Nunca tantos jovens afirmaram valorizar a democracia – contudo, nunca tantos se mantiveram distantes do voto, dos partidos e dos movimentos políticos tradicionais. Será que isto é uma geração que confia no sistema, mas o perceciona como uma app a correr em segundo plano, que se atualiza sozinha?
Dados do Eurobarómetro mostram que os jovens não são antidemocráticos. Pelo contrário, trata-se da geração com o acesso mais simplificado à informação, o que se traduz numa grande consciência social — valorizando bastante a democracia, a estabilidade política, os direitos humanos e a justiça social. No entanto, a abstenção é mais elevada na faixa etária dos 18-34 anos. Existe pouca participação em associações cívicas, partidos políticos ou mesmo em sindicatos. Os protestos, a forma de expressão formal e presença física são insuficientes. Os jovens (aqueles que se “preocupam”) preferem publicar um comentário desagradável sobre uma determinada matéria nas redes sociais, em detrimento de participar ativamente em partidos políticos ou outras instituições que promovam os seus interesses. A confiança cega e abstrata no sistema, somada ao distanciamento pragmático dos jovens dá origem a uma democracia imóvel, pouco saudável e sem vitalidade popular.
Um distanciamento que tem origem no ativismo nas redes sociais — campanhas virais que não têm impacto institucional direto e dão a ilusão do like como voto. Uma “participação política não convencional” através de petições online ou um coração encarnado num reel sobre a crise na habitação. Estes podem ser novos mecanismos de participação e manifestação política. Todavia, permanecem distantes e apáticos, talvez por causa da sobrecarga informativa que gera, comummente, cansaço político nos jovens. Não descartando, ainda, a possibilidade desta apatia advir do desencanto com os líderes ou partidos políticos. As forças políticas são percecionadas como grandes blocos pouco transparentes, com uma flexibilidade ideológica muito reduzida (ou inexistente) e em constante conflito.
Os jovens não podem cair na descrença do voto e consequentemente da democracia. Há que criar e promover iniciativas didáticas que instruam e conectem os partidos e os governantes com as novas gerações. Quebrar o tabu e desenvolver a literacia política nas escolas, dando enfâse a disciplinas como Ciência Política. A intervenção na vida pública tem de ser percecionada como uma responsabilidade de cidadania ativa e um processo simples e acessível. Sendo, também, necessário desmistificar alguns dogmas do contexto político (a corrupção ou os lobbies políticos) - assim é possível atrair a juventude e torná-la mais ativa na vida política. É crucial juntar os jovens, informá-los e dar-lhes a liberdade de seguirem o caminho em que creem. Não (necessariamente) o caminho com mais likes ou shares, nem o que faz mais barulho e que está na moda – mas sim o que acreditam que faz a diferença. Assim, o combate à desinformação desempenha um papel bastante importante para o desenvolvimento da democracia.
Uma democracia sem cidadãos ativos é uma democracia debilitada e sem legitimidade nas decisões políticas – governos eleitos com base em minorias ativas. Abre espaço para forças políticas populistas que discursam “contra o sistema”, fazendo promessas simples e irrealistas que visam resolver problemas complexos. Deixa, ainda, comprometida a liderança futura: os futuros líderes, deputados, autarcas ou ativistas. Estes são atuais jovens confiantes no sistema, cientes das suas falhas e possíveis ameaças, mas descrentes da ação. É necessário o envolvimento jovem – ligar o ativismo digital ao ativismo prático e institucional, de maneira a não comprometer a qualidade democrática futura.
Votar não é suficiente – mas não votar é desistir. A democracia é frágil e exige vigilância, manutenção e “atualizações” constantes, nomeadamente pelas mãos dos jovens que constantemente a devem moldar e enriquecer com ideias e preocupações. A democracia é uma app que precisa de estar permanentemente em funcionamento, mas para isto ser possível é crucial a constante participação dos jovens - vai para além do like.
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