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Procrastinar é doença? Causas, consequências e dicas para lidar com a procrastinação

Procrastinar é doença? Causas, consequências e dicas para lidar com a procrastinação
Johannes Mann - Getty Images

‘Procrastinar’ é um termo cada vez mais usado entre as gerações mais novas, por isso, o Expresso falou com três jovens que se consideram procrastinadores para saber como é lidar com este comportamento no dia a dia. As dicas da psicóloga Liliana Dias podem ajudá-los (e também a si) a ultrapassar o adiar consciente de uma tarefa

Procrastinar é doença? Causas, consequências e dicas para lidar com a procrastinação

Carlos Paes

Animação gráfica e edição de vídeo

Procrastinar não é doença, mas pode muitas vezes ser considerado um padrão comportamental de perturbações médicas como a depressão ou ansiedade.

A verdade é que o termo ‘procrastinar’ ganhou fama entre a geração mais jovem e é constantemente usado para descrever os momentos em que se está a adiar, de forma consciente, começar uma tarefa por fazer ou outra responsabilidade.

E podem ser pequenos afazeres, como ir levar o lixo, enviar aquele documento importante ou tratar das compras da semana. Muitas vezes a procrastinação pode ser confundida com a preguiça, mas não é bem assim.

De facto, muitas pessoas experienciam momentos pontuais de procrastinação, mas há quem tenha “mais vulnerabilidade para procrastinar, e nesses casos, pode influenciar diretamente a sua vida pessoal e profissional”, explica ao Expresso a psicóloga Liliana Dias, membro do Conselho de Especialidade de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

As causas

Mas afinal, porque é que procrastinamos? As razões podem ser várias e Liliana Dias enumerou as mais comuns ao Expresso:

  • Priorizar um conforto temporário
  • Desmotivação para executar a tarefa
  • Responsabilidades que causam ansiedade ou são mais complexas de realizar
  • Quando não existe um sentimento de preparação, por isso há medo em falhar
  • Quando se trata de uma tarefa em que a pessoa não acredita ter a eficácia necessária ou é demasiado perfecionista
  • Por falta de organização e planeamento de agenda

As consequências

Agora que já sabemos o que nos leva a procrastinar, quais são as consequências deste comportamento? Liliana Dias diz que neste caso, é preciso dividir dois cenários: as consequências na vida pessoal e na vida profissional/académica.

Profissional/académica

  • Menor produtividade e menor potencial de desempenho positivo;
  • Na grande maioria das vezes, a tarefa não é executada com a melhor qualidade, porque é feita em cima do prazo devido à pressão do tempo;
  • Afeta não só o potencial momentâneo como o próprio futuro, já que atrasa a aprendizagem e crescimento.

Pessoal

  • A procrastinação está associada à menor satisfação e felicidade, do ponto de vista geral;
  • Pode afetar as relações com as pessoas mais próximas ou com quem sofra com os resultados dessa procrastinação, como colegas de casa;
  • A procrastinação também pode estar associada à falta de cuidado connosco próprios, no investimento na saúde, fisica e mental.

Procrastinar acaba por ser um ciclo contínuo de frustração, porque a pessoa sabe que tem de fazer algo, mas não o faz, o que acaba por agudizar os sintomas. A psicóloga nota que “as pessoas podem sentir que são os fatores externos que as impedem de fazer algo, mas são muito mais vezes os fatores internos, de bloqueio, e de quase ‘ser profeta do meu falhanço’”.

Os “profetas do falhanço”

‘Pedro’

O Expresso foi à procura destes “profetas do falhanço” e falou com três jovens que se consideram procrastinadores.

“Pedro” – nome fictício – tem 26 anos e é estudante na área da tecnologia de informação na Universidade do Porto, diz que procrastina muito mais no que toca às responsabilidades académicas do que pessoais.

Explica ao Expresso que nem as ‘deadlines’ o ajudam “mas se forem trabalhos com colegas, procrastino menos, porque sinto que a responsabilidade não recai apenas sobre mim, estou também responsável pelo sucesso de outros.

Regra geral, deixa-se levar pela procrastinação que diz estar agudizada por “estar a passar uma altura pior” da sua vida.

Contudo reconhece que tem impacto tanto na sua vida pessoal, como profissional. “É uma bola de neve” que ‘Pedro’ diz ser consequência de “falta de disciplina, motivação e de um objetivo traçado”.

Miguel Medeiros

Miguel Medeiros tem 26 anos e é ‘motion designer’ numa empresa de arquitetura e engenharia civil.

Ao contrário de ‘Pedro’ diz que procrastina tanto no trabalho como em muitas coisas do dia a dia, sejam banais ou com alguma responsabilidade. E dá um exemplo ao Expresso: “há uns dias pedi uma receita médica de uns comprimidos que precisava, tinha a receita comigo e demorei cinco dias a ir à farmácia comprar o medicamento, sem nenhuma razão”.

No trabalho diz que quase só funciona à pressão. “Enquanto não é urgente, a minha cabeça deixa só passar ao lado”, o que, segundo o próprio, tem implicações na qualidade final, já que o esforço poderia ser distribuído por um longo período de tempo, e assim apenas usufrui dos últimos dias.

Ainda assim, usa um truque para tentar dar a volta à sua vontade de procrastinar: “tenho um diálogo comigo próprio para me fazer perceber que estou a procrastinar e que nada o justifica”, mas nem sempre resulta, especialmente quando se sente mais frágil psicologicamente.

‘Tiago’

‘Tiago’ - nome fictício - é estudante de mestrado e trabalha, em simultâneo, no setor da tecnologia. Diz que as causas da sua procrastinação se devem à ansiedade e falta de disciplina.

O Expresso pediu-lhe para destacar alguns exemplos de alturas em que procrastina, pergunta à qual respondeu prontamente: “infinitos exemplos” e procedeu a nomeá-los destacando as tarefas de casa, vontade de se inscrever no ginásio, – que procrastina desde 2021 – ou responsabilidades como a inspeção ao carro e os trabalhos da faculdade, que “ficam sempre para os últimos dias”.

No emprego acaba por não procrastinar, já que tem ‘deadlines’ diárias a cumprir e gosta do que faz. No estudo acontece o contrário. “Uma vez não fui a um exame porque procrastinei o estudo, e quando comecei já era tarde de mais e acabei por desistir, não fui, fiquei em casa”, exemplifica.

Explica que procrastina para se manter na sua zona de conforto – porque “é chato fazer isto agora”, mas acaba por aumentar a sua ansiedade, já que “tê-las lá no cantinho da cabeça acaba por não a ajudar”.

Não sente que a procrastinação afete as suas relações pessoais, mas afeta a sua relação consigo mesmo: “sinto que me estou constantemente a sabotar”. Ao fim ao cabo, pode ser chamado um ‘profeta do falhanço’, como descrevia a psicóloga Liliana Dias ao Expresso.

Revê-se nestes testemunhos? Para o ajudar, a psicóloga preparou uma lista de dicas para começar a lutar contra a procrastinação.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: taribeiro@expresso.impresa.pt

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