Aumentar e estabilizar financiamento à investigação biomédica é essencial para atrair quadros especializados
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Dificuldades no apoio financeiro a projetos e a instituições ameaçam “atratividade” da carreira, garante Graça Baltazar. A investigadora lembra o “contributo fundamental” da biomedicina no combate à covid-19 e pede mais estabilidade. Na próxima sexta-feira, dia 18, o Expresso associa-se à Fundação Bial para mais uma edição do “Bial Award in Biomedicine”. A cerimónia será transmitida no Facebook do semanário a partir das 16h
As dificuldades no financiamento de projetos científicos em Portugal não são novidade, mas investigadores e responsáveis universitários defendem ser urgente resolvê-las para que o país não deixe fugir os seus talentos. “Portugal encontra-se num momento crucial e especial, em que tem disponível um conjunto de jovens altamente qualificados e preparados para as atividades de investigação científica e que não se pode dar ao luxo de desperdiçar”, afirma ao Expresso o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira.
Para evitar a célebre fuga de cérebros para o estrangeiro, será importante reforçar os meios de financiamento à investigação e, em paralelo, estabilizar a cadência desses apoios. “A investigação em biomedicina é exigente quanto a recursos financeiros, equipamento e necessidade permanente de atualização das metodologias experimentais, sendo por esta razão muito dependente da obtenção regular de financiamento”, detalha Graça Baltazar.
Investigadora e professora de biomedicina na Universidade da Beira Interior (UBI), Graça Baltazar lamenta a escassez de apoio nacional aos investigadores que dificultam a produção de conhecimento com valor acrescentado. Os programas existentes, diz, “têm vindo a restringir cada vez mais os projetos e investigadores com condições para se candidatar, limitando quer a continuidade de projetos quer a possibilidade dos jovens investigadores iniciarem as suas linhas de investigação”. O risco está na potencial perda de “atratividade face a outras carreiras”, que, em última instância, prejudica o país e o seu papel no ecossistema internacional de investigação biomédica.
“Estas dificuldades [de financiamento], e indefinições, certamente contribuem para que a investigação na área biomédica perca atratividade face a outras carreiras”
Graça Baltazar, investigadora e professora na Universidade da Beira Interior
Porém, a questão não se restringe às subvenções entregues a cada projeto ou investigador individualmente. Também ao nível da infraestrutura em que se apoiam estes quadros especializados existem dificuldades no financiamento. “A investigação científica é uma atividade de mão de obra intensiva. Sem descurar que algumas áreas de investigação só são possíveis com fortes investimentos em equipamentos e meios laboratoriais”, acrescenta Luís Ferreira. Neste campo, atesta a diretora do curso de biomedicina da UBI, está em causa a “sustentabilidade da investigação”. Ainda assim, “a implementação recente das redes de infraestruturas de investigação, se mantida, será muito positiva” e poderá contribuir para “melhorar” as estruturas fundamentais partilhadas por diferentes instituições.
Apesar do “contributo fundamental [da investigação biomédica] na identificação de soluções para problemas médicos” verificado durante a pandemia de covid-19, Graça Baltazar diz não ser ainda “visível uma maior aposta nacional” nesta área. Já o reitor da Universidade de Lisboa faz questão de sublinhar “a importância das universidades” no suporte à investigação, mas também na transferência dos seus resultados para o tecido produtivo. Estas atividades, que “têm prestigiado Portugal” nos últimos anos, precisam de “condições em termos de financiamento, capacidade de desenvolvimento de carreiras e agilidade administrativa”, avisa Luís Ferreira. Recorde-se que, em 2020, o país atingiu um máximo histórico na despesa total em investigação e desenvolvimento (I&D), atingindo €3,2 mil milhões, equivalente a 1,6% do PIB. Este crescimento deve-se essencialmente ao aumento da despesa por parte das empresas e não do Estado português.
Financiar o futuro da saúde
“Em Portugal, na área da saúde, existem investigadores talentosos de elevado mérito, que publicam em quantidade e em qualidade ao nível médio do que se faz na União Europeia”, revela Luís Portela. O presidente da Fundação Bial concorda ser necessário mais investimento no ecossistema da saúde, mas sobretudo “visão estratégica para planear a longo prazo”. Desde a sua criação, em 1994, a instituição tem vindo a apoiar centenas de projetos de investigação desenvolvidos em universidades de 29 países, compromisso que agora renova com mais uma edição do “Bial Award in Biomedicine”. A iniciativa tem €300 mil para premiar “o melhor trabalho de investigação em biomedicina dos últimos dez anos” e é aberto a candidaturas de todo o mundo. Na última edição, o vencedor foi o investigador português Caetano Reis e Sousa, que desenvolve a sua atividade no Reino Unido, com um projeto de imunoterapia para doenças oncológicas.
€300 mil
é o valor global do prémio atribuído pelo “Bial Award in Biomedicine”, que vai distinguir um projeto de investigação na área da biomedicina pela segunda vez
Para este ano, Luís Portela adianta que “o júri, presidido pelo neurocientista Ralph Adolphs, decidiu premiar um trabalho científico de enorme qualidade, que em muito beneficiou a humanidade”. O nome do vencedor só será revelado na próxima sexta-feira, dia 18, durante a cerimónia de entrega do galardão que acontece na Reitoria da Universidade de Lisboa. Esta iniciativa, a que o Expresso se associou, terá transmissão em direto através da página de Facebook do semanário a partir das 16h.
Bial Award in Biomedicine
O que é
A Fundação Bial volta a organizar, em parceria com o Expresso, a cerimónia de entrega dos prémios “Bial Award in Biomedicine”, que distingue o melhor trabalho de investigação científica nesta área dos últimos dez anos. O projeto vencedor conquista um prémio no valor de €300 mil.
Quando, onde e a que horas?
Sexta-feira, dia 18, a partir das 16h, com transmissão em direto no Facebook do Expresso
Quem são os oradores em destaque?
Luís Ferreira, reitor da Universidade de Lisboa;
Luís Portela, presidente da Fundação Bial;
Menno Witter, professor e representante do júri;
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República;
Porque é que este tema é central?
Quase dois anos após o início da pandemia de covid-19, a saúde e o papel da investigação científica ganharam novo protagonismo na sociedade portuguesa. Porém, mantêm-se as dificuldades no financiamento de projetos de investigação, nomeadamente na área da biomedicina, que importa resolver para que Portugal continue a ter um papel relevante na produção de conhecimento científico.