Geração E

Já agora, o agora também é nosso…

Já agora, o agora também é nosso…

João Avelar Dias

Secretário-Geral da SEDES Jovem

Estarão as gerações que nos precederam prontas para nos deixar ter voz e contribuir para a resolução dos problemas que ora nos criaram, ora nos legaram?

Muito se tem refletido sobre o tema dos jovens e da sua relação com a política. Diz-se que estão afastados dos partidos, o que é verdade. Que se revêem hoje mais em causas do que em ideologias, o que é verdade. Que sentem que a política se fecha demasiado em gabinetes, e que deles está distante, o que é verdade. Que pensam que são sempre os primeiros a ser esquecidos e sacrificados pelas crises, restrições orçamentais ou pelas meras opções de quem governa, o que é verdade. Mas diz-se também que se encontram radicalizados, afastados da moderação e que abominam o centro político de decisão, ideia com a qual não posso concordar.

É certo que se tem escrito ao longo da história, certamente por corresponder à verdade, acerca da tendência da juventude trazer consigo um idealismo, a meu ver, bonito, e pouco contaminado pela desilusão que mais tarde se ganha ao verificar que o que se idealizou não foi concretizado.

Eu sou jovem e julgo conhecer a minha geração. Julgo também não fazer parte de uma geração de extremistas, pelo menos não mais que as anteriores, mas de jovens que se deparam com dificuldades profundas e preocupantes para as quais, regra geral, não são encontradas respostas. Somos, talvez, dos últimos largos anos, a geração que mais rapidamente se apercebeu que alguns paradigmas que nos foram transmitidos não se verificariam. Crescemos a ouvir que nos devíamos aplicar nos estudos, especializar-nos, escolher uma profissão, sermos bons profissionais e que isso chegaria para podermos ser felizes e realizados no nosso país, tendo acesso a um grau satisfatório de retribuição material que nos permitiria, mais do que sobreviver, viver bem. No entanto, demasiado cedo, mesmo antes até de chegar a nossa vez de completar o caminho de formação a que nos propomos, percebemos que assim não será. Somos, então, vaticinados a, sendo a tão famosa geração mais qualificada de sempre, como se cada geração não fosse ou devesse ser sempre mais qualificada do que as que lhe precederam, ser também a menos realizada.

É, portanto, óbvio que não é possível estarmos satisfeitos com o status quo.

O que, no entanto, não nos pode levar a queremos as soluções, vendidas como fáceis, pelos extremistas e radicais, que, na verdade, não passam de projetos ora injustos, ora irrealistas, ora ambos. Queremos sim ver os nossos problemas resolvidos e poder aspirar a um futuro no nosso país. Sei que muitos nos tentam dizer que não é possível chegarmos a este objetivo utilizando para isso, como meios, as instituições que temos. Sei-o mas não concordo. Penso que é precisamente reformando as instituições que herdámos, inclusivamente os partidos políticos do arco da governação, que seremos capazes de progredir e garantir à nossa geração o que ela merece e anseia.

Portugal tem muitos jovens capazes para contribuir com as suas ideias, certamente inovadoras, para a solução de muitos dos nossos problemas coletivos. Eles estão por aí - nas associações, nas universidades, no setor público e no setor privado. É imperativo que os nossos decisores saibam, que mais do que poderem, precisam de contar com a minha geração. Precisam porque trazemos mais qualificação, mais arrojo e mais ambição.

O país e, mais concretamente, o Estado precisam de reformas. Precisamos de um Estado mais moderno em áreas como a fiscalidade, a justiça e a saúde. Precisaremos de legislar e construir soluções em áreas como o trabalho, a educação e a ciência, fruto dos desafios que já sabemos que vamos ter com as novas tecnologias e novas realidades. Em outra área importante, a transição climática, precisamos da juventude para garantir que a mesma é feita da forma mais ambiciosa e mais justa, com respeito pelo nosso futuro. No entanto, para isto tudo, precisamos de uma geração motivada para os grande desígnios nacionais do desenvolvimento e, para que isso aconteça, a mesma tem de se sentir valorizada. Entendo, então, que precisamos de mais jovens nas nossas instituições, no centro do poder de decisão democrático, para evoluir como país.

Concluindo, cada vez acredito mais que é através do diálogo entre moderados que se conseguirão as reformas que o país precisa. Creio que a minha geração está disponível para uma perspectiva de criação de pontes e diálogos intergeracionais entre os reformistas dos vários campos políticos e das várias faixas etárias. A grande questão que deixo é: estarão as gerações que nos precederam prontas para nos deixar ter voz e contribuir para a resolução dos problemas que ora nos criaram, ora nos legaram?

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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