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Projeto junta Portugal, Espanha e França para criar robôs colaborativos: vão “otimizar o trabalho” e incentivar o desenvolvimento regional

Projeto junta Portugal, Espanha e França para criar robôs colaborativos: vão “otimizar o trabalho” e incentivar o desenvolvimento regional
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O projeto europeu quer aliviar os funcionários de tarefas exaustivas e repetitivas em setores tradicionais através de robôs colaborativos, que posteriormente, vão poder ser aplicados em vários setores

Projeto junta Portugal, Espanha e França para criar robôs colaborativos: vão “otimizar o trabalho” e incentivar o desenvolvimento regional

Eunice Parreira

Jornalista

Corte de carne, embalamento de frutas e montagem de bonecas são três ações que podem parecer muito distintas, mas um projeto quer tornar estas tarefas automáticas e mostrar que é possível transformar os setores tradicionais e artesanais com robótica. O projeto Robota SUDOE - Robótica, Automação e Digitalização como Motores de Competitividade e Crescimento das PME (pequenas e médias empresas) quer promover o equilíbrio territorial a partir da inovação nos setores produtivos.

Desenvolver uma rede colaborativa associada à robótica foi um dos pontos de partida deste projeto, para tal estabeleceu-se uma parceria entre Portugal, Espanha e França. “Os parceiros têm competências desenvolvidas, mas aplicadas a assuntos muito específicos, por isso, a ideia era haver uma interligação e um cruzamento das experiências e do conhecimento que permitisse desenvolver depois o grupo”, explica Tânia Mendes, gestora do projeto do CENTIMFE - Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, líder do consórcio.

A ideia de criar esta rede colaborativa de conhecimentos surge devido à dificuldade das inovações desenvolvidas no meio académico alcançarem o setor industrial. Com esta rede de contatos, Tânia Mendes explica que “se facilita o circuito de passagem de informação e o conhecimento chega de uma forma mais rápida”. Também permitirá o intercâmbio de alunos de doutoramento entre as diferentes entidades, “para que eles possam receber e partilhar conhecimento e serão os próprios veículos da transferência de tecnologia”.

Para testar conhecimentos, o projeto Robota decidiu desenvolver soluções para três indústrias tradicionais, nas quais normalmente é difícil aplicar sistemas de automação. Em Portugal, o foco será no setor dos plásticos e da agroindústria, enquanto em Espanha será uma fábrica de brinquedos e em França o manuseamento e corte de peças de carne. Embora distintos, “têm em comum a solução, os sistemas de manuseamento de instrumentos e de ferramentas”.

A escolha destas áreas deveu-se a uma vontade de “privilegiar o desenvolvimento de setores em áreas menos favorecidas” para que as técnicas desenvolvidas sejam “um complemento ao desenvolvimento regional”. Além deste fator, também era importante aliviar os trabalhadores destes setores de tarefas exaustivas e repetitivas. “Os trabalhos são muito manuais e ainda muito físicos, com as pessoas a fazerem este trabalho de deteção, de controlo de qualidade e de avaliação do calibre”, descreve Tânia Mendes.

Também para garantir que as necessidades dos funcionários são atendidas, o Robota tem previsto vários workshops nos próximos dois anos de execução deste projeto. Serão realizados “não só para disseminar e divulgar as tecnologias que estão a ser desenvolvidas, mas também para perceber junto dos empresários, dos diretores de produção, das pessoas que trabalham nestas áreas, quais são as necessidades principais e de que forma o projeto pode contribuir para ajudar a dar resposta”.

Por este motivo, as soluções robóticas serão colaborativas, o que significa que precisam do operador para funcionar. “Não se pretende que o robô vá substituir uma pessoa, pretende-se otimizar o trabalho e os ciclos de produção”, afirma Tânia Mendes. Na tarefa de cortar e desmanchar uma peça de carne, por exemplo, o trabalhador pode manusear um braço robótico através de um manípulo, enquanto o robô aplica a força e faz o corte. Também na montagem de bonecas, o robô pode realizar as ações de encaixe e desmolde com o funcionário responsável pela supervisão das operações ou verificação de defeitos.

Para testar estas soluções robóticas colaborativas serão criados demonstradores nos três países. Em Portugal, o demonstrador será para auxiliar na seleção e embalamento de frutas, para isso o sistema robótico recorrerá a programas de recolha de imagens, além de ser aplicada inteligência artificial e visão computacional.

Um dos maiores desafios será controlar a força das garras dos robôs. É preciso “controlar a deformação que eles vão causar no produto final”, ou seja, no caso da montagem de bonecas, o robô precisa de agarrar na cabeça, rodá-la e apertá-la para encaixar no resto do corpo, mas também é preciso considerar a "manipulação delicada no caso das frutas, porque é suposto agarrarem-nas e moverem-nas sem danificar”.

“No final do projeto é necessário colocar estes demonstradores ao serviço das empresas e adaptá-los para fazer uma validação de que isto é possível ser implementado e ser adaptado a vários contextos em vários setores”, afirma a gestora do projeto.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

O projeto Robota envolve um consórcio liderado pelo CENTIMFE, com as portuguesas: Universidade da Beira Interior e CerFundão. Em Espanha, integram a Asociación de Investigación de la Industria del Juguete, Conexas y Afines, Industria Auxiliar Juema, Universidade de Santiago de Compostela, Fundación Centro Tecnolóxico da Carne. Enquanto, em França, é constituído pela Universidade Clermont Auvergne e CIMES Auvergne-Rhône-Alpes. Há ainda mais sete parceiros associados, que não beneficiaram de fundos comunitários.

Iniciado em janeiro de 2024, o projeto irá decorrer até ao final de 2026 com o apoio financeiro de cerca de 2,5 milhões de euros através do programa Interreg Sudoe, dos quais quase dois milhões provêm do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). Dos 34 projetos aprovados, o Robota foi o primeiro classificado no objetivo “desenvolver e reforçar as capacidades de investigação e inovação e a adoção de tecnologias avançadas”.

Tânia Mendes destaca como principal vantagem a possibilidade de alocar recursos humanos a tempo integral para desenvolver esta inovação. No CENTIMFE “não temos só os projetos para executar, também temos serviços que prestamos às empresas”, por isso, “o financiamento é muito importante, porque, por si, nenhuma entidade se dedicaria a financiar só este tipo de projetos”.

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