O cenário escolhido por Zelensky para felicitar os compatriotas pelo Dia da Independência foi uma avenida central de Kiev, povoada, por estes dias, por tanques russos queimados e destruídos, em vez do equipamento militar ucraniano, que representaria um possível alvo se desfilasse este ano. As palavras do Presidente ucraniano foram um elogio à resistência do seu povo, que se mobilizou combatendo na linha da frente e até arrecadando fundos para os esforços de guerra, ao longo de seis meses de guerra.
No seu discurso noturno, o alto representante do país emitiu ainda um alerta ao público estrangeiro. Zelensky não hesitou em dar força às palavras, afirmando que a Ucrânia é uma nação "renascida" no conflito e com um renovado sentido de identidade cultural e política. A separação total da Rússia é agora uma realidade inabalável, salientou o líder da Ucrânia. Foi em torno deste país que se uniram as democracias do mundo, agora com um novo propósito.
O discurso foi pré-gravado por razões de segurança. Aliás, Zelensky tinha alertado, horas antes, para a possibilidade de uma nova onda de ataques de maior violência, que atacariam o simbolismo e orgulho ucranianos.
"Cada dia novo é uma nova razão para não desistir. Porque, tendo passado por tanta coisa, não temos o direito de não ir ao fim. Qual é o fim da guerra para nós? Costumávamos dizer: 'Paz.' Agora dizemos: 'Vitória.'"
O Presidente ucraniano prosseguiu exaltando: "Vamos lutar pela nossa terra até ao fim. Estamos a aguentar há seis meses. É difícil, mas cerramos os punhos e estamos a lutar pelo nosso destino." O líder também prometeu não fazer cedências à Rússia. "Para nós, a Ucrânia é toda a Ucrânia. Todas as 25 regiões, sem concessões ou compromissos."
Aviso aos parceiros e aos inimigos
Zelensky também usou o discurso para censurar os aliados ocidentais da Ucrânia - como já tem vindo a fazer - por hesitarem, apesar de os Estados Unidos, até o momento, já terem fornecido cerca de 10,6 mil milhões de euros em ajuda militar, incluindo 19 pacotes de armas retirados diretamente dos 'stocks' do Departamento de Defesa. Também os países europeus já enviaram milhares de milhões de dólares em ajuda militar. “Ser indiferente, inativo e lento é uma vergonha”, atirou o Presidente da Ucrânia.
Depois, avançou para novos avisos ao adversário na guerra. Nos últimos dias, foram noticiadas tentativas de alto nível de matar líderes russos em Mariupol, Melitopol e Kherson, três das maiores cidades agora sob ocupação russa. Militares ucranianos também bombardearam, na terça-feira, a sede da administração da ocupação russa na região de Donetsk, no leste da Ucrânia.
"Nenhum ocupante se sente seguro na nossa terra", considerou Zelensky, vaticinando: "Todos os colaboradores sabem que não têm futuro."
A força de uma nação "renascida"
Volodymyr Zelensky não tem dúvidas de que o povo ucraniano foi levado a fazer uma escolha decisiva. Com a guerra, que se iniciou há seis meses, a 24 de fevereiro, foi necessário "dizer 'sim' à independência, não no voto, mas na alma e na consciência", apontou o líder ucraniano.
Esta é, de acordo com o Presidente do país invadido, "uma nova nação que surgiu a 24 de fevereiro, às 04:00, da manhã". E como a apresenta? Como um país que "não nasceu, mas renasceu; uma nação que não chorou, não gritou, não se assustou, não fugiu, não desistiu".
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