“Isto é um problema político”, acusa José Manuel Poças, em referência ao que considera ser a necessária generalização do teste ao VIH. O diretor do serviço de infecciologia do Hospital São Bernardo, em Setúbal, defende que deve ser criado um mecanismo de alerta automático para que os médicos proponham a realização do teste a qualquer doente em consulta. “É só haver vontade política. É claro que se vai gastar dinheiro, mas vai poupar-se muito mais a longo-prazo”, sublinhou esta terça-feira durante o debate “Os novos desafios do VIH: Acesso a novas tecnologias de saúde”.
A última conferência do projeto Horizonte 2030, uma iniciativa do Expresso com apoio da ViiV Healthcare, reuniu especialistas em saúde e representantes públicos para refletir sobre as dificuldades de acesso da população às mais recentes inovações terapêuticas. Os avanços, porém, não se resumem à medicação disponível. Flexibilizar a disponibilização dos medicamentos e alargá-la às farmácias comunitárias, eliminando as deslocações mensais ou trimestrais obrigatórias às farmácias hospitalares é disso exemplo.
Para o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Hélder Mota Filipe, é preciso “dar acesso ao medicamento na farmácia que o doente escolher”, não só para garantir a adesão terapêutica, como também para retirar pressão aos serviços hospitalares. A pandemia, lembraram os oradores presentes, mostrou que é possível implementar este mecanismo. Defendem, por isso, que se recupere esta iniciativa e se dê mais opção de escolha a quem vive com VIH.
O debate, moderado pela jornalista da SIC Notícias Liliana Lobo de Carvalho, contou com a participação de Armando Alcobia Martins (Hospital Garcia de Orta), Hélder Mota Filipe (Ordem dos Farmacêuticos), José Manuel Poças (Hospital São Bernardo), Maria Antónia Almeida Santos (Comissão Parlamentar de Saúde) e Ricardo Mexia (médico de saúde pública).
Conheça as principais conclusões:
Inovação aumenta a qualidade de vida
- Para lá da disponibilização dos medicamentos nas farmácias comunitárias, os especialistas consideram que a implementação dos Patient Reported Outcomes (inquéritos de resultados em saúde) deve ser generalizada. “Estes relatórios são a forma de medir o feedback que os doentes têm em relação a uma certa terapêutica”, aponta Hélder Mota Filipe.
- Esta estratégia de auscultação é também um mecanismo que permite “dar poder às pessoas” que vivem com a infeção, destaca Ricardo Mexia, que lembra como estes inquéritos permitem avaliar o impacto de uma condição médica na vida quotidiana dos doentes. O eventual “acréscimo de trabalho” garante, também, “maior satisfação” dos utentes dos serviços de saúde, acrescenta.
- O diretor dos serviços farmacêuticos do Hospital Garcia de Orta, Armando Alcobia Martins, defende, porém, que esta ferramenta seja aplicada com recurso às tecnologias de informação. Deste modo, não só é possível evitar a sobrecarga dos profissionais de saúde, como também promove “uma resposta livre” às questões e a diminuição do estigma.
- “As vantagens são muitas”, diz Maria Antónia Almeida Santos. A deputada do PS sublinha que “valorizar a opinião dos doentes é uma das funções de um deputado” e afirma que existe “sensibilidade” no parlamento para avaliar as questões ligadas à qualidade de vida e à inovação.
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