Precisa de descobrir um alojamento turístico à medida da sua necessidade? Esta app veio para ajudar
FG Trade
Pessoas com necessidades especiais, incluindo grávidas, pessoas com crianças de colo, com alergias alimentares ou problemas respiratórios (e até pessoas idosas) precisam de cuidados especiais dos espaços turisticos. Esta app une estes viajantes aos operadores turísticos e até às instituições de ensino, promovendo inclusividade e, claro, competitividade
Quem não tem nenhuma limitação nunca se terá questionado sobre a acessibilidade de uma experiência turística. Por exemplo, se um determinado restaurante oferece alternativas a quem tem alergias alimentares, se o hotel está adaptado para uma pessoa em cadeira de rodas ou se o museu é adequado aqueles que possuem alguma incapacidade intelectual. “O acesso à cultura e ao lazer deve ser para todos e devemos contribuir para que todos possam efetivamente ter acesso a essas experiências”, afirma Celeste Eusébio, professora na Universidade de Aveiro e investigadora responsável do projeto ACTION.
O acesso físico a edifícios turísticos, facilitado por estruturas como rampas e elevadores, tem evoluído “bastante” em Portugal, mas uma das maiores dificuldades continua a ser a falta de informação sobre a acessibilidade dos espaços. “Não é suficiente ter infraestruturas que permitam a acessibilidade física, se os visitantes não tiverem informação sobre a existência dessas rampas, por exemplo”, explica.
Esta falha significa que “muitas vezes, [as pessoas com necessidades especiais] têm de contactar via telefone os hotéis ou os restaurantes, por exemplo, para ver se há condições para os receberem – ou um familiar tem de fazer visitas de reconhecimento ao espaço”. Há “dificuldade em ter acesso a informação atualizada e que lhe permita perceber se irão conseguir fazer aquela viagem turística de acordo com as suas competências e as suas características funcionais”.
“Existe um círculo vicioso relativamente à acessibilidade no turismo em Portugal”, no qual os agentes de oferta não reconhecem este mercado, nem as instituições de ensino preparam os futuros profissionais para esta problemática. “Consequentemente, as pessoas com necessidades especiais enfrentam muitos constrangimentos para ter acesso a experiências turísticas enriquecedoras”, explica a docente.
O objetivo do projeto ACTION era tentar dar uma resposta a estes problemas e tornar o turismo acessível, cruzando a área social com a tecnologia de forma a impulsionar a competitividade. Para tal, envolveram as instituições de formação em turismo, agentes de oferta e pessoas com necessidades especiais para criar um sistema de informação baseado na web, que permita troca de conhecimento e um acesso fácil à informação sobre a acessibilidade dos produtos turísticos.
Celeste Eusébio realça que quando se fala sobre pessoas com necessidades especiais não se trata apenas de quem tem algum tipo de deficiência, mas também grávidas, pessoas com crianças de colo, com alergias alimentares ou problemas respiratórios e até pessoas idosas. “É um grupo bastante heterogéneo”, que se distingue por precisar que a experiência turística esteja adaptada às suas necessidades. “Na maioria dos casos, os agentes de oferta turística consideram que ainda estamos a trabalhar num nicho, mas já é um segmento muito expressivo”, correspondente a cerca de 15% da população mundial.
Os investigadores do ACTION conversaram com este tipo de turistas e organizações que lhes prestam apoio, entenderam as suas maiores dificuldades e que informação que gostariam de ter num sistema web sobre o espaço ou a experiência. Também analisaram vários agentes turísticos, desde alojamentos a restauração ou agências de viagem, assim como entidades públicas, como Câmaras Municipais, para perceber que ações estavam a desenvolver para promover espaços mais inclusivos e acessíveis. Nas instituições de ensino, estudaram como eram incluídos os conteúdos sobre turismo acessível e tentaram perceber se os estudantes teriam interesse nessa formação.
Com os dados recolhidos, desenvolveram uma aplicação access@tour by action, acessível a qualquer pessoa, para reunir toda a informação relevante e atualizada, para que o viajante possa planear a sua aventura sem percalços e apropriada às suas necessidades.
“Alguém com uma incapacidade física, poderia entrar na app, registar-se e ter o seu perfil com as suas características, ou até fazer só uma pesquisa sem estar registado na app. Mas o objetivo era que a pessoa fornecesse à app, por exemplo, as necessidades que tem quando viaja” para que o espaço se conseguisse adaptar. No final, poderia dar feedback também através da aplicação para permitir que um determinado agente turístico melhore os seus serviços.
Pedro Teixeira
O intuito era ainda oferecer um ponto de comunicação entre os três atores: turistas com necessidades especiais, agentes turísticos e instituições de ensino. Por este motivo, também através da app, se uma unidade hoteleira quisesse melhorar o seu espaço, mas não tivesse recursos humanos com qualificações, as universidades poderiam ajudar neste aspeto. “É uma forma de nos conectarmos com as empresas e com um grupo que tem características muito específicas. Isso contribuirá para melhorar os nossos planos de formação, ao mesmo tempo que também permite fazer a investigação mais aplicada”, explica Celeste Eusébio.
Graças a esta aplicação, os agentes turísticos conseguem aumentar a competitividade do próprio produto. Uma pessoa com uma limitação “muitas vezes viaja em grupo e quando fica satisfeita permanece mais tempo até do que o visitante sem uma necessidade especial”. “Há uma maior fidelização aos produtos, às empresas, quando estão adaptadas às necessidades deste mercado”, garante a docente universitária.
Ainda em fase de protótipo, o projeto ACTION aguarda financiamento para conseguir colocar a aplicação a funcionar no mercado. “O objetivo final é, de certa forma, contribuir para uma sociedade mais justa e mais social, em que todos possamos participar de uma forma ativa, independentemente das nossas características”, diz.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto ACTION - Turismo acessível: cocriação de experiências turísticas através de sistemas inteligentes com base na Web, desenvolvido pela Universidade de Aveiro, foi apoiado através do COMPETE 2020. No total, recebeu cerca de 215 mil euros, com cerca de 183 mil euros provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
“A investigação é um processo moroso que implicou a contratação de vários bolseiros” e o desenvolvimento de várias ações. “Se não fosse este financiamento, não conseguiríamos desenvolver o projeto”, assegura Celeste Eusébio.
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