Fundado em 2011, foi durante a pandemia que viu a popularidade crescer. O Letterboxd é conhecido como “uma rede social para os amantes de cinema” e conta com cerca de 10 milhões de utilizadores em todo o mundo. A maior parte são Millennials e da Geração Z, ou seja, os nascidos entre o início dos anos 80 e 2015
Em plena pandemia, nos períodos de confinamento, quando foram negadas aos cidadãos atividades ao ar livre e o convívio com outras pessoas, uma grande parte do tempo foi passada a ver filmes e séries. Foi nessa altura que o número de utilizadores do Letterboxd mais cresceu e a plataforma reforçou a sua popularidade junto da comunidade cinéfila.
O Letterboxd está para os filmes como o Goodreads está para os livros. Avaliar, comentar e adicionar filmes que já vimos ou queremos ver e criar listas temáticas são algumas das funcionalidades disponíveis na versão gratuita, mediante a criação de uma conta.
Nas versões pagas (Pro e Patron) já é possível ter acesso a funcionalidades mais personalizadas. Na versão Pro, o utilizador recebe notificações sobre os filmes da sua watchlist que passaram a estar disponíveis em plataformas de streaming e na versão Patron é possível testar novas funcionalidades (versões “beta”) antes de serem disponibilizadas aos restantes utilizadores.
O perfil funciona como “traço de personalidade” de cada utilizador. Para além de mostrar os filmes que viu recentemente, também permite destacar os quatro filmes favoritos, que servem de “cartão de visita" e ajudam a chamar a atenção de outros utilizadores com gostos semelhantes.
Associado ao Letterboxd está um sentimento de comunidade, com a rede social a transformar-se num diário onde se partilham preferências cinematográficas com seguidores ou utilizadores desconhecidos. A esmagadora maioria dos utilizadores têm entre os 18 e os 35 anos, o que significa que são os Millennials e a Geração Z os responsáveis pelo sucesso e crescimento do Letterboxd, possivelmente por serem também aqueles que mais aderem ao consumo compulsivo de séries e filmes.
Utilizador do Letterboxd desde 2019, Luís Rodrigues reconhece a influência que a rede social pode ter na promoção da cultura cinematográfica nos mais jovens: “O Letterboxd é uma rede social que tenta promover a arte pela arte. A partir do momento em que criei conta comecei a ver muito mais filmes. No primeiro ano cumpri o desafio de ver 100 filmes num ano".
A experiência de João Miguel é semelhante. Ficou a conhecer a plataforma através de amigos durante o confinamento e no final de 2021 decidiu que estava na altura de aderir também: “Desde que tenho Letterboxd que vejo mais filmes. Tanto através de plataformas de streaming como de idas ao cinema, para os casos em que o filme está lá disponível."
Para além da famosa avaliação numa escala de uma até cinco estrelas, escrever críticas sobre os filmes parece ser uma das opções favoritas de quem utiliza o Letterboxd. Podemos encontrar de tudo, desde comentários bem estruturados que parecem escritos por críticos de cinema profissionais como simples comentários que brincam com o conteúdo do filme e o transformam no novo “meme” do momento. Por isso, podemos assumir que não há uma forma “correta” de utilizar o Letterboxd.
Esta rede social parece contribuir para o desenvolvimento de um sentido crítico de quem usa a rede social: “Ter Letterboxd fez com que tivesse, ou tentasse ter uma visão mais crítica de cinema, sem ser por mero entretenimento”, diz João Miguel ao Expresso.
No entanto, Jorge Leitão Ramos, crítico de cinema do Expresso, defende que o Letterboxd não faz dos seus utilizadores “verdadeiros” críticos de cinema, já que esse “estatuto” exige “um estudo e conhecimento profundo sobre cinema”.
O ano de 2023 ficou marcado por grandes estreias no mundo do cinema, como “Barbie”, “Oppenheimer” ou o controverso “Saltburn”, disponibilizado na plataforma de streaming Prime Video. Muito impulsionados também por outras redes sociais como o X (antigo Twitter) ou o Instagram, estes filmes têm chamado a atenção dos milhares de utilizadores do Letterboxd e integram a lista dos mais populares nos últimos meses.
Mas não são só os filmes mais recentes que se tornam virais na plataforma, a procura por clássicos do cinema como “Doze Homens em Fúria” (1957), “The Shining” (1980), “O Silêncio dos Inocentes” (1991) ou “Clube de Combate" (1999) tem crescido graças à curiosidade das gerações mais novas.
Luís e João Miguel admitem ter começado a ir mais vezes ao cinema desde que criaram conta no Letterboxd. De acordo com o site do International Audiovisual Market, a American Cinematheque, que exibe filmes em Los Angeles, registou um aumento significativo de espectadores desde a pandemia.
Recentemente, em países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Nova Zelândia e Austrália passou a ser possível, através do Letterboxd, descobrir que filmes estão a ser exibidos nos cinemas mais próximos e em que horários.
Embora não esteja garantido que esta funcionalidade seja aplicada em Portugal, a NOS Cinemas, contactada pelo Expresso, reconhece que esta funcionalidade podia "ajudar a atrair mais espectadores e ser mais um touchpoint de difusão de informação, contribuindo para a amplificação das grandes estreias que chegam às salas de cinema.”, afirmou Lígia Rodrigues Silva, diretora de marketing e operações.
De momento, segundo as suas declarações, não há dados que sustentem a influência da plataforma no mercado nacional mas enquanto líder no mercado da exibição em Portugal, destaca que o Letterboxd pode ajudar a perceber as preferências do público e promover uma maior interação com os espectadores.
Esta plataforma online dedicada ao cinema (disponível para Android e iOS) foi fundada em 2011, com sede na Nova Zelândia, por Matthew Buchanan e Karl von Randow. Recentemente foi vendida a uma empresa de tecnologia do Canadá que passou a deter cerca de 60% do Letterboxd, num negócio avaliado em mais de 50 milhões de dólares.
A paixão pelo cinema parece ser o “combustível” que move os cerca de 10 milhões de utilizadores que o Letterboxd conseguiu alcançar desde a sua criação. Segundo o The New York Times, em março de 2020 (data do início do confinamento) a plataforma tinha 1,8 milhões de utilizadores. No final do ano de 2021, o número de utilizadores já era superior a quatro milhões, e o crescimento não tem parado.
Artigo de Mariana Jerónimo, editado por Pedro Miguel Coelho.
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