O presidente da República marcou presença na cerimónia do “Bial Award in Biomedicine”, que distinguiu esta tarde o cientista Drew Weissman pelo desenvolvimento da tecnologia mRNA que está na base das vacinas contra a covid-19. O prémio ascende a €300 mil
“Ver o sucesso fenomenal da proteção das vacinas covid-19 deixou-me incrivelmente feliz”, confessa Drew Weissman, líder da equipa de cientistas responsável pelo desenvolvimento da tecnologia mRNA. Ainda antes da pandemia ser uma realidade, as mais de três dezenas de investigadores trabalhavam no desenvolvimento de uma vacina que permitisse enfrentar a epidemia do vírus zika. O resultado foi surpreendente: estava encontrada uma plataforma de mRNA, que permitiria não só criar uma arma terapêutica contra o SARS-CoV2, como abrir a janela de esperança para o eventual surgimento de vacinas capazes de combater múltiplas doenças e infeções. Este trabalho, publicado pela primeira vez na revista científica Nature, em 2017, valeu ao cientista e à sua equipa o galardão “Bial Award in Biomedicine” de 2022, no valor de €300 mil.
A cerimónia de entrega do prémio, que decorreu na tarde desta sexta-feira, na Reitoria da Universidade de Lisboa, contou com a presença de Drew Weissman, que subiu a palco para agradecer o reconhecimento e perspetivar o que o mRNA pode vir a oferecer à saúde pública. “Gosto sempre de olhar para o futuro. O nosso laboratório está a trabalhar em muitas outras aplicações para vacinas de mRNA”, aponta. Entre elas, a esperança de conseguir encontrar uma terapêutica que resolva a epidemia de VIH/SIDA, mas também outras doenças que continuam a afetar milhões de pessoas em todo o mundo e, em particular, em África – a malária é disso exemplo.
“Gosto sempre de olhar para o futuro. O nosso laboratório está a trabalhar em muitas outras aplicações para vacinas de mRNA”
Drew Weissman, cientista norte-americano e vencedor do “Bial Award in Biomedicine” de 2022
Luís Portela, presidente da Fundação Bial, a quem o Expresso se associou na atribuição deste prémio, sublinhou a “enorme qualidade” do trabalho científico “que em muito beneficiou a sociedade e que muito mais poderá beneficiar”. Para o responsável, é importante reconhecer o mérito desta descoberta, não apenas pelo impacto na luta da humanidade contra a covid-19, mas sobretudo por ter aberto caminho “para outras terapêuticas inovadoras”.
O trabalho vencedor foi escolhido entre 47 artigos científicos nomeados e produzidos nos últimos dez anos na área da biomedicina. Os restantes projetos de investigação trabalhavam em áreas como as doenças neurodegenerativas, cancro ou doenças infecciosas. O júri foi liderado pelo neurocientista Ralph Adolphs.
Marcelo Rebelo de Sousa entregou esta tarde o galardão “Bial Award in Biomedicine” aos investigadores (da esquerda para a direita) Michael J. Hogan e Drew Weissman, juntamente com o presidente da Fundação Bial, Luís Portela/Fotos: Nuno Fox
Conheça as principais conclusões do evento:
O presidente da República, que fez questão de marcar presença na cerimónia, aproveitou o regresso à Universidade de Lisboa, onde durante décadas lecionou, para lembrar o que considera ser o importante papel das instituições de ensino superior: “A universidade não é apenas um lugar de transmissão de conhecimento, é um lugar de pesquisa e de investigação”, diz.
Porque o “a ciência não tem tempos marcados a não ser a urgência de todo o tempo”, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou a “pré-história de investigação”, que antecedeu a criação e disponibilização das vacinas contra a covid-19, aludindo à desconfiança de muitos relativamente ao processo de desenvolvimento da terapêutica. Reservou, ainda, algumas linhas do discurso para reforçar a importância de “negar os negacionismos” e de valorizar o papel da descoberta científica. “A ciência é crucial”, afirmou.
€300 mil
foi o valor atribuído pelo "Bial Award in Biomedicine" ao projeto vencedor
Munido de uma forte dose de humildade, Drew Weissman mostrou-se surpreendido pelo impacto que as décadas de trabalho que dedicou, em conjunto com a sua equipa, à investigação sobre mRNA. “Estamos a trabalhar em vacinas mRNA para alergias alimentares e numa vacina que previne alergia a amendoins”, antecipou. Mas esta é apenas a ponta do icebergue, já que doenças como o VIH, a malária ou o cancro fazem parte das possibilidades terapêuticas que podem resultar da tecnologia mRNA. “O vosso talento mudou o mundo. Obrigado por isso”, rematou Marcelo Rebelo de Sousa.