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Menstruação, contraceção, rastreios e exames: as perguntas que não pode deixar de fazer quando for ao médico

Menstruação, contraceção, rastreios e exames: as perguntas que não pode deixar de fazer quando for ao médico
Ariel Skelley

A saúde de quem nasce com útero pode ser muito complexa. Da menstruação à contraceção, sem esquecer o rastreio do cancro do colo do útero ou da mama, há assuntos que não podem ficar esquecidos na ida ao médico

Vírus do papiloma humano, citologia, dismenorreia - são jargões médicos que qualquer mulher, incluindo as mais novas, deveria conhecer. Pode haver uma certa vergonha em ir ao médico falar de menstruação ou sexualidade, mas não tem de existir. A saúde de quem nasce com útero pode ser muito complexa e ainda na idade infantil, na pediatria, há assuntos que não podem ser esquecidos nas consultas médicas.

Por este motivo, o Expresso esteve à conversa com Nádia Sepúlveda, médica de família e autora do recém publicado “Livro do Bem-Estar e Saúde da Mulher”, que ajudou a perceber os primeiros passos que devem ser seguidos no médico e os primeiros exames a serem realizados quando e de quanto em quanto tempo.

Quando devo ir a uma consulta? E o que é preciso abordar na ida ao médico?

Os médicos de família e pediatras, grosso modo, têm conhecimento suficiente para as primeiras consultas de saúde da mulher, isto é, quando aparece a menstruação. “Deve-se ir logo na primeira menstruação, para perceber se está tudo bem, para se explicar o funcionamento do ciclo, que nos primeiros meses ou mesmo anos é natural haver irregularidades, para falarmos das formas de segurança do ponto de vista do uso de recoletores de menstruação, nomeadamente os pensos”, explica a médica.

Um dos aspetos importantes de abordar - seja no primeiro contacto ou não - é a definição de “ser regular". “Ser regular não é ser sempre no mesmo dia do mês, depende de ciclo para ciclo e podemos variar dentro da normalidade”, esclarece.

O senso comum diz-nos, por vezes, que cabe aos pais fazerem estas explicações, mas segundo Nádia Sepúlveda, os pais “muitas vezes não têm esse tipo de literacia”, que lhes permita ensinar algo como o tempo com que se deve ficar com o penso, ou até mesmo para “prevenir o síndrome de choque tóxico que está muito associado ao uso de tampões”.

Além do mais, os primeiros contactos sobre o assunto podem servir para falar sobre as dores menstruais, sobre “o que é ou não natural e oferecer técnicas de alívio”. De notar que “muitas vezes chocamos com profissionais que não valorizam [a dor menstrual, ou dismenorreia no termo médico], mas se não perguntarmos se é normal ou não, não vamos ter uma resposta”.

Depois, de forma geral, ir ao médico “sempre que há alguma duvida em termos de ciclo menstrual”.

De acordo com a especialista é “também importante, quando há o início da atividade sexual, ter uma consulta sobre proteção, para aprender sobre formas de protegerem-se contra infeções sexualmente transmissíveis [IST]”. Até porque, nota a clínica, a informação prestada pelas escolas não tem a melhor qualidade.

E além de falar sobre a proteção contra IST, falar também da contraceção. “Temos opções no centro de saúde para todas as idades e há cada vez mais jovens a fazer os sistemas intrauterinos (SIU)”, um método de longo prazo que, segundo a médica, funciona bem para os jovens. “Dá mais liberdade e flexibilidade, pois vão sair à noite, vomitam e lá se vai a pílula”, explica.

De modo geral, se houver “um seguimento de medico de família com alguém que perceba minimamente de ginecologia, só há necessidade de haver reencaminhamento [para a especialidade] quando há patologias que o médico já não consegue lidar”, esclarece a médica, referindo-se a doenças como a endometriose, síndrome dos ovários policísticos ou mesmo a existência de células malignas. No limite, “uma mulher pode passar a vida toda sem ir ao ginecologista se estiver a ser bem seguida” ser bem seguida significa ter um médico de família atribuído no centro de saúde e esse médico perceber do assunto.

No entanto, caso não haja esse acompanhamento ideal, deve-se “procurar o ginecologista no privado, por exemplo, quando se tem a primeira relação sexual ou pouco depois disso e depois ir com alguma regularidade”. “Há pessoas que vão todos os anos porque efetivamente não têm médico de família”, conta.

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Que exames devo fazer?

Para as mais novas não há muitos exames a fazer - sem ser os de saúde geral que por vezes são recomendados pelos médicos. Por exemplo, um dos exames mais comuns é a ecografia ginecológica, um exame que não é obrigatório e que não é feito como rastreio. Ainda assim, muitas jovens são submetidas a este exame. Este exame é, geralmente, feito perante a existência de alguns sintomas como hemorragia, infeção, miomas, massas ou quistos, explica Nádia, mas “por rotina não ha nenhum rastreio que seja feito a certas idades”.

“A ideia que muitas vezes é perpetuada é que ‘quantos mais exames melhor, assim sei que está tudo bem’, mas fazer exames só por si é um stress”, indica a médica de família.

Apesar disso, há sim exames que devem ser feitos, nomeadamente o exame de rastreio ao cancro do colo do útero, que continua a ser feito mesmo que uma grande parte dos jovens já esteja vacinado para a HPV (vírus do papiloma humano). “A vacina protege contra nove tipos de cancro e dentro desses nove há sete que são de alto risco, os que causam a maioria dos cancros, e as outras duas são para verrugas e semelhantes, coisas que ninguém quer também”, começa por explicar a especialista. Contudo, há mais tipos deste vírus, ainda que com menor probabilidade de causar cancro, e é mesmo por isso que se continua a fazer o rastreio.

Há dois tipos de rastreio para este vírus. “Uma coisa é o rastreio populacional, que está instituído para toda a população, começa aos 25 anos e é feito de cinco em cinco anos. Aos 25 fazemos a pesquisa dos HPV e depois temos o resultado. Depois há o rastreio individual [muitas vezes feito no privado, mesmo antes dos 25 para quem já iniciou a atividade sexual], que é um teste mais simples que é só ver as células ao microscópio e se houver alguma alteração o exame vai detetar”, não sendo tão aprofundado como o outro no processamento - mas a colheita é feita da mesma forma. Este último tipo de citologia deve ser feito de três em três anos.

No que diz respeito à mama, a palpação já não é recomendada como rastreio, indica Nádia, mas ainda assim é um exame que se pode começar a fazer ainda em idade jovem, assim que começa a menstruação. “Devemos na mesma explicar a técnica e se virem algo diferente devem falar com os pais ou médicos. A maior parte das vezes o que acontece é que a patologia, na faixa etária jovem, é, felizmente, tudo benigno; são quistos que flutuam com o ciclo menstrual, às vezes têm de ser retirados, ou então adenomas que também não tem problema nenhum.”

Para rastreio do cancro da mama, é importante olhar para os fatores de risco da pessoa, mas de modo geral deve-se fazer uma mamografia a partir dos 50 - pode ser mais cedo, conversando com o médico - de dois em dois anos e “normalmente termina por volta dos 70 anos”.

A médica relembra ainda que, também a partir dos 50, existe o “rastreio do cancro do intestino e do reto, que pode ser feito por pesquisa de sangue oculto nas fezes, e é de dois em dois anos até aos 74, ou então a colonoscopia, de 10 em 10 anos, se estiver tudo bem”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: rrrosa@expresso.impresa.pt

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