Foi a entrevista mais perturbadora que fiz em muito tempo. O homem chama-se Ilya Samoïlenko. Tem 27 anos, um belo rosto muito pálido, um olho que parece morto, um colar de barba negra, estranhamente bem aparada. É o segundo comandante do último grupo de combatentes que seguram o complexo siderúrgico de Azovstal, em Mariupol.
Está 30 metros debaixo de terra e fala do outro lado de uma ligação por Zoom, sob uma luz terna e fria. Pensa que vai morrer, com os seus mil camaradas, nos próximos dias, quiçá horas. A conversa é filmada, e eu resumo-a.
Emociona-me muito falar consigo.
E eu estou muito contente. No ano passado conheceu o nosso comandante, em Mariupol. Ele diz palavras calorosas sobre si.
Qual é hoje a situação na Azovstal?
A mesma de ontem. E a mesma de anteontem. E do dia anterior. Há talvez sete dias, talvez oito, já nem sei, que deixámos de ver o tempo passar, não distinguimos o dia da noite. Há oito dias que a pressão do inimigo cresce, ataca com os seus tanques, os seus canhões de marinha, os seus aviões, tudo.
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