Entrepreneur Of The Year

“Sonhar, tentar e falhar” mesmo com “garrote fiscal”

Carlos Moreira da Silva é o presidente do júri do EY Entrepreneur of the Year 2025
Carlos Moreira da Silva é o presidente do júri do EY Entrepreneur of the Year 2025

Empreendedorismo. Apesar das dificuldades ligadas ao excesso de burocracia e de falta de um desígnio a longo prazo, a economia em Portugal tem dado sinais de algum vigor. Em 2025 pedem-se mais condições para a criação de riqueza

“Sonhar, tentar e falhar” mesmo com “garrote fiscal”

Tiago Oliveira

Jornalista

“Sonhar, tentar e falhar” mesmo com “garrote fiscal”

Rui Duarte Silva

Fotojornalista

Empreender é uma palavra que já passou de ‘estranha’ a fazer parte por direito próprio do léxico económico. “Ser empreendedor em Portugal não é muito diferente de o ser noutros países com democracia liberal: as regras estão razoavelmente definidas e são precisas ideias, talento e capital”, resume Carlos Moreira da Silva, CEO e fundador da Teak Capital.

“Mas entre nós”, acredita, “está a enraizar-se uma cultura que despreza o risco, penaliza o sucesso e não valoriza quem o promove”. O presidente do júri do EY Entrepreneur of the Year 2025 (edição que pode conhecer melhor nesta página) e vencedor do galardão em 2009 defende que “devia ser claro que quem cria riqueza são as empresas” e que “sem elas o investimento e o emprego ficam limitados”. Até 2023, num espaço de 10 anos, foram criadas em Portugal cerca de 440 mil empresas, de acordo com a Informa D&B, com esse ano a bater o recorde de sempre ao superar as 52 mil entidades criadas. Em 2024 houve uma ligeira quebra de 2,6%, ainda assim suficiente para ser o segundo melhor ano de sempre neste campo. Mas outros dados merecem reflexão: o número de insolvências aumentou pelo segundo ano consecutivo (8,2%), ao passo que, se compararmos o período que vai do início do ano até ao final de abril de 2025 com o equivalente do ano transato, o número de empresas constituídas em Portugal desceu 4,6%.

Desafios

“A melhoria da produtividade e a inovação são as maiores alavancas para o crescimento da economia e da riqueza, que se não for criada não pode ser distribuída”, aponta Carlos Moreira da Silva. “Para isso precisamos de empresas de maior dimensão, que, em média, têm mais alta produtividade e pagam melhores salários”, porque “em Portugal temos proporcionalmente muito menos grandes empresas do que a média da União Europeia (menos 42%)”. É um campo em que o presidente do júri realça “um garrote fiscal elevado e um IRS com forte progressividade e com um número de escalões inaceitável” como algo “desmotivador da progressão dos jovens e dos menos jovens nas suas carreiras”, além do “IRC, com a sua idiossincrática progressividade”, que “não incentiva o crescimento”. Sublinha que “sonhar, tentar e falhar fazem parte de aprender a crescer”, com a certeza “de que esta mudança cultural pode levar uma ou duas gerações, mas precisamos de levar avante esta empreitada”.

Realça o mais recente vencedor (2023) do prémio, Sérgio Silva, que “temos talento, temos criatividade e uma geração com vontade de arriscar e fazer diferente”. E se “há mais redes de apoio e até uma melhoria no acesso ao financiamento, com mais venture capital [capital de risco] disponível”, explica o CEO do Vigent Group, “faltam outras coisas, como menos burocracia, menos regulamentação europeia ou menos impostos sobre o trabalho”. O empresário fala mesmo de um “excesso de burocracia” e acrescenta que “a instabilidade política agrava mais ainda este cenário, porque tira previsibilidade a quem quer investir e planear a longo prazo”. Passamos por uma fase caracterizada por “tempos de incerteza, com geopolítica instável, inflação, taxas de juro elevadas, transição energética e digital”. Com a ressalva de que este período “pode ser uma oportunidade”, o que implica “ser ágeis, apostar na tecnologia, na transição energética, na digitalização e acompanhar o comboio da inteligência artificial”.

Empreender “em Portugal é uma enorme oportunidade e relevante desafio”, considera António Rios de Amorim, CEO e presidente da Corticeira Amorim (vencedor em 2017), que destaca estarmos num “país que está a entrar no radar dos grandes investidores” e que “tem talento e uma nova classe dirigente com ambição e cultura internacional”. Na sua visão, “falta um ecossistema com dimensão capaz de arriscar mais no escalar das empresas” quando Portugal precisa de “mais empresas globais”. Garante que “nas empresas” não se trabalha “para prémios, mas sim para resultados”, enquanto defende que “estão cada vez mais dissociadas da evolução política” e deixa escapar um desabafo: “Já chega a turbulência internacional!”

“Ter uma visão de negócio diferenciadora, conseguir financiamento, formar equipa, montar operações, enfrentar concorrentes, gerir incerteza, ser inovador, manter alinhamento interno e resistir sucessivamente a obstáculos externos é algo que está ao alcance de poucos”, esclarece o country managing partner da EY em Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, Miguel Farinha. Pela positiva, Portugal tem “muitos jovens universitários expostos a um ambiente internacio­nal”, além de “um acesso facilitado a tecnologia” ou “ecossistemas vibrantes”, que permitem “acelerar aprendizagens” e “ajudar a limar arestas antes de os planos de negócio chegarem à dura realidade do mercado”. Por isso “a resiliência da economia portuguesa em tempos de crise internacional pode já ser um sinal do que estes novos empreendedores têm para oferecer”, e recorda uma “expressão conhecida” para elaborar “que em momentos de crise há alguns que choram e outros que vendem lenços”.

O que tem de saber

Candidaturas

Pode inscrever-se (ou ser proposto) ao prémio EY Entrepreneur of the Year até 12 de setembro

Aceita-se quem detenha uma participação de pelo menos 10% do capital social e desempenhe funções executivas de chairman ativo há pelo menos dois anos numa empresa ou grupo de empresas que apresente um volume anual de negócios superior a €10 milhões, tenha centro de decisão em Portugal e possua um mínimo de 10 colaboradores. São admitidas candidaturas conjuntas até três pessoas, como cofundadores, por exemplo. O link é o seguinte: eoy.ey.com/home.

Processo

Uma equipa sénior da EY conduzirá uma entrevista pessoal com o candidato

O objetivo é aprofundar o conhecimento da personalidade e do seu projeto com a informação recolhida na conclusão do processo de candidatura e entrevista a ser integrada num dossiê.

Decisão

Cada nome a concurso será submetido à apreciação de um júri independente composto por figuras de diversos quadrantes

Ao júri caberá a seleção dos finalistas do concurso e depois do grande vencedor, além dos troféus para os empreendedores que se destacarem noutras vertentes, com anúncio numa gala em novembro. Propósito, crescimento, espírito empreendedor e impacto são os critérios definidos. O premiado representará Portugal no EY World Entrepreneur of the Year.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: toliveira@impresa.pt

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