Com uma longa história de existência, a Coopérnico afirma que não quer ser a única cooperativa de energia renovável em Portugal. Focada na produção de eletricidade exclusivamente de fontes renováveis, a cooperativa também se preocupa em ser transparente, produzir impacto social e promover o desenvolvimento local.
“Queremos apoiar e temos apoiado os nossos membros e municípios que querem começar uma comunidade de energia. O setor de energia não precisa ser só de grandes empresas privadas, tem de abrir as portas ao cidadão para produzir a sua energia e para trabalhar em todos os outros campos da transição energética”, afirma Ana Rita Antunes, coordenadora executiva da Coopérnico e um dos membros fundadores.
São vários os projetos, financiados pela União Europeia (UE), que a cooperativa desenvolveu com o objetivo de estimular o papel ativo do cidadão, promover comunidades de energia e combater a pobreza energética. Um dos mais recentes, FORTESIE, permitiu a reabilitação de dez casas em Portugal e de outros espaços, como um museu ou uma piscina pública – em outros países da UE. Já o projeto COMSOLVE permitiu à Câmara Municipal de Ílhavo e aos munícipes reduzirem a fatura de eletricidade e diminuir as emissões de carbono.
Ao longo dos mais de dez anos da Coopérnico, como têm impulsionado a transição energética?
A Coopérnico é uma cooperativa de energias renováveis e as cooperativas desenvolvem atividade económica sem ter como objetivo o lucro, mas sim o bem-estar ambiental, social e económico dos seus membros ou cooperantes.A Copérnico desenvolve atividades económicas na produção de energia renovável, como outras empresas privadas, e é também uma comercializadora de energia elétrica em mercado livre.
A nossa grande diferença é que temos uma gestão democrática, ou seja, trazemos outro modelo de governança para dentro do setor energético. A nossa contribuição maior é envolvermos os cidadãos na produção de energia, porque são eles que emprestam dinheiro à sua cooperativa para alavancar estes projetos. Envolvemo-los na formulação de preço, informamo-los sobre o preço a que Coopérnico vende a energia elétrica aos membros clientes da Copérnico. Portanto, todo este envolvimento é a grande contribuição diferenciadora que a Coopérnico traz para a transição energética e também para este setor de energia.
Quais as dificuldades em encontrar soluções inovadoras num projeto como o FORTESIE?
O FORTESIE ainda está a decorrer e é um projeto muito inovador para a Coopérnico – e penso que até inovador ao nível dos projetos Horizonte 2020. Entre os seis mil membros, tivemos de escolher dez, o que é desafiante, e os membros tiveram de se inscrever. Escolhemos dez casas para reabilitar, não totalmente porque para cada casa havia um orçamento disponível de dez mil euros para apoiar na reabilitação. Mas foi identificado qual era o ponto mais crítico para reabilitar, desde a troca de janelas num caso, até reforço do isolamento no outro, [além de terem de ser] cidadãos, famílias, membros da Copérnico que já tivessem sistemas de fotovoltaico para autoconsumo.
Sabemos por inquéritos e também por dados europeus que muitas vezes as famílias, principalmente em vivendas, começam por colocar sistemas de fotovoltaico para autoconsumo, em vez de começar pela reabilitação, pelo reforço do isolamento, por aquilo que faz reduzir a fatura energética. Com este projeto queremos perceber qual é a mais-valia que a reabilitação vai dar na capacidade para produzir a sua própria energia, na redução da fatura energética e também no aumento do conforto térmico dentro das casas. É muito importante percebemos isto para também podermos partilhar os resultados, não só com o país de uma forma muito ampla, mas muito concretamente com os nossos membros. Isto para depois, quando uma família cooperante da Coopérnico quiser apoio para reabilitar a sua casa, já vai haver uma Coopérnico com maiores conhecimentos para conseguir dar esse apoio.
Em que consistiu o projeto CEES – Community Energy for Energy Solidarity?
Foi um projeto de combate à pobreza energética em que excluímos o leque dos membros da Coopérnico e qualquer pessoa podia vir ter connosco e ter um apoio para olhar para a sua fatura, para perceber se havia um fornecedor de eletricidade de energia elétrica que fosse mais vantajoso. Fizemos sessões por todo o país de sensibilização e também de informação sobre como podemos, de alguma forma, gastar melhor a energia elétrica que consumimos. Ajudámos todos os cidadãos a consumir melhor a energia que pagam ao final do mês.
Como foi o balanço do projeto COMSOLVE?
Nós fizemos um sistema de autoconsumo coletivo entre dois edifícios da Câmara [Municipal de Ílhavo], onde parte desse investimento foi feito pelos munícipes. Também foram colocados postos de carregamento de veículos elétricos e, embora formalmente o projeto já tenha acabado, a Coopérnico (com os outros parceiros e também com a Câmara Municipal de Ílhavo) quer ir agora para o passo seguinte, que é partilhar o excedente da energia que é produzido naquele local com os munícipes que estão num raio de dois quilómetros à volta dos edifícios. Portanto, o projeto irá continuar com a ideia de construirmos uma verdadeira comunidade de energia ali.
O projeto Compile foca as ilhas de energia, qual a sua relevância?
A transição energética tem muitos desafios e as ilhas têm desafios muito próprios. Por exemplo, a ilha da Culatra, que não foi abrangida pelo projeto Compile, tem energia elétrica há bastante menos tempo do que grande parte das aldeias do país, mesmo tendo a dimensão de uma aldeia. Mas a energia elétrica chega por um cabo submarino e quando o cabo submarino tem problemas, toda a ilha fica sem eletricidade. No fundo é como se fosse uma ilha a importar energia elétrica.
E por que não haver uma produção local renovável nas ilhas? Por toda a Europa há exemplos de ilhas que têm de fazer a sua própria transição energética e que têm desafios próprios. O projeto Compile, em alguns casos, em alguns países parceiros, abordou a questão das ilhas. Em Portugal, quando o projeto arrancou, ainda nem sequer tínhamos a primeira legislação de comunidades de energia renovável, [por isso] nós começámos por um exemplo mais simples que foi transformar um condomínio em Lisboa, que já tinha produção fotovoltaica individual, para partilhar também com as famílias dentro de todo o condomínio. Esse foi o desafio e a Coopérnico conseguiu aprender muito sobre o que é isto de produção e partilha local de energia elétrica através desse projeto Compile.
Conhecer ideias que contribuem para uma Europa mais competitiva, mais verde e mais assente em direitos sociais são os objetivos do projeto Mais Europa.
Este projeto é cofinanciado pela Comissão Europeia, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa. A Comissão Europeia não é responsável pelos dados e opiniões veiculados.