À boleia de mais uma edição dos Prémios Pfizer, iniciativa que celebra 65 anos a apoiar projetos de investigação básica e clínica, o Expresso publica, ao longo dos próximos dias, um conjunto de entrevistas com vencedores de edições anteriores. É uma retrospetiva do caminho trilhado pela ciência portuguesa, que se inicia com Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes.
Desde 1956, estes galardões reconheceram mais de 650 investigadores em Portugal com um montante total a rondar os €2 milhões. Este ano, os projetos vencedores serão conhecidos na cerimónia que acontece no próximo dia 18 de novembro com transmissão em direto no Facebook do Expresso, e que resulta de uma parceria entre a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (SCML) e a Pfizer, contando com o apoio editorial do Expresso. Serão entregues prémios no valor de €30 mil a cada projeto vitorioso.
Porque é que a investigação que liderou, e que foi premiada em 2020, foi e continua a ser tão importante?
Na altura, o que motivou o prémio foram os resultados do primeiro ensaio clínico dessa vacina. Foi o primeiro ensaio em humanos dessa vacina, isso em si mesmo foi muito importante porque foi o momento da passagem do laboratório para o ensaio em seres humanos. Terá sido a primeira vez que um candidato a vacina desenvolvido em Portugal foi testado em ensaios clínicos de fase 1/2A – fase 1 significa a avaliação da segurança e 2A é já a avaliação da eficácia. Este era um passo absolutamente crucial porque passámos dos modelos animais e laboratoriais para um contexto clínico de ensaios em seres humanos. Espero que este projeto de vacina possa um dia vir a materializar-se num produto disponível para as pessoas.
É preciso, no entanto, ter duas coisas em conta. Uma é que desde dia 6 de outubro que existe uma vacina autorizada pela OMS contra a malária. É um passo muito importante na luta contra esta doença, mas essa vacina tem uma eficácia na ordem dos 30% contra as formas mais graves da doença. A outra é que, sendo um passo importante, não é o fim do caminho e será necessário continuar a trabalhar na segunda geração de vacinas mais eficazes.
Há outros projetos de vacina contra a malária a serem desenvolvidos em vários pontos do globo. Porque é que não se aplica a colaboração verificada no desenvolvimento das vacinas contra a covid-19 a esta doença?
A malária é causada por um parasita e um parasita é, ao contrário de um vírus, um microrganismo com uma enorme complexidade e um ciclo de vida diferente. Basta dizer que o parasita da malária tem cinco mil genes, enquanto um vírus tem, dependendo do vírus, dezenas de genes. Esta diferença de complexidade faz com que o desenvolvimento de uma vacina contra a malária seja sempre mais complicado do contra uma doença viral, tanto que, tirando esta vacina que foi agora autorizada, não há mais nenhuma vacina contra nenhuma doença parasitária humana.
A outra vertente passa pela situação sem precedentes de disponibilidade de recursos, empenho da comunidade científica e, no fundo, de uma conjugação de esforços ao nível da capacidade humana e da capacidade financeira que nunca aconteceu.
Há outro conjunto de fatores que ajudaram na covid-19, como o facto de se terem utilizado tecnologias que não eram ainda utilizadas em vacinas já disponíveis e que se mostraram extremamente eficazes contra a covid-19, assentes em décadas de investigação.
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