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Um “nariz eletrónico” para perceber se a carne e o peixe no supermercado estão bons para consumo e evitar a sua ida prematura para o lixo

Sensor Precise analisa um corte de carne para perceber a data de validade exata
Sensor Precise analisa um corte de carne para perceber a data de validade exata
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Através de um sensor que mede o nível do gás formado pela decomposição, é possível determinar com exatidão o prazo de validade da carne e do peixe

Um “nariz eletrónico” para perceber se a carne e o peixe no supermercado estão bons para consumo e evitar a sua ida prematura para o lixo

Eunice Parreira

Jornalista

Quando um supermercado embala carne ou peixe, é atribuído um prazo de validade para garantir a segurança alimentar do consumidor. Esta data é, normalmente, colocada dois ou três dias antes do prazo real máximo para consumo. Apesar de isto garantir ao consumidor a frescura dos alimentos, significa também que, diariamente, milhares de toneladas de alimentos, que poderiam estar em condições, vão para o lixo. Por este motivo, um projeto está a desenvolver um sensor para definir com segurança o prazo real destes alimentos.

Após o término do prazo de validade, na União Europeia, os supermercados avaliam a frescura do alimento pelo olfato e consoante esta perceção, podem vendê-lo ou descartá-lo – um método “subjetivo”. Sem nenhum dispositivo para medir a data de validade da carne e do peixe, quando há dúvidas, este vai direto para o lixo. “Nenhum supermercado quer vender um produto que esteja estragado, o que eles fazem sempre é colocar a data de validade mais cedo do que realmente é, porque, desse modo, ainda têm essa margem de erro”, explica Roana de Oliveira Hasen, líder do projeto europeu Precise Sensor e professora na Universidade da Dinamarca do Sul.

O olfato é o único meio de avaliar as condições de consumo destes alimentos e, embora seja feito por pessoal qualificado, os erros acontecem. Nas regiões dinamarquesas de Dinamarca do Sul e de Zelândia e na região alemã de Eslésvico-Holsácia, são desperdiçadas cerca de 48 mil toneladas apenas de carne de porco. Ainda que existam laboratórios para analisar o nível de bactérias, e consequente o estado para consumo, “o supermercado geralmente não envia as amostras para análise porque são destrutivas”, ou seja, para fazer uma análise a um corte de carne, por exemplo, este fica totalmente destruído.

Para evitar o desperdício de alimentos em condições, este projeto alemão e dinamarquês quis desenvolver um dispositivo que removesse a dependência do olfato humano e definisse de forma exata o prazo de validade. É uma espécie de “nariz eletrónico” dotado de um micro sensor que consegue detetar a cadaverina, o gás produzido quando a carne ou peixe começa a apodrecer. O sensor mede a quantidade deste composto químico, mesmo quando é impercetível ao humano, e, através de um algoritmo de inteligência artificial, prevê a data de validade.

Roana de Oliveira Hasen explica que o objetivo era que este sensor fosse capaz de medir o nível de cadaverina nos mais variados tipos de carne e peixe, mas para isso precisaram de montar uma base de dados e avaliar como a temperatura ambiente, por exemplo, poderia afetar o resultado. “Até diferentes cortes vão produzir concentrações diferentes de cadaverina com o tempo. Então, precisamos fazer essa calibração para todos os tipos”, diz. Consoante a opção do utilizador, será possível medir diferentes tipos de carne e peixe num único dispositivo.

Além de um supermercado, este sensor também poderá ser usado em restaurantes e fornecedores. “Por exemplo, nos restaurantes de sushi é muito crítico que o peixe esteja fresco. Então, eles desperdiçam muito porque se há alguma dúvida, vão deitar fora”, exemplifica a docente universitária.

Com cerca de um ano para terminar, o projeto continua a testar o protótipo e a expandir a base de dados, para que no final seja disponibilizada uma solução tecnológica para diminuir o desperdício alimentar.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

O projeto PRECISE está a ser desenvolvido até março de 2026 pela Universidade da Dinamarca do Sul, pela Universidade Técnica de Ciências Aplicadas de Lübeck, pelo KIN- Instituto Alimentar, pelo Instituto Fraunhofer ISIT, pela Universidade de Ciências Aplicadas de Flensburg e pela AmiNIC. Através do programa Interreg, apoiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, recebeu cerca de 1,8 milhões de euros.

Roana de Oliveira Hasen acredita que sem o financiamento “seria muito difícil” desenvolver o software por ser um processo bastante dispendioso. A recolha de dados e a sua validação exige pessoal qualificado, sendo que este financiamento tornou possível contratar a equipa necessária.

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