Acelerador de Sustentabilidade

As múltiplas soluções para tornar o turismo mais “verde”

As múltiplas soluções para tornar o turismo mais “verde”

Guia: um negócio mais sustentável passa pelas energias renováveis, por reduzir o uso de plástico e o consumo de água, por fazer menos lixo e evitar o desperdício alimentar. Mas também passa por criar melhores empregos e apoiar economias locais

Ana Baptista e Carlos Monteiro (infografia)

Agências de viagem, transportes, alojamentos, restaurantes, empresas de excursões e até de festivais. A transição para um turismo mais sustentável envolve vários tipos de empresas e, por isso, vários tipos de soluções, algumas das quais relativamente baratas e fáceis de implementar.

Qual o primeiro passo?

Fazer um diagnóstico do que consome (tanto água como energia e alimentos), do que deita fora e recicla, dos mate­riais e máquinas que utiliza e da eficiência dos edifícios que ocupa. Há ferramentas digitais para isso, como a que há no site do Turismo de Portugal. E depois é só atuar onde gasta mais.

Então, o que posso fazer para reduzir o consumo de energia?

Na eletricidade, substitua lâmpadas, máquinas, sistemas de ar condicionado e eletrodomésticos por outros mais eficientes. Pode ainda instalar sensores ou sistemas de monitorização digitais, que, por exemplo, desligam o ar condicionado e as luzes dos quartos que ficaram ligadas. Ou instalar painéis solares, a que pode associar sistemas de armazenagem de energia e/ou coletores para aquecer as águas sanitárias. No gás, substitua os equipamentos por outros a eletricidade. E nos combustíveis opte por carros elétricos ou híbridos, ou pelo transporte partilhado, ou, se fizer ofertas de lazer na sua empresa, introduza passeios de bicicleta, a cavalo ou a pé.

E como baixo o consumo de água?

Pode instalar torneiras com sensores ou redutores de caudal e/ou implementar sistemas de captação da água da chuva ou dos duches para usar nos autoclismos. Nas limpezas, use panos de microfibras, que absorvem mais água, e, se tiver um alojamento, não mude os lençóis e toalhas todos os dias sempre que o cliente ficar mais do que uma noite. Aliás, os hotéis têm vindo a aumentar o tempo mínimo de estada como medida para poupar recursos.

Que soluções tenho para reduzir o desperdício?

Evite comprar quantidades maiores porque é mais barato, porque depois estragam-se e vão para o lixo. Nesse sentido, opte por produtores e fornecedores locais, pois não só ajuda a economia local como restringe o uso de transporte para entregas e, por isso, reduz as emissões de CO2. No limite, tenha um menu que muda consoante o que há disponível na época, como fazem no Socalco Nature Hotels ou nos gelados Friic, ambos da Madeira. Ou então, se lhe sobrar comida em bom estado, não deite fora, faça doações a instituições. A redução do desperdício, por exemplo de papel, pode ainda ser combatida com a digitalização seja dos check-ins ou das ementas.

Reduzir o plástico também é importante…

Sim, e pode ser um processo rápido. Por exemplo, o grupo Pestana queria reduzir o consumo de plástico para metade em dois anos, mas bastaram nove meses para atingir uma redução de 60%. Eliminaram copos, palhinhas e até os sacos onde vinham os chinelos de quarto, substituíram os frascos de champô por doseadores recarregáveis e as garrafas de plástico por garrafas de vidro ou reutilizáveis. Uma prática que já se começa a ver em vários hotéis e restaurantes em Portugal.

Também ouvi falar em emprego sustentável...

Um modelo de negócio mais sustentável envolve empregos com melhores condições. Por exemplo, há um esforço para requalificar trabalhadores desempregados e para oferecer mais contratos fixos ao longo de todo o ano, e não apenas sazonais. Aliás, muitos dos fundos europeus para o turismo são para a criação de emprego e formação profissional.

Isto tudo não é uma grande despesa?

Depende sempre das medidas a tomar, mas há soluções “relativamente baratas” e fáceis de implementar, diz Hermano Rodrigues, da consultora EY. E todas vão acabar por originar poupanças, garante Ana Costa, da consultora de investimento Beta-i. Por exemplo, um hotel de 4 estrelas e cinco pisos nos Açores investiu €15,8 mil para substituir as lâmpadas e agora tem uma poupança anual de €14,5 mil.

Há financiamento público?

Sim, pelo menos €3,54 mil milhões. Destes, €20 milhões são do Turismo de Portugal, €260 milhões estão incluídos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e são para projetos relacionados com emprego sustentável (€230 milhões) e eficiência energética nos edifícios (€30 milhões) e €2,84 mil milhões estão no Portugal 2030 e são para projetos de emprego sustentável (€2200 milhões), descarbonização (€615 milhões) e ainda armazenamento e digitalização de redes de energia (€25 milhões).

E até quando estão disponíveis esses fundos?

Os apoios do PT 2030 são, como o nome indica, até 2030. Os do Turismo de Portugal e do PRR, até 2023.

Como me candidato?

Para o PRR, usa-se o site do IAPMEI, do Fundo Ambiental e do Balcão 2020. No caso dos apoios do Turismo de Portugal, basta ir ao site e procurar o Programa Transformar Turismo. Já o PT 2030 deverá ser como no PRR.

E posso recorrer à banca?

Sim. Quase todos os bancos têm linhas de crédito específicas, que, por serem para projetos sustentáveis, têm apoios do Banco Central Europeu e podem ter condições mais favoráveis, mesmo em tempo de juros mais altos.

O acelerador das empresas

Seis meses, seis sessões de formação, seis eventos em seis cidades, seis temas — descarbonização, energias renováveis, turismo, agricultura e imobiliário mais sustentáveis e economia circular —, seis guias: depois da descarbonização e das renováveis, é agora a vez do turismo. O quarto, quinto e sexto guias, respetivamente sobre agricultura, economia circular e imobiliário, serão publicados a 4 e 25 de novembro e 9 de dezembro. Esta é a base do Acelerador de Sustentabilidade, um projeto para as pequenas e médias empresas (PME) organizado pelo Expresso e o BPI. Estratégias, conselhos e passos para descarbonizar e ter um negócio sustentável.

Textos originalmente publicados no Expresso de 21 de outubro de 2022

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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