velho continente. A guerra na Ucrânia introduziu também novos elementos disruptivos, que levam o mundo a questionar se a globalização não deverá transformar-se em 'glocalização'.

Onde posso assistir?

Facebook do Expresso.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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