Quase 60% dos portugueses dizem estar dispostos a requalificar competências para permanecerem competitivos no mercado de trabalho, enquanto a taxa de desemprego está a diminuir. São dois bons indicadores do mercado de trabalho, mas a jornada por este universo poder parecer assustadora sem o apoio certo. Para facilitar a tarefa, há uma plataforma disponível ao alcance de qualquer um.
O objetivo da plataforma myMentor é possibilitar a qualquer pessoa, “com ou sem possibilidades financeiras”, ter uma mentoria de carreira. Através de uma variedade de ferramentas, esclarece-se as dúvidas de quem está no mercado de trabalho, do estudante que ainda está a planear a sua carreira ou até do desempregado,
Do contacto que a equipa da myMentor vai tendo com os utilizadores, apercebem-se de que a maioria se sente “completamente perdida neste mapa de navegação: o que estou eu aqui, o que vai acontecer à minha profissão, como é que eu devo atuar de forma a continuar atrativo para o mercado de trabalho?”, explica Inês Menezes, fundadora da associação Better Future, que desenvolveu esta plataforma. Por este motivo, esta iniciativa funciona como uma mentoria individual, para que “qualquer que seja a sua circunstância”, o utilizador consiga retirar toda a informação que precisa para planear a sua carreira.
Face às grandes transformações no mercado de trabalho, motivadas pela robotização e pela inteligência artificial, é preciso preparar a população ativa para as “grandes” alterações. “Há uma grande preocupação em ajudar as pessoas a planearem a sua carreira de uma forma progressiva, para que tenham um recurso interativo, de fácil utilização, acessível e, sobretudo, gratuito, e que lhes permita em cada momento da sua carreira, e qualquer que seja o estado, o ponto de partida e o ponto de chegada, utilizar a ferramenta para atualização de competências”, afirma.
Quem já procurou emprego, está familiarizado com a dificuldade de encontrar ofertas atualizadas num único local. Por isso, a plataforma myMentor reúne, através de algoritmos de inteligência artificial, as ofertas de emprego de oito portais, o que equivale a cerca de 90% de toda a oferta disponível e atualiza-as diariamente. É ainda possível ver as vagas por profissão, localidade, competência ou setor.
“Há aqui uma barreira que é a falta de hábito que a população ativa de planear carreira”, afirma. Esta falta de orientação, muitas vezes, traduz-se em fracos números de formação. Ainda que, este investimento poderia melhorar não só as competências, como também manter a competitividade no mercado de trabalho.
Um dos grandes focos da plataforma é a requalificação de competências. Através de um questionário é possível descobrir os interesses profissionais do utilizador, sendo exibidas as dez profissões adequadas ao perfil vocacional, o que ajuda a “perceber caminhos de exploração”. Outro inquérito permite ainda identificar quais as competências em falta e sugere formações para melhorar esses aspetos e há ainda uma ferramenta para avaliar o nível de empreendedorismo de cada um. “A grande boa notícia é que podemos evoluir e a formação ao longo da vida permite-nos ser hoje uma coisa e amanhã outra”, afirma.
Como a requalificação de competências depende do futuro profissional, há ainda uma funcionalidade, “O Futuro da Minha Profissão”, que mostra “um retrato sobre o grau de automatização previsto”.
Lançaram ainda o mapa de emprego de algumas regiões, entre as quais Lisboa, Porto e Fundão, para cruzar o perfil vocacional com a empregabilidade na região. “Permite saber em cada região as tendências macro, o nível de desemprego, a população ativa, o nível de formações existentes e as ofertas de emprego”, afirma Inês Menezes. Salienta ainda que este mecanismo é importante para definir políticas públicas e para quem está responsável sobre ofertas formativas.
Devido a estas funcionalidades, o IEFP divulga e utiliza a plataforma myMentor. “Os desempregados não sempre vão à procura de emprego, muitas vezes até vão à procura de formações para se qualificarem para terem um melhor emprego”, sendo que a tecnologia desenvolvida recolhe os dados para dar resposta a esse problema. Inês Menezes salienta ainda que a myMentor está “sempre a lançar novas ferramentas” para “perceber quais são as necessidades do mercado de trabalho e antecipamos as respostas”.
É com esta ambição em inovar, que estão a desenvolver em conjunto com o Ministério da Educação uma ferramenta para o utilizador perceber como se pode tornar professor, indicando consoante a sua formação, o que está em falta. Esperam ainda conseguir desenvolver uma funcionalidade para o recrutamento de pessoas com deficiência, para que as empresas possam preencher as quotas e o trabalhador consiga encontrar um emprego adequado.
“Na plataforma, a procura de emprego era a ferramenta mais procurada, mas atualmente também procuram formações”, afirma Inês Menezes. A avaliação trimestral de 2025 mostra que mais de metade se sente mais capaz de gerir a sua carreira, e mais de 20% descobriu uma formação ou uma oferta de emprego do seu agrado.
“Há um mundo de profissões e de formações que os utilizadores não conhecem”, mas se cada um conseguir descobrir o que corresponde ao seu perfil, é possível ter “adultos felizes, bem inseridos na sua profissão, porque as pessoas que descobrem o seu talento e a sua vocação são mais produtivas, têm mais sucesso na carreira, têm mais saúde mental e mais saúde física”.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
A plataforma myMentor foi idealizada pela associação Better Future e candidatou-se duas vezes aos apoios do Portugal Inovação Social. No primeiro testou oficinas de mentoria no Algarve, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, para o qual recebeu cerca de 376 mil euros, dos quais cerca de 300 mil são do Fundo Social Europeu. Posteriormente, em colaboração com a Fundação Santander desenvolveu a mesma ideia em Lisboa, sendo financiada em cerca de 91 mil euros, dos quais quase 46 mil euros são do Fundo Social Europeu.
“Esta plataforma é muito robusta, a tecnologia é cara e sem o apoio do Portugal Inovação Social, em termos de fundo, era totalmente impensável”, garante Inês Menezes. Estes apoios são fundamentais para transformar o que se tem “desenhado na cabeça” numa iniciativa real.
Conhecer ideias que contribuem para uma Europa mais competitiva, mais verde e mais assente em direitos sociais são os objetivos do projeto Mais Europa.
Este projeto é cofinanciado pela Comissão Europeia, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa. A Comissão Europeia não é responsável pelos dados e opiniões veiculados.