Teresa Fabião: “O VIH é hoje muito mais um vírus social”
O preconceito em torno do VIH deu o mote para o debate, moderado pela jornalista Marta Atalaya, que juntou Cristina Sousa (Abraço), Eduardo Costa (investigador) e Teresa Fabião (ativista)
José Fernandes
O estigma, e a discriminação, que o VIH gera continua a afetar a vida de quem vive com o vírus, que já não é, hoje, uma sentença de morte. Encontrar caminhos para uma sociedade livre de preconceitos foi o desafio lançado durante mais um debate do projeto Horizonte 2030, do Expresso, com apoio da ViiV Healthcare
Francisco de Almeida Fernandes
Loading...
Viver com VIH é hoje como viver com qualquer outra doença crónica, como a diabetes ou a hipertensão. A diferença entre estas condições está no estigma que permanece associado a quem vive com o vírus da imunodeficiência e que é, frequentemente, excluído pela sociedade. “Quando olhamos para as doenças crónicas como a hipertensão, ninguém é discriminado”, aponta o professor e investigador em economia da saúde, Eduardo Costa. Para alterar o paradigma, será essencial continuar a apostar na promoção da literacia em saúde através de campanhas dirigidas à população em geral.
“As pessoas continuam a sentir muito este estigma e discriminação que dificultam o tratamento”, lamenta Cristina Sousa, presidente da Abraço. Há três décadas que se dedica a apoiar esta comunidade, a especialista afirma que, por vezes, quem está infetado com VIH “tem medo de dizer que toma os comprimidos” ou de “dizer que tem uma doença crónica”.
Teresa Fabião partilha a vida com o vírus há 11 anos e recorre à arte não só para lidar com a sua condição, mas sobretudo para fazer ativismo nesta área. Assume-se, aliás, como “ativista”. “Quando falo que sou ativista, [é porque] trago o ativismo para a rua para chocalhar as coisas”, partilha. E diz mesmo que conheceu várias pessoas que deixaram de ir levantar a medicação “porque não querem ser vistos” no hospital por medo do que outros possam pensar ou dizer. “O VIH é hoje muito mais um vírus social”, sublinha.
Teresa Fabião defende ser preciso "aumentar a literacia e o diálogo" para combater o estigma em relação a quem está infetado com VIH
José Fernandes
Conheça as principais conclusões do debate “Estigma e impacto social”, integrado no projeto Horizonte 2030 do Expresso com apoio da ViiV Healthcare:
Para lá das paredes do hospital
“O tratamento do VIH vai muito além do estritamente clínico”, considera Eduardo Costa, que lembra a importância do apoio social e psicológico que é necessário garantir a quem vive com o vírus. O investigador defende o aumento da literacia sobre a infeção junto da população em geral, mas também junto dos profissionais de saúde “para explicar que o VIH já não é o que era há uns anos”.
Combater os efeitos negativos do estigma é uma missão que as organizações de base comunitária têm desenvolvido ao longo dos anos, nomeadamente com a criação da figura dos “educadores de pares”. “São pessoas como a Teresa, que vivem com VIH, e que se disponibilizam para falar com as pessoas [que receberam um diagnóstico positivo]”, explica Cristina Sousa.
Através da arte, Teresa Fabião tem procurado contribuir para a sensibilização sobre este tema e conquistou, recentemente, apoio da Fundação Gulbenkian para desenvolver um projeto no Porto. “Vai desenvolver um laboratório artístico, mas também atividades nas escolas”, contextualiza. Serão três anos dedicados à normalização do VIH, que, defende, deve ser “uma causa de todos assim como é o racismo”.
Entre as principais mensagens a fazer chegar à população, os peritos presentes no debate acreditam que é fundamental dar a conhecer a fórmula Indetetável = Intransmissível (I=I). “I=I é excelente, é excecional. É uma lufada de ar fresco saber que [quem vive com o vírus e está em tratamento] não pode infetar ninguém”, acrescenta Cristina Sousa.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes