"Já é uma alternativa. Não podemos andar para trás". Sílvia Silva é professora de Educação Física e tem 40 anos. Concorreu ao Proder há dois. O apoio ainda não chegou só que meteu "mãos à horta" para experimentar. Os testes ganharam contornos inesperados.
Vive em Sousel. Nunca imaginou que um dia poderia trocar a cidade e a proximidade com o mar pelo campo e o interior profundo. "Diria que era impossível", conta.
Mudou-se de malas e bagagens para o Alentejo há sete anos. O marido é portuense, ela também. Conheceram-se precisamente no Porto, mas Jorge, de 42 anos, que esteve ligado à mecânica de motos, já se tinha instalado na Herdade Monte Ruivo anos antes. A propriedade era de família. Não tinha condições de habitabilidade. Nem luz havia. Reconstruiu as estuturas do monte, fez a casa, e rumou. Sozinho. Viu na criação de borrego biológico uma alternativa e procurou fundos comunitários. O namoro com Sílvia veio depois. E alguém teve que ceder. Silvia viajou para o Alentejo. Ia tendo dificuldades por causa das colocações como professora. Parte do percurso profissional passou pelo privado e não tinha tempo de serviço.
Instalada a sul, nunca trabalhou a menos de 60 quilómetros de casa. Este ano conseguiu Évora. Os mais de 150 quilómetros para trazer menos do ordenado mínimo levaram-na a parar de fazer o que gosta. Até porque tudo se tornou mais difícil de gerir com o nascimento da filha. "Queria ser uma mãe presente". Tentou outras opções de rendimento. Nada feito. "Diziam-me que tinha currículo a mais".
A docente não esconde que gostaria de conciliar o ensino com a agricultura. Ganhou-lhe o gosto. Ainda não sabe se o projeto de hortícolas de estufa e ar livre, com um investimento superior a 200 mil euros, irá ser viabilizado. Apresentou-o em 2013, mas em 2014, teve que ser alterado. A análise no terreno concluiu que a produção nas estufas durante os meses de julho e agosto teria de estar parada, por causa do calor. Teve que reformular o projeto. Concluiu as formações exigidas e ainda fez um curso empresarial.
Demoraram dois anos a pensar num negócio. Não queriam meter-se numa situação complicada. O borrego ia sustentando a família. Ao mesmo tempo, Sílvia vivia a incerteza profissional e procurava um rendimento complementar. Pensaram nos mirtilos, caracóis, morangos... "Fizemos análises de mercado durante dois anos. Tudo tinha um problema. Estamos no fim da linha, localizados no interior do Alentejo. Seria difícil escoar aqueles produtos. Ou por sermos pequenos demais ou porque não éramos suficientemente grandes para pormos um camião cheio", explica.
Perceberam que havia um nicho básico. "Quando ia a qualquer supermercado daqui era um caos. Só existiam produtos frescos um dia por semana. No Porto, não estava habituada a isto".
Iniciar um projeto sem financiamento estava fora de hipótese. Só que a experiência de produtos na herdade, transformou-se num "passa palavra" e pedidos constantes para supermercados locais. Trabalham com dois grossistas e vendem tudo o que produzem nos dois hectares e 2000 metros quadrados de estufa. O financiamento bancário possibilitou as estruturas. Dão um passo de cada vez. Ainda não têm máquinas, a maior dificuldade do momento para fazer face à procura. Socorrem-se de três colaboradores que contrataram para evitar um novo crédito à banca. Mas sentem-se sempre aquém.
E se o financiamento do PRODER não vier? Sílvia mostra-se determinada: "A esta altura do campeonato não dá para voltar atrás. Esta é nossa opção de vida.".
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