Quando, em 1997, o supercomputador ‘Deep Blue’ da IBM venceu uma partida de xadrez ao então campeão mundial Garry Kasparov, o mundo surpreendeu-se com as capacidades da máquina, alimentando a ideia de que, no futuro, robôs inteligentes teriam a capacidade de replicar todo o conhecimento humano. No entanto, e apesar dos progressos, esta realidade, um pouco ao estilo de Hollywood, “não existe, e pode nunca vir a existir”, afirmou Nuno Maximiano, responsável por Analytics Portfolio and Cognitive Solutions Sales na IBM Portugal, na abertura da conferência ‘Dados Pessoais e Inteligência Artificial: Novas Fronteiras”, organizada pelo Expresso em parceria com a PSE, empresa especialista em data science, e integrada no ciclo ‘Discutir o País’.
No entanto, a verdade é que hoje a inteligência artificial (IA) faz parte do dia-a-dia de empresas e cidadãos, incluída em processos de que, muitas vezes, não nos damos conta (bots de atendimento ao cliente, processos de avaliação de crédito, etc…). “A IA está a mudar a forma como trabalhamos, assim como os modelos de negócio das empresas”, reforça o especialista da IBM que, acrescenta: “O grande desafio é transformar a IA em resultados”.
É preciso confiança
O ceticismo em torno de tecnologias como a IA não são de agora, mas, apesar dos múltiplos exemplos positivos da sua utilização, grande parte da sociedade ainda desconfia da eficácia na ‘inteligência’ das máquinas. “É verdade que pode ser um problema utilizar a IA em modelos que preveem a tomada de decisões com impacto na vida das pessoas”, diz Nuno Maximiano. São disso exemplo alguns processos de recrutamento, de crédito bancário, na saúde, ou sentenças em tribunal, que podem resultar em injustiças e em discriminação estatística. “A mitigação do preconceito não é fácil nestes processos, e é um dos desafios que se colocam à utilização de ferramentas de IA e de machine learning”, explica.
Com a moderação de Rodrigo Prata, jornalista da SIC Notícias, a Nuno Maximiano juntaram-se ainda para o debate sobre as ameaças e as oportunidades da IA, Nuno Santos, Chief Analytics & Strategy Officer na PSE, Luís Fonseca, coordenador de Segurança Económica e Responsável de Proteção de Dados na Auchan Retail Portugal, e, por intermédio de videoconferência, Pedro Lomba, sócio da Sociedade de Advogados PLMJ.
Conheça aqui as conclusões do primeiro painel de debate.
IA: tecnologia e ética de mãos dadas
- A inteligência artificial é uma realidade inevitável, mas a sua utilização tem de ser bem avaliada, garantindo que traz benefícios claros à sociedade. “A IA não é um bicho papão. É uma máquina, uma tecnologia”, afirma Nuno Santos. Atualmente, refere o responsável da PSE, “estamos na fase da IA avançada, que recorre a ferramentas de deep learning para ‘aprender’ com os dados”. O desafio será evoluir para uma ‘IA explicada’, que permite perceber porque foram tomadas as decisões.
- Formação é essencial na gestão de dados e na proteção informática. O Regulamento Geral para a Proteção de Dados (RGPD), que entrou em vigor na Europa em 2018, visa garantir a transparência e a ética na utilização dos dados pessoais. Luís Fonseca recorda, contudo, que anteriormente existia já a Lei da Proteção de Dados, com propósito semelhante, “e bem aplicada por muitas empresas que se guiam por padrões éticos”. Ainda assim, o responsável do Grupo Auchan alerta para a necessidade de um reforço na formação nestas temáticas.
- “Vamos ter enormes batalhas jurídicas a este respeito”, acredita Pedro Lomba, sócio da PLMJ, que alerta para a dificuldade de entender onde termina a fronteira entre dados pessoais identificados e dados anonimizados. Por outro lado, o representante da PLMJ lembra que continuarão a existir direitos fundamentais no sistema de justiça para o tratamento informático dos dados que preveem, por exemplo, o direito à intervenção humana nas decisões e o direito à explicação e fundamentação das decisões que não podem ser totalmente automatizadas.
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