Guerra na Ucrânia

Mariupol, cidade apocalíptica, a certeza das armas termobáricas e a ameaça das armas químicas. Como a Rússia intensificou a luta no 14.º dia de guerra

Mariupol, cidade apocalíptica, a certeza das armas termobáricas e a ameaça das armas químicas. Como a Rússia intensificou a luta no 14.º dia de guerra

Os ataques a uma maternidade e a um hospital pediátrico em Mariupol, os relatos que vêm do sul, de uma cidade portuária mergulhada numa realidade “apocalíptica”, e as preocupações em torno dos métodos bélicos das forças russas. O Expresso resume-lhe o que se passou no 14.º dia de guerra na Ucrânia

Caiu a noite na Ucrânia, mas sem promessa de tréguas ou descanso. Ao 14.º dia de guerra, quando a Organização das Nações Unidas já confirma a morte de pelo menos 516 civis, entre os quais 41 crianças, Mariupol, no Sul, volta a ser o centro dos ataques mais violentos. Sergiy Orlov, autarca da cidade portuária ucraniana, acusou a Federação Russa de orquestrar um “genocídio puro”. Na cidade sitiada há uma semana pelos russos, sem acesso a água, eletricidade ou gás, com “fogueiras” esporádicas para apaziguar o frio, terão morrido, de acordo com as contas do autarca ucraniano, 1170 pessoas. Sem acesso a alimentos, os que sobrevivem na cidade terão começado a comer neve, condições que são descritas como “apocalípticas” por Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros do país ocupado. A Ucrânia acusou, nesta quarta-feira, as forças russas de manterem “400 mil pessoas reféns” em Mariupol, e nem o acordo para a organização de um corredor humanitário fez com que fosse cumprida a promessa de cessar-fogo.

Volodymyr Zelensky acrescentou a estas denúncias as imagens de um hospital infantil e de uma maternidade, na mesma cidade portuária, destruídos na sequência de um ataque aéreo. Em Mariupol, a certeza da morte começa a apagar a esperança da vida que amanhece. Apesar da devastação nas ruas e nos edifícios, crianças enterradas sob os escombros, grávidas surpreendidas pelo susto, mulheres em trabalho de parto em cima de destroços, um número por apurar de mortos e feridos são os estilhaços mais irrefutáveis deste dia de conflito.

A Ucrânia tem vindo a acusar o exército russo de atingir civis de forma deliberada, e os bombardeamentos desta quarta-feira fizeram adensar as suspeitas. Os Estados Unidos da América (EUA) acreditam agora que a Rússia está a lançar bombas sem munições guiadas e sem precisão no alvo. Um alto representante da Defesa norte-americana sustenta estas declarações pelo “aumento significativo de baixas de civis e de ataques a residências”.

As autoridades de Defesa dos países ocidentais levantaram ainda uma “séria preocupação”: Vladimir Putin poderá estar mesmo a ponderar recorrer a armas químicas para derrubar Kiev. A confirmar-se, a capital da Ucrânia poderia sofrer um “ataque absolutamente horrível”, que resultaria da frustração de o ‘plano A’ não estar a resultar, com as tropas russas a enfrentarem grandes problemas logísticos para chegarem à cidade.

Pelo menos uma das desconfianças que pairavam sobre o exército russo foi desmistificada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do país: a Rússia tem recorrido a armas termobáricas ( TOS-1A), também conhecidas como “pai de todas as bombas” pela sua letalidade e por desencadearem grandes incêndios e explosões, como o Expresso já explicou.

Também nesta quarta-feira, mais de 40 mil civis foram retirados de cidades da Ucrânia fortemente atacadas pelas forças russas. No entanto, os militares ucranianos locais continuam a lamentar que a ofensiva russa se mantenha ativa, tornando a evacuação impossível.

A resistência ucraniana mantém-se firme no terreno, mas a oposição ocidental também aumenta de hora a hora, tendo levado o Kremlin a declarar, nesta quarta-feira, que os EUA estão a travar uma “guerra económica”. A Rússia está a cada dia mais isolada, e das últimas horas é notícia o apertar do cerco a mais 160 cidadãos russos coniventes e apoiantes do regime de Putin, uma sanção aplicada pela União Europeia.

Na central nuclear de Chernobyl, o isolamento pode ter consequências alarmantes. A Agência Internacional de Energia Atómica admitiu que perdeu as comunicações com os sistemas de dados nucleares. Nesta central onde, há mais de três décadas, ocorreu o maior acidente nuclear da História, mais de 100 trabalhadores e 200 guardas ucranianos estão retidos há praticamente duas semanas. As instalações estão sob o controlo dos soldados russos. A Agência Internacional de Energia Atómica acredita, no entanto, que a perda de eletricidade não é uma ameaça imediata.

O conflito em números:

  • Já foram registados 18 ataques, na Ucrânia, contra unidades de saúde, profissionais de saúde e ambulâncias, que resultaram em dez mortes e 16 feridos (fonte: Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde)
  • Mais de 500 ucranianos morreram e mais de 900 ficaram feridos (fonte: ONU)
  • A Rússia lançou 710 mísseis contra a Ucrânia desde o início da invasão (fonte: Defesa norte-americana)
  • Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas na sequência do ataque aéreo ao hospital pediátrico de Mariupol (fonte: autarca da região de Donetsk)
  • Foram retiradas da Ucrânia mais de 40 mil pessoas nesta quarta-feira, entre mulheres e crianças (fonte: autoridades ucranianas)
  • Mais de três mil pessoas conseguiram escapar dos combates “em partes ocupadas de Irpin e Vorzel”, localidades a norte de Kiev (fonte: Ministério do Interior ucraniano)
  • Guarda Nacional Russa deteve 400 pessoas na cidade ucraniana de Kherson (fonte: exército ucraniano)

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