O que fizeram estas empresas para merecer um prémio

Empresas. Borregos, construção, computadores, limpezas. A lista dos vencedores dos Prémios Expresso Economia é tão rica quanto Portugal. Falámos com alguns para perceber por que ganharam
Empresas. Borregos, construção, computadores, limpezas. A lista dos vencedores dos Prémios Expresso Economia é tão rica quanto Portugal. Falámos com alguns para perceber por que ganharam
Ana Baptista
A história da Pasto Alentejano II começou há 100 anos, com um quintal com “15 a 20 borregos” e “um pequeno talho” em Sousel, no Alentejo. Foi só quando os filhos de Etelvina e Vicente Serralheiro — Augusto e José — assumiram o controlo, nos anos 2000, é que deixou de ser um negócio caseiro e se começou a expandir, conta ao Expresso Tiago Serralheiro, filho de Augusto e outro dos administradores. “O meu pai e o meu tio industrializaram a empresa e chegaram aos sete mil borregos. Entretanto, o talho fechou há 15 ou 20 anos e transformou-se numa fábrica onde fazemos abate, desmancho, embalamento e congelação dos borregos, que já são 70 mil e que vendemos para grandes superfícies em Portugal e para o estrangeiro.” O consumo de borrego é altamente sazonal. “Cá vende-se mais na Páscoa e no Natal e há uns cinco ou seis anos tivemos de apostar na exportação para países que consomem borrego durante todo o ano, como Israel, que é o nosso principal mercado”, acrescenta.
Apesar de ter 32 anos de vida e fabricar computadores, a história da Inforlandia é muito semelhante à da Pasto Alentejano. Também começou com pequenas lojas de informática em bairros e centros comerciais e com alguns projetos de assemblagem de computadores portáteis, mas em 2011 venceu parte do concurso e-escolas e tudo muda. “Fizemos 250 mil computadores. Foi um crescimento fortíssimo, que nos preparou para projetos internacionais e depois aumentámos imenso as exportações”, conta Gabriel Santos, um dos fundadores e administrador. Ambiciosos, em 2018 patentearam uma tecnologia de segurança de hardware que lhes tem permitido participar em projetos maiores noutros mercados, como África do Sul ou Argentina. “Estes computadores são propriedade da escola e no final do ano letivo têm de ser devolvidos, mas há muitos roubos, alguns nas famílias, para depois venderem o equipamento, e a nossa tecnologia faz com que o computador seja bloqueado remotamente se não for devolvido e torna-se obsoleto, não serve para nada. E nestes países esta tecnologia é um elemento decisivo”, vinca.
A Inforlandia e a Pasto Alentejano são apenas dois exemplos entre as 46 empresas que esta semana foram distinguidas nos Prémios Expresso Economia, uma parceria com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), a Informa DB e a Deloitte (ver lista de vencedores ao lado). O objetivo é destacar as PME e as grandes empresas entre as mil maiores de Portugal que mais cresceram num respetivo sector ou escalão de faturação, neste caso em 2020, ano de covid e em que 45% das empresas portuguesas perderam mais de 10% do seu volume de negócios. Por isso, explica a Informa DB, a forma como estas empresas responderam à pandemia foi um dos fatores decisivos na escolha dos vencedores.
Em março de 2020, a Pasto Alentejano e outros produtores de borrego estavam a preparar-se para a Páscoa, que seria dali a um mês. Mas, com os restaurantes a fechar, o turismo a parar e as pessoas a fecharem-se em casa sem poder viajar para irem ter com a família, temeu-se o pior. “Convocámos uma reunião num domingo de manhã para definir a estratégia: ou reduzíamos a produção e não criávamos mais stock ou ajudávamos os produtores que não conseguiam vender os borregos e aumentávamos as nossas vendas”, conta Tiago Serralheiro. Escolheram a segunda opção e rapidamente apostaram numa nova forma de embalar a carne de borrego, colocando-a já cortada em partes em cuvetes, prontas a levar, e começaram a procurar novos mercados internacionais para escoar o produto. “Passámos a ter 80% das vendas nas cuvetes e de cinco ou seis mercados passámos a exportar para 22, entre eles o Dubai, o Catar, o Egito, a França e a Alemanha”, diz. Tudo junto, a faturação cresceu uns 15% a 20% durante a covid.
Na Inforlandia, a faturação manteve-se em 2020 e foi nas exportações que se destacaram, tanto em volume como em novos mercados. Aliás, foi esse o prémio que ganharam. “Tivemos muita procura de computadores para o ensino e trabalho remoto na Europa. No início da pandemia vendemos todo o stock que tínhamos, não só porque tínhamos as peças, mas porque fomos e somos mais rápidos. Conseguimos fazer um computador com um teclado em qualquer língua e em qualquer quantidade e entregá-lo numa semana, porque o teclado já está montado e, com uma máquina a laser, gravamos as letras em 10 segundos. Por causa da covid, as encomendas que vêm da China podem demorar seis meses a chegar à Europa”, explica Gabriel Santos. Contas feitas, em 2020 venderam 500 mil unidades, o dobro de 2019, e em 2021 foram 800 mil. Por mais que lhe custe admitir, Gabriel Santos tem noção de que a empresa beneficiou com a pandemia. Mas não é o único. “Em termos de negócio, a covid foi uma vantagem”, repara Ondina Leitão, fundadora e administradora da Interlimpe, uma empresa de serviços de limpeza, e outra das vencedoras dos Prémios Expresso Economia. Os clientes com escritórios tiveram de ser convencidos de que, apesar de a maioria dos empregados irem para casa, os que ficavam iriam precisar ainda mais de limpeza. Mas nos centros de saúde e nas fábricas que nunca pararam os serviços foram logo reforçados, conta. Além disso, conseguiram clientes novos, como os centros de vacinação. “Por norma, a limpeza é feita de manhã muito cedo e ao final do dia, mas nestes locais tem de ser o dia todo, e passámos a ter pessoas a trabalhar todos os dias do ano e o dia inteiro, por turnos. De tal forma que em 2020 e 2021 contratámos umas 300 a 400 pessoas”, conta. Foi, aliás, na categoria do crescimento do emprego que a Interlimpe venceu. Nessa e na da longevidade. “Fazemos 31 anos este ano e construí tudo do início, eu e o meu marido. Durante os primeiros anos ou não tivemos férias ou tínhamos férias alternadas, por causa dos filhos”, diz Ondina, 63 anos.
“Achámos nós que a covid era má, mas esta situação é muito pior”, lamenta Severino Ponte, um dos sócios e administradores da Construções Vila Maior 2, outra das PME vencedoras. “Nos últimos seis meses, o custo do ferro e do betão subiu 20% e o custo da construção aumentou uns 15% e não sabemos se daqui a uns meses não subirá 20%.” A incerteza é tanta que, com 36 anos de vida e quase 500 casas em obra neste momento, estão a fazer algo que nunca tinham feito: comprar material antecipadamente e fazer stock. Por causa dos preços e da escassez de materiais. “Os eletrodomésticos já estão a demorar uns 15 dias a entregar, porque há falta de aço”, conta.
Na Pasto Alentejano também já se sente o impacto da guerra na Ucrânia. “Os preços da ração eram definidos de mês a mês e agora são fixados de 15 em 15 dias e sobem sempre. Estamos a gastar €300 mil em ração todas as semanas e não sei se amanhã aumentam mais ou sequer se vai haver ração. É muito assustador”, vinca Tiago Serralheiro. Tão assustador que já tiveram a “reunião de domingo”, mas desta vez a estratégia não é tão fácil de definir. “Na pandemia conseguíamos controlar as coisas e agora não, pois o grande problema é a incerteza.”
Os Prémios Expresso Economia distinguem Grandes Empresas, Pequenas e Médias Empresas (PME) e ainda o Empresário do Ano e a Conquista Empresarial do Ano. Os prémios foram entregues esta semana: na segunda-feira à tarde às PME e na quarta-feira à noite às Grandes Empresas, ao Empresário do Ano e à empresa vencedora da Conquista Empresarial do Ano. Estes são os distinguidos
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Textos originalmente publicados no Expresso de 1 de abril de 2022
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