Geração E

Nem todas as mulheres menstruam e nem toda a gente que menstrua é mulher

Nem todas as mulheres menstruam e nem toda a gente que menstrua é mulher

Clara Não

Ilustradora, ativista, autora

Este artigo é uma resposta às mensagens que recebo cada vez mais, a dizer que usar expressões como “pessoas com útero”, ou “pessoas que menstruam”, anula as mulheres. Espero clarificar este assunto

Este artigo é uma resposta às mensagens que recebo cada vez mais, a dizer que usar expressões como “pessoas com útero”, ou “pessoas que menstruam”, anula as mulheres. Espero clarificar este assunto. Sei que, mais uma vez, sou uma pessoa cis (que se identifica com o género que lhe foi atribuído à nascença) a incluir no seu discurso realidades de pessoas trans e não binárias. Pretendo usar a minha projeção mediática para falar sobre inclusão.

Nem todas as mulheres menstruam e nem toda a gente que menstrua é mulher. Esta frase não é uma opinião, é a realidade, que comporta em si várias camadas.

Nem todas as mulheres menstruam

Nem todas as mulheres cis menstruam, pelas mais diversas razões. Na gravidez e na menopausa, as mulheres (cis) não menstruam e continuam a ser mulheres. Além disso, há mulheres (cis) adultas com diversas condições médicas que as fazem não ter período, como por exemplo, estarem com amenorreia, ou terem feito histerectomia (remoção cirúrgica do útero).

É, ainda, importante esclarecer que pessoas que tomam métodos hormonais contraceptivos não têm menstruação. Mesmo que sangrem, têm sangramento de privação, não menstruação, e não ovulam (se, no caso da pílula, a toma for feita corretamente). No caso de uso de métodos hormonais contraceptivos de forma continuada — seja SIU (dispositivo intra-uterino (DIU) medicado), implante, ou toma de pílula contínua — pode não haver sangramento, ou só spotting. Mulheres cis nestas situações, que não menstruam, continuam a ser mulheres.

Nem toda a gente que menstrua é mulher

Para além de mulheres cis, há muitas pessoas não binárias e homens trans com útero que menstruam, daí a importância de usar expressões inclusivas quando falamos da experiência de ter período. Dizer “pessoas que menstruam” ao invés de “mulheres”, não anula as mulheres. Na verdade, a expressão trata sem discriminação toda a gente que tem período. Ter um discurso inclusivo em relação à menstruação é muito diferente de anular a experiência de crescer mulher, são dois assuntos distintos. Ser mulher é algo que se sente e vive, não é algo que se sangra.

Dito isto, se há várias realidades, o nosso discurso deve contemplá-las. Claro que, para leitores/as cis que me estão a ler, pode ser-nos menos natural abordar o assunto com inclusividade, mas é mesmo necessário que se faça um esforço.

Por mais inclusividade e mais vontade em evoluir na sensibilidade.

Leitura recomendada continuada:

Patrícia Lemos, neste caso os seus artigos e informações sobre Menstruação; e Carmo Gê Pereira, educadore feminista.

Sobre educação menstrual, recomendo os dois livros de Patrícia Lemos, o primeiro para idades mais novas e o segundo para pessoas adultas: Período e Não é só Sangue.

Revisão de texto:

Rafaela Jacinto e Dra. Lisa Vicente (revisão médica), autora do excelente livro O Atlas da V.

O valor correspondente a este artigo foi doado à Associação Plano i.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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