Em 2011, quando jogava no Real Madrid, Cristiano Ronaldo participou num documentário intitulado “Ronaldo Tested to the Limit”, onde todas as suas capacidades — velocidade, técnica, reação ou capacidade de antecipação — eram levadas ao limite. Uma das provas consistia em cabecear uma bola sem a ver. Primeiro, tendo ainda possibilidade de ver o cruzamento antes de as luzes se apagarem. Depois, já nem isso, apenas escuridão total. Ronaldo conseguiu acertar várias vezes, mais no primeiro do que no segundo exercício. Foi notável ainda que, como seria de esperar, o desempenho tenha ficado longe dos voos que nos habituou nos relvados de todo o mundo quando joga de olhos abertos. O exercício era dificílimo e Ronaldo mostrou porque é um dos melhores de sempre no desporto-rei.
Fazer previsões a 48 meses é, no mínimo, tão difícil quanto acertar numa bola em movimento sem a ver. É sempre assim com qualquer previsão: alarga-se a distância temporal e aumenta a probabilidade de erro. Mas, neste caso, é como se estivéssemos no teste de Ronaldo sem sequer ver a bola partir, porque toda a incerteza que vivemos hoje — sobre a distribuição e administração da vacina ou sobre como e quando a imunidade de grupo será conseguida — deixa-nos quase às cegas sobre como vamos chegar ao fim de 2021. Pior ainda, pouco ou nada nos diz sobre como poderá ser a recuperação nos próximos anos. Claro que os economistas fazem sempre previsões e trabalham com cenários. Neste caso, o cenário central é que a economia recupere gradualmente a partir de 2021 — em Portugal, na Europa e na generalidade dos países — à medida que a pandemia vai sendo debelada.
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