Projetos Expresso

Falta de profissionais é um dos grandes desafios

Falta de profissionais é um dos grandes desafios
José Fernandes

Projetos Expresso. Pós-covid. A pandemia tirou o emprego a mais de 50 mil pessoas no turismo, mas a estatística contrasta com a dificuldade em recrutar. Um inesperado problema que o sector enfrenta na retoma

Há mais de um mês que Noélia Jerónimo tenta contratar colaboradores para a sala do seu restaurante, em Cabanas de Tavira, sem sucesso. “Não estava à espera que fosse tão complicado”, desabafa. “No Algarve está a ser muito difícil arranjar pessoal”, revela, sem compreender a que se deve este défice de trabalhadores.

Se antes da pandemia a escassez de recursos humanos era apontada como uma das maiores dificuldades, a escalada dos números do desemprego parecia ter colocado a questão em segundo plano. Os últimos dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional, relativos a abril, revelam a existência de 54.229 desempregados provenientes das áreas de alojamento, restauração e similares, um crescimento face aos 48.936 registados em janeiro. O Algarve é uma das regiões mais afetadas, com 31.011 inscritos em abril, 14.241 dos quais provenientes do turismo, quando no mesmo mês de 2019 eram, respetivamente, 10.867 e 3537. Mas, com a atividade em aceleração, o recrutamento de trabalhadores volta a ser um problema, nomeadamente a sul.

A fragilidade que existe há muito na região — onde se assiste a alguma retoma à boleia do “corredor verde” proveniente do Reino Unido, que fez disparar para 175 os voos semanais, só na semana de 17 a 23 de maio — tem, no momento atual, uma justificação simples: “No Algarve trabalham muitas pessoas oriundas de outras zonas do país e até do estrangeiro. Muitas terão regressado às origens”, aponta o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas. O que pode acontecer agora é que “as pessoas desempregadas não se enquadram nas categorias pretendidas pelas empresas”, ressalva. Mitigar este problema passa pela implementação de “uma estratégia de imigração controlada, porque ela acaba por acontecer face às exigências do mercado, mas de forma descontrolada, com aumento dos custos de exploração dos operadores e consequente perda de competitividade”, considera.

Na mesma linha, Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP — Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, aponta como justificação a prolongada “inatividade das empresas turísticas”, que terá levado “muitos profissionais a deslocar-se para outras atividades, e isso pode significar que, no curto prazo, possam não ter condições ou simplesmente não quererem retornar”. Admitindo dificuldades na contratação, a associação acaba de lançar uma plataforma que possa servir de ponto de encontro entre empregadores e quem procura trabalho na área, a RiseHoreca.

“A grande dificuldade dos próximos tempos vai ser a ausência de recursos humanos disponíveis. Isso vai levar a uma subida de ordenados, o que pode não ser mau, desde que seja sustentável com o aumento de receitas, para não termos aqui um problema de subir salários sem que as receitas das empresas acompanhem essa subida”, sublinhou também o diretor da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal (ADHP), Raul Ribeiro Ferreira, durante o XVII Congresso da ADHP, em maio.

Atento à importância de formar e qualificar o capital humano, durante a pandemia o Turismo de Portugal (TdP) assegurou formação a 80 mil pessoas, essencialmente através de ações digitais, esclarece o presidente da entidade, Luís Araújo. E a qualificação continua a ser uma aposta do programa Reativar o Turismo, Construir o Futuro, que consagra €25 milhões à área do conhecimento e formação, perseguindo o objetivo de formar 75 mil pessoas a curto prazo. A atestar a importância deste domínio, à “conservação, preservação da capacidade produtiva e proteção do emprego” são alocados €3 mil milhões.

Essencial para enfrentar os desafios recentes que a pandemia inaugurou ou veio sublinhar, as atenções viram-se para o programa que contempla €6 mil milhões distribuídos por várias áreas com o objetivo de “promover um turismo ao longo de todo o ano e em todo o território, através do apoio ao investimento, da capacitação das empresas, da qualificação dos recursos humanos e da aposta na acessibilidade aérea e na mobilidade sustentável, áreas fundamentais para incentivar a competitividade do destino”.Uma das ações mais urgentes passa por apoiar, no imediato, as empresas fortemente abaladas pelo intenso abrandamento da atividade no último ano e meio, que em números se traduz em cerca de €8 mil milhões, menos de metade dos €18,4 milhões de 2019, o melhor ano de sempre para o turismo nacional.

A curto prazo, o mais determinante desafio prende-se, naturalmente, com a questão sanitária, essencial para garantir a atratividade do destino. Voltar a estimular a procura é um objetivo de Portugal e de todo o Velho Continente — onde o turismo representa 30 milhões de empregos —, para o qual o Certificado Digital Covid-19 promete ser um importante aliado. Da mesma forma, o selo Clean & Safe, lançado em 2020 pelo TdP e pioneiro mundialmente, contribui para garantir a segurança de alojamentos e espaços de restauração. Para esta área, que inclui também o estímulo à adoção de comportamentos responsáveis, por consumidores e operadores, estão destinados fundos superiores a €10 milhões.
Seja para o mercado externo ou interno, a comunicação e a digitalização fazem parte do caminho a traçar até 2027. Acelerada pela pandemia, a digitalização “tem tremendo potencial de aumentar e melhorar a eficiência dos nossos negócios”, sustenta Luís Araújo, para quem um dos maiores desafios passa por manter o ritmo de crescimento. Para a inovação, incluindo o reforço de competências digitais, em empresas e territórios, estão consignados €790 milhões.

Por fim, é preciso assegurar que a sustentabilidade, nas suas diversas vertentes — ambiental, social e económica —, é consagrada em todo o território. Um objetivo intimamente ligado ao futuro do próprio turismo em que serão aplicados €641 milhões para reforçar esta componente até 2027. Sustentabilidade, inovação, autenticidade, gastronomia e inclusão são também as apostas do terceiro Prémio Nacional de Turismo, lançado a 2 de junho, que tem como objetivo, no ano mais complicado para o sector, premiar e dar visibilidade a iniciativas com valor no âmbito do turismo nacional.

O que tem de saber acerca do Prémio

O projeto Com os olhos postos no futuro, a terceira edição do Prémio Nacional de Turismo vai premiar negócios e projetos nacionais que se distingam como casos de sucesso em Portugal. A iniciativa do BPI e do Expresso conta com o patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal e o apoio técnico da Deloitte

As categorias

  • Turismo autêntico Projetos que apresentam oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização e alavancagem de recursos locais e endógenos
  • Turismo gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização e promoção da gastronomia regional e nacional
  • Turismo inclusivo Projetos que promovam um reforço da relação com o consumidor, através da comunicação ou de iniciativas que visem a sua inclusão e fidelização
  • Turismo inovador Projetos que apresentem uma oferta inovadora e a utilização de ferramentas e meios digitais para a comunicação, distribuição e análise do desempenho
  • Turismo sustentável Projetos que se distingam pela sustentabilidade ambiental, económica e responsabilidade social subjacentes à estratégia de médio/longo prazo

Prémio Carreira

À semelhança das edições anteriores, será ainda distinguido com o Prémio Carreira uma personalidade que se tenha destacado com um importante contributo para o sector do turismo

Datas importantes

Para se habilitar a vencer o Prémio Nacional de Turismo apresente a sua candidatura entre 2 de junho e 31 de julho de 2021

Onde se candidatar

Encontra toda a informação sobre o regulamento, categorias, critérios de avaliação e prazos no site oficial do prémio

Textos originalmente publicados no Expresso de 4 de junho de 2021

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: amfonseca@impresa.pt

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