Em janeiro de 2020, ainda a pandemia não tinha obrigado o mundo a fechar-se em casa, aumentando significativamente o tráfego de dados através da internet e das redes sociais, havia em todo o mundo 4,54 mil milhões de utilizadores da internet, mais 7% em comparação a igual período de 2019; e 3,8 mil milhões de utilizadores de redes sociais, mais 9% do que um ano antes. Os dados são do relatório Digital 2020, publicado pela We Are Social e Hootsuite, e demonstram que as quantidades de dados gerados pelos milhares de milhões de utilizadores em todo o mundo crescem a um ritmo alucinante, tornando-se ‘o novo petróleo’ para quem conseguir deles extrair informação útil e relevante para os negócios. No entanto, para João Pequito, chairman e CEO da PSE, empresa especialista em Data Science, “mais do que um ‘novo petróleo’, os dados são o recurso de um novo choque tecnológico e de uma nova revolução industrial e civilizacional”. O especialista, que será um dos convidados da conferência “Dados pessoais e inteligência artificial: As novas fronteiras”, que decorre amanhã, a partir das 14h30, no auditório da sede do Grupo Impresa, em Paço de Arcos, reforça ainda que os dados estão a transformar os processos de produção, de distribuição, de consumo, e de comunicação. “O grande desafio das empresas e da sociedade é transformar esse recurso em valor”.
Para concretizar este objetivo, acredita João Pequito, existem três dimensões que devem estar hoje na agenda de empresas e instituições: Tecnologia, Pessoas e Políticas. Por um lado, as infraestruturas tecnológicas que trabalham os dados são cada vez mais abertas, integradas, ágeis, colaborativas e partilhadas. “A tecnologia está a fazer esse caminho, mas é preciso ter a tecnologia certa para tratar dados”, aponta o responsável da PSE. Já ao nível das pessoas, o desafio é ter recursos humanos capacitados e cidadãos conscientes e informados. “A literacia e a formação para novas funções é fundamental”. Por último, no que concerne às políticas, é fundamental que empresas e governos criem as condições para esta nova era. Isto significa ter medidas para a inclusão, a educação e a regulação e governo dos dados.
“Um melhor uso dos dados permite que, por exemplo, Bancos e Seguradoras economizem milhões de dólares ao identificar fraudes, ao melhorar a experiência do cliente, ao transformar o banco on-line e móvel e ao entregar um serviço melhor com mais qualidade e rapidez”, complementa José Manuel Paraíso, presidente da IBM Portugal, que também estará presente no debate de amanhã. Evitar danos reputacionais, multas e outros custos, são também bons exemplos do que uma boa utilização dos dados permite.
Covid acelerou a digitalização
Ao longo dos últimos meses foram muitas as notícias que davam conta de uma aceleração da transformação digital, a nível global, sem precedentes. Em poucas semanas, o mundo adotou mais tecnologia e transformou processos de negócio como não faria em vários anos. Os negócios mantiveram-se operacionais mesmo com as suas equipas em teletrabalho, e milhões de criança continuaram a ir à escola sem sair de casa. E os dados sobre a pandemia, constantemente atualizados? João Pequito questiona se o mundo seria o mesmo sem esta informação. “A pandemia veio mostrar a importância que os dados têm para as empresas se manterem ativas ou competitivas (não há digitalização sem dados), e mesmo a importância que os dados têm para a decisão política e para o controlo da pandemia”. José Manuel Paraíso tem uma opinião semelhante. “Os dados são muito valiosos, pois podem gerar às empresas e organizações vantagens competitivas únicas, sobretudo quando associados à Inteligência Artificial. A transformação digital que os dados, a inteligência artificial e a cloud permitem é, sem dúvida, a oportunidade tecnológica dos nossos tempos”.
Contudo, esta situação trouxe, em simultâneo, novas questões. A qualidade dos dados, por exemplo. “Ter melhor tecnologia não significa ter sucesso quando os dados são de má qualidade. Uma má qualidade de dados, pode conduzir a más decisões”, alerta o CEO da PSE. A este nível, a IA terá um papel fundamental no tratamento e na gestão dos dados. Enquanto tecnologia permite ter ferramentas e criar sistemas com a capacidade de ‘aprender’ com a experiência, tornando-se essencial na resolução de problemas complexos, sejam estes de automação de processos, previsão, prevenção de riscos ou controlo de situação.
Rodrigo Pratas, jornalista da SIC Notícias será o moderador do debate que, ao longo da tarde de amanhã, procurará responder a estas e outras questões sobre a relação entre os dados e a inteligência artificial. Assista através do Facebook do Expresso, a partir das 14h30.