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Imprimir uma casa sustentável e económica, em 3D, demora menos de 20 horas (e numa semana está equipada)

Interior de uma das casas já impressas em 3D
Interior de uma das casas já impressas em 3D

São habitações chave-na-mão, construídas em menos de duas semanas, a um valor acessível. A impressão 3D destas casas utiliza materiais sustentáveis e reduz quase totalmente o desperdício

Imprimir uma casa sustentável e económica, em 3D, demora menos de 20 horas (e numa semana está equipada)

Eunice Parreira

Jornalista

18 horas é o tempo necessário para imprimir as paredes. A instalação de janelas, telhado, carpintaria e mobília demora um pouco mais, mas em cerca de uma semana é possível ter uma casa totalmente construída e equipada. É um projeto pioneiro na área da construção civil em Portugal realizado pela empresa Havelar, que se propõe a construir 130 casas em 2025.

A ideia surgiu de uma conversa entre José Maria Ferreira, Patrick Eichiner e Rodrigo Vilas Boas, que uniram esforços e criaram a Havelar em 2023 para imprimir habitações. O propósito desta empresa era simples: combater a crise da habitação. A solução apontada foi recorrer a uma impressora 3D por garantir rapidez na construção, diminuir o impacto ambiental, evitar desperdícios de obra, minimizar acidentes de trabalho, entre outras vantagens.

“Foi uma decisão tomada em 15 dias, ao fim de 30 dias já tínhamos a impressora, e ao fim de 60 dias já estávamos a imprimir”, recorda José Maria Ferreira. Um dos maiores desafios surgiu logo ao início ao ser necessário aprender como funcionava a impressora e qual o material que melhor se adequava à mesma para produzir uma textura consistente.

Com um foco na sustentabilidade, a empresa sediada em Vilar do Pinheiro, em Vila do Conde, procurou desenvolver um material que fosse ecológico e reciclável. “Temos de reduzir o cimento para metade e, até 2030, queremos ter uma redução da pegada carbónica na ordem dos 50%, [por isso] o betão não é o material que mais se adapta. Nós estamos a imprimir já com terra e outras argilas”, explica. Utilizam uma mistura própria com subprodutos considerados “lixo” pelas construtoras para diminuir o impacto ambiental. O objetivo é que, no fim de vida do imóvel, este possa ser completamente reciclado.

Havelar imprime uma das casas
Havelar

Apesar da redução do desperdício em cerca de 80%, o fundador da Havelar destaca que a principal vantagem em construir habitações através da impressão 3D é o tempo. “Conseguimos ter uma relação de tempo e rapidez de construção, que não é possível noutros sistemas construtivos”, afirma. Para exemplificar a rapidez, indica que se a construção tradicional demora dez meses, a impressão em 3D demora menos de um mês. A mesma regra aplica-se à quantidade de materiais usados e ao investimento necessário.

Devido a esta celeridade foi também possível tornar estas habitações muito mais económicas. Uma casa de 90 metros quadrados com dois quartos, cozinha equipada, sala e casa de banho custa 150 mil euros. São mais económicas porque “demoram muito menos tempo, têm menos mão de obra, menos salários, usam menos materiais e precisam de menos investimento”.

O objetivo da Havelar é construir comunidades destas habitações que podem ter diferentes tipologias e até três andares. Como esta tecnologia permite adaptar a construção a quase todos os projetos, o projeto realizou parecerias com arquitetos galardoados, como Álvaro Siza Vieira ou Diébédo Francis Kéré, para proporcionar designs únicos a um valor acessível. “A ideia foi aproximar também os arquitetos e a boa arquitetura da habitação necessária”, conta José Maria Ferreira que acrescenta que após ter visitado a empresa, o arquiteto Kengo Kuma garantiu que “ficou um novo Kuma”.

Esta técnica de construção não se limita à habitação, podendo ser aplicada a outro tipo de estabelecimentos. Um dos projetos já concluídos teve lugar no Kuwait onde imprimiram no “meio do deserto” tanques de água. Também já receberam propostas para construir nos Açores em locais com grandes dificuldades de acesso, em que “os camiões de betão não chegam lá, por isso, podemos usar materiais locais e podemos, inclusivamente, produzir os próprios materiais para a impressora no local”. “Estávamos sempre a olhar para o lado da habitação, mas isto pode ter uma utilização a nível de equipamentos, de apoios de praia ou de centros de saúde”, diz.

O interesse na impressão de casas tem sido notório com a empresa a receber duas a três visitas por dia. “Há uns dois meses colocamos uma pessoa dedicada a atender as pessoas, porque realmente temos tido muita gente a visitar-nos. Mas também tem surgido bastante procura da parte académica de ver como é que funciona”, conta.

A ajuda imprescindível dos fundos comunitários

De forma a conseguir imprimir casas em 3D em Portugal, a Havelar submeteu a candidatura do projeto “Casa do Futuro” no programa COMPETE 2020. O apoio financeiro total foi de mais de 3,34 milhões de euros, com 1,33 milhões provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). O investimento apoiou a compra de três impressoras, o que “acelerou bastante” o processo.

Este projeto permitiu ainda estabelecer a “Academy 3D”, uma plataforma digital de partilha de conhecimento sobre novas técnicas de construção a partir da qual estabeleceram parceiras com instituições como a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e o Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha.

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