Projetos Expresso

O que fizeram estas empresas para merecer um prémio

A entrega dos Prémios Expresso PME | Caixa Top e dos Prémios Expresso Economia | CGD decorreu esta semana em duas ocasiões diferentes. Ao todo, nos dois dias foram mencionados e entregues prémios a 46 empresas, que venceram pelo crescimento do negócio, das exportações ou do emprego, pela subida exponencial da faturação em 2020 ou por atingirem um grande feito financeiro, como a Sword Health, uma startup nascida no Porto que atingiu e duplicou, em simultâneo, o estatuto de unicórnio. Um dos fundadores, Márcio Colunas, recebeu o prémio de Paulo Macedo e de Francisco Pinto Balsemão
A entrega dos Prémios Expresso PME | Caixa Top e dos Prémios Expresso Economia | CGD decorreu esta semana em duas ocasiões diferentes. Ao todo, nos dois dias foram mencionados e entregues prémios a 46 empresas, que venceram pelo crescimento do negócio, das exportações ou do emprego, pela subida exponencial da faturação em 2020 ou por atingirem um grande feito financeiro, como a Sword Health, uma startup nascida no Porto que atingiu e duplicou, em simultâneo, o estatuto de unicórnio. Um dos fundadores, Márcio Colunas, recebeu o prémio de Paulo Macedo e de Francisco Pinto Balsemão
NUNO FOX

Empresas. Borregos, construção, computadores, limpezas. A lista dos vencedores dos Prémios Expresso Economia é tão rica quanto Portugal. Falámos com alguns para perceber por que ganharam

Ana Baptista

A história da Pasto Alentejano II começou há 100 anos, com um quintal com “15 a 20 borregos” e “um pequeno talho” em Sousel, no Alentejo. Foi só quando os filhos de Etelvina e Vicente Serralheiro — Augusto e José — assumiram o controlo, nos anos 2000, é que deixou de ser um negócio caseiro e se começou a expandir, conta ao Expresso Tiago Serralheiro, filho de Augusto e outro dos administradores. “O meu pai e o meu tio industrializaram a empresa e chegaram aos sete mil borregos. Entretanto, o talho fechou há 15 ou 20 anos e transformou-se numa fábrica onde fazemos abate, desmancho, embalamento e congelação dos borregos, que já são 70 mil e que vendemos para grandes superfícies em Portugal e para o estrangeiro.” O consumo de borrego é altamente sazonal. “Cá vende-se mais na Páscoa e no Natal e há uns cinco ou seis anos tivemos de apostar na exportação para países que consomem borrego durante todo o ano, como Israel, que é o nosso principal mercado”, acrescenta.

Apesar de ter 32 anos de vida e fabricar computadores, a história da Inforlandia é muito semelhante à da Pasto Alentejano. Também começou com pequenas lojas de informática em bairros e centros comerciais e com alguns projetos de assemblagem de computadores portáteis, mas em 2011 venceu parte do concurso e-escolas e tudo muda. “Fizemos 250 mil computadores. Foi um crescimento fortíssimo, que nos preparou para projetos internacionais e depois aumentámos imenso as exportações”, conta Gabriel Santos, um dos fundadores e administrador. Ambicio­sos, em 2018 patentearam uma tecnologia de segurança de hardware que lhes tem permitido participar em projetos maiores noutros mercados, como África do Sul ou Argentina. “Estes computadores são propriedade da escola e no final do ano letivo têm de ser devolvidos, mas há muitos roubos, alguns nas famílias, para depois venderem o equipamento, e a nossa tecnologia faz com que o computador seja bloqueado remotamente se não for devolvido e torna-se obsoleto, não serve para nada. E nestes países esta tecnologia é um elemento decisivo”, vinca.

A Inforlandia e a Pasto Alentejano são apenas dois exemplos entre as 46 empresas que esta semana foram distinguidas nos Prémios Expresso Economia, uma parceria com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), a Informa DB e a Deloitte (ver lista de vencedores ao lado). O objetivo é destacar as PME e as grandes empresas entre as mil maiores de Portugal que mais cresceram num respetivo sector ou escalão de faturação, neste caso em 2020, ano de covid e em que 45% das empresas portuguesas perderam mais de 10% do seu volume de negócios. Por isso, explica a Informa DB, a forma como estas empresas responderam à pandemia foi um dos fatores decisivos na escolha dos vencedores.

A “reunião de domingo”

Em março de 2020, a Pasto Alentejano e outros produtores de borrego estavam a preparar-se para a Páscoa, que seria dali a um mês. Mas, com os restaurantes a fechar, o turismo a parar e as pessoas a fecharem-se em casa sem poder viajar para irem ter com a família, temeu-se o pior. “Convocámos uma reunião num domingo de manhã para definir a estratégia: ou reduzíamos a produção e não criávamos mais stock ou ajudávamos os produtores que não conseguiam vender os borregos e aumentávamos as nossas vendas”, conta Tiago Serralheiro. Escolheram a segunda opção e rapidamente apostaram numa nova forma de embalar a carne de borrego, colocando-a já cortada em partes em cuvetes, prontas a levar, e começaram a procurar novos mercados internacionais para escoar o produto. “Passámos a ter 80% das vendas nas cuvetes e de cinco ou seis mercados passámos a exportar para 22, entre eles o Dubai, o Catar, o Egito, a França e a Alemanha”, diz. Tudo junto, a faturação cresceu uns 15% a 20% durante a covid.

As grandes empresas distinguidas foram anunciadas na quarta-feira, após um jantar na sede da CGD
NUNO FOX

Na Inforlandia, a faturação manteve-se em 2020 e foi nas exportações que se destacaram, tanto em volume como em novos mercados. Aliás, foi esse o prémio que ganharam. “Tivemos muita procura de computadores para o ensino e trabalho remoto na Europa. No início da pandemia vendemos todo o stock que tínhamos, não só porque tínhamos as peças, mas porque fomos e somos mais rápidos. Conseguimos fazer um computador com um teclado em qualquer língua e em qualquer quantidade e entregá-lo numa semana, porque o teclado já está montado e, com uma máquina a laser, gravamos as letras em 10 segundos. Por causa da covid, as encomendas que vêm da China podem demorar seis meses a chegar à Europa”, explica Gabriel Santos. Contas feitas, em 2020 venderam 500 mil unidades, o dobro de 2019, e em 2021 foram 800 mil. Por mais que lhe custe admitir, Gabriel Santos tem noção de que a empresa beneficiou com a pandemia. Mas não é o único. “Em termos de negócio, a covid foi uma vantagem”, repara Ondina Leitão, fundadora e administradora da Interlimpe, uma empresa de serviços de limpeza, e outra das vencedoras dos Prémios Expresso Economia. Os clientes com escritórios tiveram de ser convencidos de que, apesar de a maioria dos empregados irem para casa, os que ficavam iriam precisar ainda mais de limpeza. Mas nos centros de saúde e nas fábricas que nunca pararam os serviços foram logo reforçados, conta. Além disso, conseguiram clientes novos, como os centros de vacinação. “Por norma, a limpeza é feita de manhã muito cedo e ao final do dia, mas nestes locais tem de ser o dia todo, e passámos a ter pessoas a trabalhar todos os dias do ano e o dia inteiro, por turnos. De tal forma que em 2020 e 2021 contratámos umas 300 a 400 pessoas”, conta. Foi, aliás, na categoria do crescimento do emprego que a Interlimpe venceu. Nessa e na da longevidade. “Fazemos 31 anos este ano e construí tudo do início, eu e o meu marido. Durante os primeiros anos ou não tivemos férias ou tínhamos férias alternadas, por causa dos filhos”, diz Ondina, 63 anos.

Depois da covid… a guerra

“Achámos nós que a covid era má, mas esta situação é muito pior”, lamenta Severino Ponte, um dos sócios e administradores da Construções Vila Maior 2, outra das PME vencedoras. “Nos últimos seis meses, o custo do ferro e do betão subiu 20% e o custo da construção aumentou uns 15% e não sabemos se daqui a uns meses não subirá 20%.” A incerteza é tanta que, com 36 anos de vida e quase 500 casas em obra neste momento, estão a fazer algo que nunca tinham feito: comprar material antecipadamente e fazer stock. Por causa dos preços e da escassez de materiais. “Os eletrodomésticos já estão a demorar uns 15 dias a entregar, porque há falta de aço”, conta.

Na Pasto Alentejano também já se sente o impacto da guerra na Ucrânia. “Os preços da ração eram definidos de mês a mês e agora são fixados de 15 em 15 dias e sobem sempre. Estamos a gastar €300 mil em ração todas as semanas e não sei se amanhã aumentam mais ou sequer se vai haver ração. É muito assustador”, vinca Tiago Serralheiro. Tão assustador que já tiveram a “reunião de domingo”, mas desta vez a estratégia não é tão fácil de definir. “Na pandemia conseguíamos controlar as coisas e agora não, pois o grande problema é a incerteza.”

Os vencedores

Os Prémios Expresso Economia distinguem Grandes Empresas, Pequenas e Médias Empresas (PME) e ainda o Empresário do Ano e a Conquista Empresarial do Ano. Os prémios foram entregues esta semana: na segunda-feira à tarde às PME e na quarta-feira à noite às Grandes Empresas, ao Empresário do Ano e à empresa vencedora da Conquista Empresarial do Ano. Estes são os distinguidos

Empresário do Ano

  • Daniela Braga, fundadora e CEO da Defined AI

Conquista Empresarial do Ano

  • Sword Health

Prémios Expresso Economia | Caixa Geral de Depósitos Categoria — Crescimento do Negócio

Escalão

  • Até €50 milhões Aubay Portugal (consultoria informática)
  • Entre €50 milhões e €100 milhões Altran Portugal (engenharia para indústria inteligente)
  • Mais de €100 milhões Purem Tondela (fabrico de componentes para automóveis)

Categoria — Crescimento das Exportações

Escalão

  • Até €50 milhões Brunswick Marine (fabrico de barcos de recreio)
  • Entre €50 milhões e €100 milhões Inforlandia (fabrico de computadores e hardware de segurança)
  • mais de €100 milhões Teleperformance (serviços telefónicos de apoio ao cliente)

Categoria — Crescimento do Emprego

  • Interlimpe (serviços de limpeza para indústrias e empresas)
As PME vencedoras foram conhecidas na passada segunda-feira, após um almoço na Casa da Música, no Porto
Rui Duarte Silva

Categoria — Subida de Escalão

Escalão

  • De até €50 milhões para entre €50 milhões e €100 milhões Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa (análises clínicas)
  • De entre €50 milhões e €100 milhões para mais de €100 milhões Maxmat (distribuição de materiais de construção)

Prémios Longevidade

  • Teleperformance Portugal (serviços telefónicos de apoio ao cliente)
  • Action Portugal (marketing telefónico)
  • Casa Santos Lima (produção de vinho)
  • TJA (transporte e logística)
  • Fromageries Bel Portugal (produção de queijo)
  • Securitas Direct (serviços de segurança)
  • Critical Software (software e sistemas de informação)
  • Interlimpe (serviços de limpeza)
  • M Cunha & Companhia (comércio grossista de produtos alimentares)
  • Damião de Medeiros (retalho alimentar, bricolage e ourivesaria)
  • Unicolor Alumínios (sistemas de alumínio)

Prémios Expresso PME | Caixa Top

Categoria — Agricultura e Outros Recursos Naturais

  • Frutadivina (produção de fruta e flores)
  • Herdade das Amêndoas Doces (consultoria e gestão de pomares de amêndoa)
  • Planície Verde (produção de fruta e legumes)

Categoria — Indústrias

  • Ecosteel (fabrico e design de janelas)
  • Destilaria Levira (produção de aguardentes e licores)
  • O Feliz Painel (fabrico de painéis isolantes)

Categoria — Construção e Imobiliário

  • Construções Vila Maior 2 (construção e promoção de casas)
  • Detailsmind (construção e reabilitação)
  • Irmãos Moreiras (construção civil e obras públicas)

Categoria — Transportes

  • Portugalenses (transporte rodoviário de carga)
  • Transtdf (equipamentos e serviços de logística)
  • Vanesp Ibérica (transporte aéreo e marítimo)

Categoria — Retalho

  • Castro Electrónica (comércio de produtos eletrónicos)
  • Multimoto (venda de motorizadas)
  • Petroalva (comércio e distribuição de combustíveis)

Categoria — Tecnologia da Informação e Comunicação

  • Ebankit (soluções para banca digital)
  • iStore (serviço Apple)
  • tech4home (soluções remotas e wireless)

Categoria — Grossista

  • BioPortugal (importação e comércio de produtos farmacêuticos)
  • Hortorres (produção e comércio de hortícolas)
  • Pasto Alentejano II (criação e venda de borregos)

Categoria — Serviços

  • Isete (serviços energéticos)
  • Pamafe (soluções de cloud e cibersegurança)
  • Promo (serviços de marketing)

Textos originalmente publicados no Expresso de 1 de abril de 2022

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