Entre as cerca de duas dezenas de especialistas que compõem o Conselho Consultivo do projeto Horizonte 2030, - projeto do Expresso com o apoio da ViiV Healthcare -, a opinião é consensual: o estigma continua a ser um dos principais inimigos no controlo da infeção por VIH. “Temos de perceber que não é uma condição que tenha um apartheid à volta de quem faz trabalho sexual, dos utilizadores de drogas injetáveis, da África Subsariana ou dos homossexuais. Isso tem de ser claro”, afirma Luís Mendão, fundador do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT). Certo é que, como indicam os dados compilados pela ONU, quem vive com o vírus tem 2,4 vezes mais hipóteses de atrasar a procura por apoio médico devido à perceção que tem do estigma.
Para lá da exclusão social e do impacto comprovado na saúde mental dos portadores de VIH, uma das maiores consequências está no atraso do diagnóstico. Em Portugal, cerca de 50% dos novos casos são detetados em fase tardia, quando a infeção é galopante, e começa a causar danos evidentes ao sistema imunitário. Se é verdade que a falta de literacia em saúde - que de um modo geral, afeta a população nacional - é um dos fatores que para isso contribui, não há dúvidas, para Andreia Pinto Ferreira, de que “a transmissão de VIH poderia terminar hoje” se não existisse preconceito.
“A transmissão pelo VIH poderia terminar hoje se não fosse o comportamento humano inscrito nas famílias, nos locais de trabalho, na legislação e nos próprios clínicos”, considera a coordenadora da associação Ser+. Ao nível do bem-estar psicológico de quem vive com o vírus, os efeitos estão comprovados por diversos estudos internacionais. Nos EUA, concluiu-se que a depressão severa (36%) e o transtorno de ansiedade generalizada (15,8%) é mais prevalente neste grupo do que na restante população (6,7% e 2,1%, respetivamente).
“O estigma que se verifica referente ao VIH, começa muitas vezes num processo de auto discriminação”, afirma Cristina Sousa, presidente da Abraço
Para Cristina Sousa, presidente da Abraço, “é inegável o investimento insuficiente nas estruturas de saúde mental” em Portugal que leva a que portadores do vírus continuem “a ter muito poucas ferramentas a que possam recorrer”. As organizações de base comunitária, como o GAT, a Ser+ ou a Abraço, oferecem apoio psicológico para ajudar a lidar com o diagnóstico, o tratamento e as suas diferentes etapas. Este suporte é fundamental, já que, diz Cristina Sousa, muitas vezes “o estigma começa num processo de auto discriminação”, que leva os indivíduos a considerar que, uma vez diagnosticados, deixam de “ter os mesmos direitos e oportunidades que o comum dos cidadãos”.
O estigma, o seu impacto na saúde mental e ainda a lei do direito ao esquecimento serão temas centrais na terceira conferência do ciclo Horizonte 2030, que decorre na próxima terça-feira, 20, a partir das 17h30.
dos portadores de VIH inquiridos num estudo norte-americano, com uma amostra de 2800 pessoas, apresentavam sintomas de depressão grave. Em comparação, na população em geral o valor fixou-se em 6,7%
O que é?
Integrada no projeto Horizonte 2030, do Expresso com apoio da ViiV Healthcare, a conferência “Os novos desafios do VIH: estigma e impacto social” vai juntar especialistas e contar com testemunhos na primeira pessoa de quem vive com o vírus.
Quando, onde e a que horas?
O debate acontece na terça-feira, 20, a partir das 17h30
Quem são os oradores em destaque?
- Cristina Sousa, presidente da Abraço;
- Eduardo Costa, professor auxiliar convidado da NOVA SBE;
- Teresa Fabião, bailarina.
Porque é que este evento é importante?
Mais de quatro décadas após a descoberta dos primeiros casos de VIH, o estigma e a discriminação continuam a ser os principais inimigos no controlo da infeção. Os seus efeitos, que vão para lá da exclusão social, podem ter impacto sério na saúde mental de quem vive com o vírus, mas também evitar, ou atrasar, a realização de um teste VIH. Para combater o problema e aumentar a literacia neste tema, o Expresso conta com o apoio de especialistas e testemunhos na primeira pessoa para esclarecer mitos e, sobretudo, apontar soluções de futuro.
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