“Atualmente a nossa maior concorrência é o medo de viajar”

Prémio Nacional do Turismo. Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, fala sobre a recuperação do turismo na ressaca da pandemia e os perigos que ainda estão à espreita
Prémio Nacional do Turismo. Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, fala sobre a recuperação do turismo na ressaca da pandemia e os perigos que ainda estão à espreita
Jornalista
O Certificado Digital Covid, criado para agilizar as viagens na Europa já a partir de 1 de julho, é um dos aspetos que antecipa um “bom verão”. A longo prazo o objetivo é projetar Portugal como um dos destinos mais sustentáveis do mundo e alcançar as metas traçadas para 2027: €27 mil milhões, distribuídos por todo o território e ao longo de todo o ano. O país continua a despertar grande interesse como destino turístico, garante o presidente do Turismo de Portugal.
Como se promove hoje o destino Portugal?
O trabalho nunca parou. Diria que o essencial é em duas frentes: estimular a procura e manter-nos preparados para receber os turistas. Acompanhar os operadores, companhias aéreas, agentes de viagem e obviamente, os consumidores finais. O plano “Reativar o Turismo, Preparar o Futuro” foca precisamente isso, em planos de curto e longo prazo cujo objetivo é permitir em 2027 não só atingir mas ultrapassar as metas delineadas, inclusive a nível de receitas.
A que distância estão esses objetivos após a queda abrupta provocada pela pandemia?
Tínhamos previsto chegar aos €24,6 mil milhões de receitas por ano em 2027. Fechámos 2019 com €18,4 mil milhões. A nossa expectativa é retomar em 2023 os valores de 2019, confiando que a evolução é positiva, e em 2027 ultrapassar ligeiramente os €27 mil milhões. Isto em todo o território nacional e ao longo de todo o ano, com estímulo do mercado interno e do espanhol, e reforço da ligação com mercados que vinham a crescer bastante, como os EUA, Canadá, Ásia, Coreia do Sul, China, Japão... Sem esquecer os tradicionais.
O turismo interno tem sido uma boia de salvação. Mas até que ponto o país aguenta mais um verão baseado nos consumidores nacionais?
Acredito que o verão vai ser muito positivo, tendo em conta a evolução da situação pandémica, em Portugal e lá fora, da entrada em funcionamento do Certificado Digital Covid, a par do interesse por parte das companhias aéreas e do mercado de proximidade, o espanhol, sobre o nosso país. Mas não vivemos só do verão. E esse é o grande desafio: manter o ritmo de crescimento que nos permita chegar a 2023 com os mesmos números de 2019. Há aqui alguma incerteza sobre a abertura com outros mercados, a evolução da situação epidemiológica, no nosso país e nos outros, mas temos de traçar cenários com base no que existe hoje, e as perspetivas são positivas. Acredito que vamos ter um bom verão também com o mercado internacional.
Relativamente a 2020, de que números falamos?
Foi um ano com quebras entre os 60% e os 65%, e cerca de €9 mil milhões de receitas. É preciso ver que comparamos com 2019, o melhor ano de sempre. Também é relevante ter em conta que em 2020 recuamos 25 anos a nível de dormidas mas “apenas” 10 anos a nível de receitas. E isto numa ótica de sustentabilidade do destino é importantíssimo: termos mais receitas, distribuídas por todo o ano e por todo o território, com menos dormidas.
Em que é que se consubstancia a sustentabilidade do destino?
Quando lançámos a estratégia em 2017 tivemos a preocupação de colocar a sustentabilidade no centro da estratégia. Em 2020 sentimos que era preciso reforçar e acelerar esta questão. Esta semana foi lançado o plano “Turismo + Sustentável 20-23” assente em quatro pilares essenciais: dinamizar a oferta a nível financeiro, de regulamentação, de sensibilização, torná-lo mais sustentável a nível social e ambiental; qualificar os recursos humanos: estimular os empresários, e os 10% da força de trabalho nacional que trabalha no turismo, a terem atitudes mais sustentáveis; e promover Portugal enquanto destino sustentável. O quarto pilar relaciona-se com a quantificação e monitorização de tudo isto com indicadores que permitam avaliar a evolução e como podemos melhorar.
Ainda antes da pandemia já se falava no excesso de projetos hoteleiros que continuam a abrir. Há hotéis a mais em Portugal?
2020 mudou completamente o paradigma e alertou para algumas situações. Continua a haver muito interesse por Portugal. A oferta tem de responder. E responde com muita inovação, projetos espalhados por todo o território, e isso é muito positivo, sinal de uma renovação. No último ano foram muitos os que aproveitaram para fazer obras, corrigir situações, adaptar o produto a outros mercados e segmentos. Em vez de estarmos a pensar se temos muitos ou poucos hotéis devemos focar-nos em trabalhar em conjunto, perceber quais são as nossas forças, que desafios temos pela frente, e prepararmo-nos. Se conseguirmos fazer isso numa ótica de racionalização dos recursos, sustentabilidade e preocupação com o futuro vamos ter claramente um turismo melhor.
As pequenas comunidades locais que muitas vezes equilibram a sustentabilidade social também foram muito afetadas. Que consequências poderá isso ter a longo prazo?
Desconheço as consequências futuras, mas sei que o turismo faz parte da solução. O facto de estarmos a apostar na dinamização e promoção da marca Portugal enquanto destino turístico e de mostrarmos um país diverso que inclui precisamente essa autenticidade e base da nossa cultura é algo que estimula a vinda de estrangeiros e ajuda a que a recuperação, em todo o território e ao longo de todo o ano, seja mais rápida. Há três áreas essenciais para trabalhar se queremos ganhar escala e recuperar mais rapidamente: formação e capacitação, sustentabilidade e digital. Foi muito positivo ver as respostas das empresas do sector do turismo, pequenas médias e grandes, que durante 2020 apostaram precisamente nestas áreas.
Que lições se podem tirar destes últimos meses para o futuro?
Diria que várias: que a ligação humana é a coisa mais importante que temos; que a tecnologia está aqui para ajudar e libertar tempo e que temos cada vez mais de valorizar o país e proteger o que temos cá dentro. Atualmente a nossa concorrência não são os outros países ou regiões, Espanha, Croácia nem Grécia. É o medo de viajar e a incerteza sobre as viagens. E isso ganha-se com confiança.
O projeto Com os olhos postos no futuro, a terceira edição do Prémio Nacional de Turismo vai premiar negócios e projetos nacionais que se distingam como casos de sucesso em Portugal. A iniciativa do BPI e do Expresso conta com o patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal e o apoio técnico da Deloitte
As categorias
Prémio Carreira
À semelhança das edições anteriores, será ainda distinguido com o Prémio Carreira uma personalidade que se tenha destacado com um importante contributo para o sector do turismo
Datas importantes
Para se habilitar a vencer o Prémio Nacional de Turismo apresente a sua candidatura até 31 de julho de 2021
Onde se candidatar
Encontra toda a informação sobre o regulamento, categorias, critérios de avaliação e prazos no site oficial do prémio
Textos originalmente publicados no Expresso de 18 de junho de 2021
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