“Não basta ir à televisão dizer que é falso”: efeitos da desinformação são difíceis de corrigir devido a “preguiça cognitiva”
Um membro do grupo "Pássaros Não Existem" num protesto em Madrid. Este coletivo satiriza as teorias da conspiração ao afirmar de forma humorística que todos os pássaros foram substituídos por drones de vigilância operados pelo Estado, uma paródia que procura criticar a difusão de informação falsa, teorias da conspiração e notícias falsas nas sociedades contemporâneas.
Marcos del Mazo
Se determinada informação é confortável para determinada pessoa “há alguma dificuldade em ir procurar as suas fontes ou aquilo que pode ser verdade ou mentira”, tornando difícil a sua correção, explica investigadora Magda Saraiva, do William James Center of Research
A académica Magda Saraiva defende que o efeito da desinformação é difícil de corrigir e que as pessoas continuam a acreditar na desinformação mesmo após serem explicitamente informadas da sua falsa natureza por "preguiça cognitiva".
Em declarações à agência Lusa, a investigadora do William James Center of Research (ISPA - Instituto Universitário) afirmou que as pessoas tendem a acreditar em desinformação, mesmo depois de estar explícita a origem enganosa dessa informação, devido a uma “preguiça cognitiva, uma codificação da informação na memória que é difícil de alterar”.
Se determinada informação é confortável para determinada pessoa “há alguma dificuldade em ir procurar as suas fontes ou aquilo que pode ser verdade ou mentira”, tornando difícil a sua correção, explicou.
Além disso, “o panorama da desinformação em Portugal atualmente é obviamente preocupante, começando pelo facto de poder moldar a memória, o que se estuda, mas também moldar comportamentos, ações e capacidade de tomada de decisão” podendo estar em causa consequências individuais, sociais, económicas ou políticas.
Para Magda Saraiva, características individuais, a falta de literacia mediática, não saber onde procurar fontes credíveis e influência social são fatores que contribuem para que as pessoas acreditem em desinformação, podendo também estar em cima da mesa o que chama de “efeito de ilusão de verdade”.
“Se se tentar contradizer uma mentira com a verdade, essa informação, pelo facto de ser nova, vai ser considerada mais falsa, porque não é familiar”, afirmou.
Neste sentido, a literacia mediática pode ser relevante para combater a desinformação, embora seja “obviamente um exercício muito difícil de pôr em prática a um nível massificado”, afirmou.
“Não basta ir à televisão para dizer que uma informação é falsa, até porque, estando a contrariar, provavelmente estamos a reforçar a verdade da informação falsa e não a corrigi-la”, pelo que as atuais estratégias de verificação de factos “são eficazes para as pessoas que querem conhecer a verdade [...] mas só se essa informação interessar”.
Apesar disso, a académica afirmou que “não existe forma de acabar com a [circulação de] desinformação”, até porque as estratégias atuais “não são eficazes para toda a desinformação, senão não haveria desinformação e seria muito fácil corrigi-la”.
“Há milhares e milhares de informações novas todos os dias e é completamente impossível rastrear toda a veracidade dessa mesma informação”, por isso, “não é possível chegar com a verdade a toda a gente, porque as pessoas têm as suas próprias crenças pessoais e porque alguma verdade é também discutível”, concluiu.